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Aqui Rubens Pontes: Meu poema de sábado – Cora Coralina: Aos moços; Fernando Pessoa: O andaime; Luiz de Camões: Somente se queixa de amorosas esquivanças

 

Por que na peste bubônica médicos usavam máscaras com “bico de pássaro”? Naquela época, acreditava-se que a vestimenta (que não incluía apenas a máscara) poderia purificar o ar envenenado — balela pura

 

A peste e a política parecem ter urdido um pacto para cutucar nossa consciência e nos levar a uma dolorosa introspecção: até que ponto somos responsáveis por essa turbulência que sacode as bases de uma sociedade por si só tão sofrida?

Nossa indiferença?

Nossa falta de fé?

Nossa busca desenfreada pela riqueza que nos dá poder?

Tudo isso é a implacável resposta de um mundo que decidiu não se comportar com a ideia original do Gênesis na formação de um homem à imagem e semelhança de Deus.

Ao contrário, o homem decidiu criar um Deus à sua própria imagem e semelhança.

O Corona Vírus faz repetir no tempo a consequência dessa postura do homem-Deus que passou a tratar o mundo como objeto de sua própria criação:

Um quintal da casa de cada um.

Se a linguagem é impessoal, corrija-se: o homem somos todos nós. A Peste Bubônica, causadora da Peste Negra, não terá sido a primeira resposta à nossa soberba, matando, entre 1333 e 1351, mais de 50 milhões de pessoas.

As respostas às nossas ações predatórias se sucederam com a Varíola, vitimando entre 1896 e 1980 cerca de 300 milhões de pessoas em todo o Mundo;

Cólera levou à morte milhares de pessoas na sequência do tempo em apenas um ano, entre 1918 e 1919, a Gripe Espanhola vitimou 20 milhões de pessoas, entre elas o presidente brasileiro Rodrigues Alveso Tifo matou, entre 1918 e 1922, 3 milhões de pessoas;

a Gripe Suína foi a primeira pandemia do Século XXI, e seu contágio, como o Corona Vírus, se dava por gotículas respiratórias e em superfícies contaminadas.

A Febre Amarela, mais recente, causou a morte de 30 mil brasileiros entre 1960 e 1962, e a tuberculose, doença quase romântica de uma geração, matou, entre milhares de pessoas, algumas das melhores figuras da criação literária brasileira.

Em sequência, o Sarampo, erradicado em 1963, com aplicação de vacina, e a Malária, controlada desde 1980, depois de provocar, por ano, a morte de 3 milhões de infectados.

Ainda nestes conturbados tempos, a AIDS já levou à morte, desde 1981, mais de 22 milhões de pessoas. 

Agora, é vez do Corona Vírus, encarado com seriedade e medo em todos os países dos 5 Continentes e entre nós motivo de confronto político entre os detentores do Poder liderados por Homens-Deus, e a classe científica do Deus-homem.

Enquanto isso, mortes se sucedem em ritmo acelerado, sem perspectivas de ter um fim.

Nossa fuga é a consciência de que medidas profiláticas corretamente implantadas podem reduzir o impacto da virulência até agora incontrolada.

E principalmente que Deus-Homem venha em nosso quase imerecido socorro, como outras vezes já o fez em gerações passadas.

Com a fé que anima o pessoal aqui do Portal, cumpre a Coluna sua destinação, desculpando-se pela catilinária imposta como desabafo comum a todos nós, com a publicação de poemas com mensagens capazes de nos reconduzir ao país dos nossos sonhos.

Luiz Vaz de Camões: SOMENTE SE QUEIXA DE AMOROSAS ESQUIVANÇAS’

Fernando Pessoa: O ANDAIME

Cora Coralina: AOS MOÇOS.

Rubens Pontes
Capim Branco, MG,

jornalista

Ofertas de Aninha (Aos moços)

Cora Coralina

Eu sou aquela mulher

a quem o tempo

muito ensinou.

Ensinou a amar a vida.

Não desistir da luta.

Recomeçar na derrota.

Renunciar a palavras e pensamentos negativos.

Acreditar nos valores humanos.

Ser otimista.

Creio numa força imanente

que vai ligando a família humana

numa corrente luminosa

de fraternidade universal.

Creio na solidariedade humana.

Creio na superação dos erros

e angústias do presente.

Acredito nos moços.

Exalto sua confiança,

generosidade e idealismo.

Creio nos milagres da ciência

e na descoberta de uma profilaxia

futura dos erros e violências

do presente.

Aprendi que mais vale lutar

do que recolher dinheiro fácil.

Antes acreditar do que duvidar.

O Andaime

Fernando Pessoa

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura, anônimo e frio,
A vida vivida em vão.

A esperança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha esperança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.

Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só lembranças
Mortas, porque hão de morrer.

Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser muro
Do meu deserto jardim.

Ondas passadas, levai-me
Para o alvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.

Somente se Queixa de Amorosas Esquivanças

Luiz Vaz de Camões

Ditoso seja aquele que somente
Se queixa de amorosas esquivanças;
Pois por elas não perde as esperanças
De poder nalgum tempo ser contente.

Ditoso seja quem estando ausente
Não sente mais que a pena das lembranças;
Porqu’inda que se tema de mudanças,
Menos se teme a dor quando se sente.

Ditoso seja, enfim, qualquer estado,
Onde enganos, desprezos e isenção
Trazem um coração atormentado.

Mas triste quem se sente magoado
De erros em que não pode haver perdão
Sem ficar na alma a mágoa do pecado.

Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”

Leia mais:

Cinco epidemias que ajudaram a mudar o rumo da história

https://www.bbc.com/portuguese/geral-51961141

O fantasma da varíola | Artigo
Drauzio Varella

https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/o-fantasma-da-variola-artigo/

Na história das epidemias, até salmonela já foi grande vilã

Peste negra devastou um terço da população europeia na Idade Média.
Conheça algumas das principais epidemias já enfrentadas pelo homem.

http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1101132-16107,00-NA+HISTORIA+DAS+EPIDEMIAS+ATE+SALMONELA+JA+FOI+GRANDE+VILA.html

Don Oleari - Editor Chefão

Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
Don Oleari Corporeitcham

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