A noite da coruja – “corujada noturna”, uma noite inesquecível!
(8 fevereiro 2017)
Coluna AQUI AFONSO CLÁUDIO – Dinah Lopes, jornalista
NEC = Nota do Editor Chefão, Don Oleari –
Uma vocacionada preservacionista, militante pelas causas ambientais, no bótimo texto a seguir Dinah Lopes exibe seu rumo.
A curiosidade a leva a uma empreitada desconhecida, a um caminho no escuro no meio do mato. No meio do nada? Não, no meio do tudo. A busca dos observadores pela tal coruja é interrompida pela bióloga:
– “É aqui que vamos esperar a coruja”.
Dinah respira fundo, imaginando o momento maior, o encontro com a espécie rara de coruja. Vale a pena percorrer cada palavra de cada linha do seu texto. O Portal Don Oleari se sente privilegiado por levar pro mundão da inferneti este texto inédito e exclusivo. E agradecido por Dinah nos conceder a honra da exclusividade. Degustem (Don Oleari).
A noite da coruja – Dinah Lopes
“Corujada noturna”. Esse termo, por si só, já desperta especulações sobre o seu significado. Dentro das ações de um evento, então, ele ativa ainda mais o imaginário de quem desconhece o assunto. Foi o que aconteceu em agosto de 2013, no I Seminário de Turismo de Observação de Pássaros, realizado em Afonso Cláudio (ES). Na programação, constavam como destaques as “corujadas noturnas” nas matas da região.
Eu nunca havia ouvido falar em “corujada”. De imediato me despertou a curiosidade. A floresta à noite já é um cenário inspirador. Tendo como protagonista a coruja, um pássaro místico de muitas estórias, a imaginação cria asas e voa longe.
Movida pelo desejo de desvendar o que seria a tal “corujada noturna”, aproveitei o fato de ajudar na divulgação do Seminário e decidi acompanhar um grupo de observadores de aves inscritos no tal evento. Eram homens e mulheres de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Trajando roupas camufladas e portando equipamentos fotográficos poderosos, tinham como guia a bióloga Cláudia Pimenta.
A noite estava apropriada para a aventura, iluminada pela lua, sem chuva e vento e com uma temperatura agradável. Seguindo os passos da bióloga e em fila indiana, nos embrenhamos por um matagal na localidade de Arrependido. Percorremos silenciosamente uma trilha até entrar numa mata escura, onde penetravam apenas alguns rasgos de luz irradiada pela lua.
A noite da coruja
Paramos em frente a uma árvore frondosa. Ali, a guia quebrou o silêncio, virou-se de frente para o grupo e apontou para um dos galhos da árvore. Como quem promete uma ficção, disse que receberíamos a visita da coruja naquele ponto, em meio à escuridão e à quietude da floresta. A espécie anunciada era a murucututu-de-barriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana), ave noturna de grande porte encontrada na Mata Atlântica.
Tendo em suas mãos um holofote e um gravador com o canto da espécie, Claudia Pimenta foi didática:
– “Eu ligarei o som, a coruja responderá e virá pousar neste galho. Vocês estejam com as câmaras fotográficas preparadas, pois será muito rápido. Quando ela chegar, irei iluminá-la para que as fotos sejam feitas”.
Mais do que uma síntese antecipando a “corujada”, aquela explicação aumentou ainda mais as expectativas do grupo. Enquanto os participantes mantinham-se calados e ajustavam as câmaras dentro da mais absoluta tranquilidade, para evitar qualquer perturbação do ambiente, eu tive dúvidas se aquilo iria realmente acontecer.
Quando todos estavam prontos, a bióloga deu início à sua missão. Acionou o play do gravador e fez ecoar um canto que irradiava pela noite e mata adentro. Como que por encanto, começamos a ouvir um cântico, bem longínquo, brotando do interior da floresta. Era a resposta da coruja, que iniciava ali um diálogo melódico com o gravador.
E foi assim sucessivamente. Cada vez que a guia repetia o play daquele gorjeio gravado, a coruja respondia do outro lado. Com os ouvidos atentos, fomos percebendo que ela se aproximava gradativamente.
Sem dizer nada, entre sombras noturnas, trocávamos olhares de ansiedade sobre o desfecho daquela estranha conversa de cânticos misteriosos. O grupo parecia inquieto, tomado pela emoção e incerteza.
Não podíamos ver a coruja, mas pelo volume crescente do canto, percebíamos que ela vinha, vinha, vinha… em nossa direção, até que pousou solitária e majestosa no mesmo galho apontado inicialmente pela bióloga.
Me impressionou o tamanho da ave, com cerca de 50 cm de altura. Chegou enigmática, com o seu olhar marcante e a plumagem num matiz de cores entre o bege e o marrom escuro. Olhou para baixo como se procurasse o seu interlocutor. Manteve-se imóvel por instantes que, hoje, parecem eternos na memória.
Como numa relação de causa e efeito, a bióloga acendeu rapidamente a lanterna, abrindo uma cortina de luz sobre o pássaro. Simultaneamente, os fotógrafos dispararam suas câmeras e registraram as imagens possíveis até a coruja bater asas e penetrar de volta na escuridão da floresta, levando embora o seu canto e deixando todos perplexos com aquela visita efêmera.
A incredulidade deu lugar à comemoração entre os integrantes do grupo. Festejando o feito, um mostrava sua imagem para o outro e fazia comparações. Entre os observadores participantes, a guia passou a ser chamada de hipnotizadora de corujas. Para mim, aquele poder mágico contribuiu ainda mais para reforçar as lendas de uma ave tão mística e simbólica, companheira da noite, da lua e das florestas (Dinah Lopes).
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