MOMO ALONGA SEU REINADO PAGÃO INVADINDO CELEBRAÇÕES CRISTÃS
O Carnaval não se limita mais aos três dias tradicionais, encerrando os festejos numa terça-feira para início da Quaresma, na quarta-feira imediata.
O que se registra nestes novos tempos, são comemorações que se iniciam quase uma semana antes da data oficial, invadindo os espaços das celebrações cristãs da Quaresma, na quarta-feira de cinzas.
Quaresma é a designação do período de quarenta dias que antecedem a principal celebração do cristianismo: a Páscoa, a ressurreição de Jesus Cristo.
É uma prática presente na vida dos cristãos desde o século IV.
Segundo a Carta Apostólica do Papa Paulo VI, a Quaresma passou a ter seu início na Quarta-feira de Cinzas para terminar antes da Missa Lava-pés, na Quinta-feira Santa.
(A quarta feira de cinzas é um dia usado para lembrar o fim da própria mortalidade).
Na Bíblia, o número quarenta é frequentemente citado, para representar períodos de 40 dias ou 40 anos, que antecedem ou marcaram fatos importantes.
Alguns exemplos mais conhecidos são:
- 40 dias de dilúvio da Arca de Noé;
- 40 dias de Moisés no Monte Sinai (à esquerda);
- 40 dias de Jesus no deserto, antes do início do seu ministério;
- 40 anos de peregrinação do povo de Israel no deserto.
O período de 40 dias tem implicações maiores.
Inicialmente, cerca de duzentos anos após o nascimento de Cristo, os cristãos começaram a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum.
Por volta dos anos 350, a Igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta dias, período reverenciado pelos cristãos de todos os Continentes.
Confessando embora não ter se persignado com o sinal da cruz de cinzas na testa, nem o colunista, nem seus companheiros de redação e creio que até o Poderoso Chefão envolvido em muitas atividades – nenhuma delas pagã – deixaram de respeitar a data.
E testemunham essa postura escolhendo para publicação neste sábado um poema do dominicano Frei Beto, voltado contristo para essa passagem tão significativa da História da humanidade.
Um poema que é uma oração.
Rubens Pontes
Capim Branco, MG
ENTRO NA QUARESMA SEM FANTASIA
Frei Beto
Entro nesta Quaresma sem fantasia, disposto às abstinências que resgatam, no mais íntimo de mim mesmo, a minha verdadeira identidade.
Calarei a língua ferina e não macularei a fama alheia exposta em público no varal de minhas cordas vocais.
Não darei ouvidos a inconfidências, nem ao ruído ensurdecedor das palavras vãs de quem só escuta a própria voz.
Fecharei o olhos para ver melhor e abrirei as janelas à revoada dos anjos.
Contemplarei as montanhas ocas de minha terra e derramarei uma lágrima por seus úteros arrancados e sonegados ao meu povo.
Nesta Quaresma, riscarei de meu dicionário o vocábulo competitividade e com aquarelas de utopias gravarei no coração solidariedade.
Irei ao encontro de quem ainda luta por direitos animais:comer, beber, educar a cria e abrigar-se das intempéries. Só assim costurarei minha humanidade esgarçada.
Jejuarei da ânsia consumista e ofertarei meu supérfluo tão necessário ao próximo. Abrirei a janela do carro e afagarei as crianças de rua, filhos de minha imobilidade frente a tantas injustiças.
Pagarei, com juros, a minha dívida social. Farei de Jesus parceiro de aventuras e deixarei que o seu Espírito engravide o meu.
Buscarei o silêncio orante e meditarei para inebriar-me da espiritualidade do conflito.
Adotarei o Sermão da Montanha como estatuto pessoal e assim acertarei meus passos nas trilhas da vida.
Arrancarei toda erva daninha – ciúme, inveja, ira – do canteiro de meus amores e cultivarei copas frondosas de quaresmeiras coloridas de ternura.
Serei perdulário com o bom humor e espalharei alegria como o ar que nos é dado a respirar.
Nesta quaresma, participarei da Campanha da Fraternidade na defesa da vida e contra o Tráfico de Seres Humanos.
Desfraldarei a bandeira de minha indignidade e revelarei esperanças que,
olhos no futuro, me fazem acreditar num belo horizonte.
Peregrino, solitário e solidário, irei às fontes do Transcendente. Ao encontrar meu próprio poço, mergulharei como um menino em suas águas profundas, até que o Pai de Amor me acolha em seus braços, dando-me de beber o vinho pascal do homem novo e da mulher nova.
– Passos, saltos & queda – Linki pra ler Passos, Saltos & Quedas, de Rubens Pontes.
http://online.anyflip.com/mitk/xjqj/mobile/index.html?fbclid=IwAR39mt-wlzHGKBAeTSG7cZOD4etEr38ocVyHkE-rPKkwvhpfI8qfvf7khLE#p=10