Álvaro Silva | Um tal de “movimento democrático militar”

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Álvaro Silva

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No 1º de abril de 1964 minha mãe, que morava em São Paulo juntamente com todo o restante da família, ligou para Vitória na hora do almoço, o que não era fácil.

Queria saber de mim e conversei com ela rapidamente. Tive que ouvir o relato sobre um tal de “movimento democrático militar” que estava assumindo o poder no Brasil em lugar do “outro”. Pediu-me para ficar em casa. Então almocei juntamente com meus avós – eram pais de mamãe – e fomos ver televisão.

Nos velhos tubos de imagem que nos traziam o preto e branco cheio de chuviscos e sombras tomamos conhecimentos da deposição do presidente João Goulart no linguajar de justificativas que os militares já estavam controlando.

Ainda não se tinha a exata noção do que estava acontecendo, mas de boca em boca já se ouvia que o presidente não se encontrava mais em Brasília (estava a caminho do Rio Grande do Sul) e que logo um presidente interino (Paschoal Ranieri Mazzilli) assumiria a presidência (por 13 dias, até a posse de Humberto de Alencar Castelo Branco).

Tudo era confuso, principalmente numa Vitória provinciana de meados da década de 1960. Meus velhos logo foram dormir a sesta de todos os dias e recomendaram a mim não sair de casa naquele dia. Saí tão logo eles dormiram.

Subi a rua Francisco Araújo passando ao lado do prédio da Legião Brasileira de Assistência (LBA) e saí na lateral do Palácio, a que dá para a Praça João Clímaco e ao lado da casa da família Barbosa Leão, hoje pertencente à Academia Espírito-santense de Letras e chamada de Casa Kosciuszko Barbosa Leão. Aparentemente estava tudo calmo, apenas com uma quantidade de soldados bem maior que o normal para a segurança da sede do governo estadual.

O governador Francisco Lacerda de Aguiar, o Chiquinho, não estava na rua. Consta que em seu gabinete palaciano, poucos dias antes ele havia dado entrevista e dito que ficaria ao lado do presidente João Goulart para o que acontecesse.

O que desse e viesse… Mas já eram dias perigosos! Segundo o anedotário de então, naquela manhã do golpe militar o comandante do 38º BI telefonou para ele. A conversa teria sido rápida: “Governador, fui incumbido de perguntar ao senhor de que lado está?”. Ele respondeu de pronto: “Estou ao lado da Escola Normal!”. A velha Escola Normal Dom Pedro II, de tanta saudade para mim…

Sentado em um dos bancos da praça, olhei para o prédio da Assembleia Legislativa ao lado e decidi andar em direção à Praça Oito de Setembro, descendo pela Escadaria Bárbara Lindenberg e dobrando à esquerda.

Gostava muito de andar na região da Praça Oito, no centro velho de Vitória, para onde ia, dentre outras coisas sempre que precisava postar uma carta.

Lá ao lado, na Avenida Jerônimo Monteiro, ficava a principal agência dos Correios.

Sim, era época de cartas…

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Edição, Don Oleari – [email protected] | https://twitter.com/donoleari

 

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