Rubens Pontes | Amâncio Pereira: quando nem sempre os melhores são os mais reconhecidos | 22/10

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COLUNA AQUI RUBENS PONTES

MEUS POEMAS DE SÁBADO

 

 

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francisco aurélio ribeiro

O Editor Chefão do Portal Don Oleari concedeu aval ao Colunista para absorver informações do excelente trabalho do Professor Francisco Aurélio Ribeiro, exponencial figura da inteligência criativa no campo da  literatura do Espírito Santo, sobre Amâncio Pereira (1862 – 1918), importante personagem desse mesmo cenário a partir do século XIX (19) – https://morrodomoreno.com.br/materias/amancio-pereira-um-esquecido-por-francisco-aurelio-ribeiro.html

 AMANCIO_03.jpgAmâncio P. Pereira, professor, jornalista, historiador – o mais importante escritor de sua época, autor de poemas, contos, novelas, romances, artigos, almanaques e livros didáticos. Consagrou-se como dramaturgo por suas comédias, dramas, revistas e operetas, encenados nos teatros de Vitória por mais de trinta anos, de 1890 a 1920.

Foto de capa de livro do acervo da Academia Espírito-santense de Letras.

No entanto, seu nome e sua obra são, hoje, praticamente desconhecidos pela maioria da população capixaba. De sua vasta obra literária, informativa e didática, só se encontram algumas poucas em nossas bibliotecas. Nenhuma antologia de poemas contempla sua obra poética, ou mesmo a de prosa.

Por sua origem humilde, sem ter escolarização superior e ser descendente de negros, sofreu discriminação social, cultural e racial e, talvez por isso, sua obra, sobretudo a literária, tenha sido menosprezada pelos historiadores da literatura produzida no Espírito Santo.

Ainda estudante, aos 16 anos de idade, fundou, juntamente com outros colegas, o Clube Saldanha Marinho, de feição republicana, manifestando-se, desde moço, em favor da abolição da escravatura na imprensa de sua província.

Foi fundador e redator de dois jornais: Sete de Setembro e a Gazeta Literária. Colaborou em outros jornais como O Espírito-santense, Gazeta da Vitória, Gazeta do Itapemirim, Pyrilampo, Comércio do Espírito Santo, Echo da Lavoura, Autonomista, A Tribuna, Jornal Oficial, Diário da Manhã, Nova Senda, Regeneração, Meteoro, O Semanal, O Lidador, O Combate, Alvorada. Colaborou também com a revista A Ordem e com a revista humorística O Olho, de Luiz de Fraga Santos e Aristóteles da Silva Santos.

Pertenceu à Societé Academique de Histoire Internacionale de Paris, ao Instituto Histórico da Bahia, ao Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, ao Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba e ao Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.

Segundo Oscar Gama Filho, em “Teatro romântico capixaba” {1987), foi o primeiro dramaturgo brasileiro a escrever peças teatrais dedicadas ao público infantil – (Verbete do livro Patronos & Acadêmicos da Academia Espírito-santense de Letras).

Nascido em Vitória no dia 8 de abril de 1862, morreu de colapso cardíaco também na Capitalno dia 13 de agosto de 1918. A escritora Maria Stella de Novaes registrou:

“Faleceu o Prof. Amâncio P. Pereira, educador emérito e devotado cultor da História do Espírito Santo. Raramente, verificou-se préstito fúnebre tão numeroso e comovente, justa homenagem aos predicados do extinto”.

Afonso Claudio, em “História da Literatura Espírito-santense, publicado em 1912,  afirmou sobre Amâncio Pereira, seu contemporâneo de “Ateneu Provincial”:

“Como quer que seja, parece-me que é de justiça conferir a Amâncio Pereira o mérito de haver iniciado em sua terra a aclimação do romance e da novela e continuado a desenvolver a cultura da arte teatral pelo drama e pela comédia”.

Oscar Gama Filho, estudioso de sua obra teatral, afirma ter sido Amâncio Pereira “o primeiro dramaturgo brasileiro a escrever peças teatrais especificamente dirigidas ao público infantil. O que caracteriza esta especificidade do texto é pura e simplesmente o fato de o próprio Amâncio ter se valido da expressão “revista infantil” para classificar as peças Ano Novo (escrita e encenada em 1915) e Vitória de relance (escrita e encenada em 1916”. (In: Teatro romântico capixaba, 1987, p. 157).

Todavia, apesar dessa laboriosa e multifacetada produção literária, a obra do Professor Amâncio Pereira caiu no esquecimento, e hoje muitos capixabas, mesmo os acadêmicos, pouco conhecem de sua vasta produção.

Seu nome foi dado a uma escola em São Mateus e a uma das ruas do bairro Jucutuquara, em Vitória/ES;

em 1962, no centenário de seu nascimento, a Assembleia Legislativa realizou sessão solene em sua homenagem quando a deputada Judith Leão o chamou o “Pestalozzi Capixaba”, e o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, do qual foi um dos fundadores;

a Academia Espírito-santense de Letras fez exposição de suas obras na Livraria Âncora, com palestra do Prof. Nelson Abel de Almeida; no jornal A Gazeta, saiu o artigo “Amâncio Pereira e o nosso folclore”, do Prof. Guilherme Santos Neves.

Na década de 1980, sua obra teatral foi trazida à luz pela pesquisa do psicólogo e estudioso da literatura do Espírito Santo, Oscar Gama Filho, em “Teatro Romântico Capixaba”.

Em 1988, paralelamente ao IV Festival Capixaba de Teatro Amador, organizado pela Fecata – Federação Capixaba de Teatro Amador – desenvolveu-se o Projeto Amâncio Pereira, de leituras dramáticas, uma delas de Amâncio Pereira, “O tio Mendes”, de 1890.

Daí pra frente, não mais se ouviu falar o nome de Amâncio Pereira no ES, lacuna que buscamos preencher.

“Obscuro por nascimento”, como dele afirmou Afonso Claudio, filho natural de Maria Teresa dos Remédios, provavelmente uma mulher negra, não se sabe se escrava ou liberta.  Não se lhe conhece o pai, e, provavelmente, o nome foi herdado de Antônio Rodrigues Pereira, casado com Francisca Pinto Pereira, sua tia, falecido em 30 de agosto de 1884..

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Dedicatória de Heráclito Amâncio Pereira (filho de Amâncio) a Judith Leão Castello Ribeiro

O Portal Dom Oleari e todos os que aqui trabalham reverenciam com justa lembrança um nome que não pode ser esquecido, escritor, jornalista, professor, dramaturgo, que tocava piano e rabeca, promovia saraus em sua casa, que era o ponto de convergência da intelectualidade e dos artistas da época, sobretudo a mocidade, de quem era muito querido.

Por todos aqui da Casa.

Rubens Pontes, jornalista.

Capim Branco, MG

Poema homenagem a José do Patrocínio, expoente da luta contra a escravidão. A foto integra o trabalho do professor Francisco Aurélio Ribeiro para o saiti Morro do Moreno, de Walter Aguiar Filho. Heráclito Amâncio Pereira, filho de Amâncio Pereira, foi um dos fundadores da Faculdade de Direto do ES.

O Escravo

Amâncio Pereira

Cantai, mocidade, cantai sempre

Do cerúleo horizonte o seu clarão,

Detestando do mundo a entidade,

Que comercia c’a pobre escravidão.

É tempo! e no trono sacrossanto,

Tesouro maior da cristandade,

Arrancando-lhe do escravo o vil ferrete

Dai-lhe em troca o sublime: a “Liberdade”!

Espancai estas trevas enegrecidas

Em que vê-se somente a tirania;

Deixai que irmão nosso sem ventura,

Veja ao menos com prazer a luz do dia.

Deixai qu’ele ao menos ore a Deus,

Tendo no coração suma alegria;

Qu’ele arranque de seu peito amargurado,

O peso do dissabor – da agonia.

Arrancai de seus pulsos as algemas

Que lhe impõe o dever do cativeiro.

Que no belo fulgir de linda estrela

Lhe acena a sorrir porvir fagueiro.

Que Cristo na sua lei divina

Não criou essa vil profanação,

Que ostenta o poder do ouro infame,

No comércio da infeliz escravidão!

Tende em vós o laurel de tanta glória.

Expargi no seu seio a “Liberdade”.

Arrancai-o do acre cativeiro,

Daí-lhe: “Pátria, Poder”, dai-lhe a “Equidade”.

(Vitória, 7/9/1882)

Registro do Portal Don Oleari

Francisco Aurélio Ribeiro, de cujo trabalho nos ilustramos, é professor e pesquisador da literatura e da cultura do Espírito Santo, escritor com dezenas de livros publicados, ocupante da Cadeira 6 da Academia Espírito-santense de Letras, da qual foi mais de uma vez presidente.

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