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Aqui Rubens Pontes – Meu poema de sábado – Festa na sombra e Arpejo, de Haydée Nicolassi

 

“A vida não foi uma festa para Haydée Nicolassi”, escreveu Carlos Drummond de Andrade, admirador de sua obra, por ocasião da morte da poeta, tradutora e contista capixaba, em 1970.

 

Núcleo de Estudos e Pesquisas da Literatura do Espírito Santo (Neples) realizou dia 19 de junho de 2018 Seminário sobre a escritora Haydée Nicolussi.

 

Ainda assim, superando problemas relacionados principalmente com seu comportamento político,

a capixaba de Alfredo Chaves, onde nasceu no dia 14 de dezembro de 1905, se tornara um dos mais importantes expoentes da literatura brasileira,

com seu nome alçado às glórias da fama também além das nossas fronteiras.

A futura grande escritora e poeta fez seu curso normal no Colégio do Carmo e no Rio de Janeiro,

para onde foi com a família na década de 30, estudos de Museologia no Museu Histórico Nacional,

tornando-se funcionária do Museu Nacional de Belas Artes.

Nessa época, viajou até a França onde cursou e foi diplomada no “Cours de Civization Française” na Universidade de Sorbone, em Paris,

e no Centro de Estudos Pedagógicos, em Sèvres. Como bolsista da Divisão Cultural do Itamati frequentou aulas de nível superior no Castelo de Saint Remy-Cheveuses.

Foi ainda entre nós que Haydée Nicolassi iniciou sua participação no campo da inteligência criativa, publicando seus trabalhos nas revistas “Vida Capixaba” e “Canaã”,

que lhe valeram eleição para ocupar a cadeira 6 da Academia Feminina Espírito-santense de Letras (* veja nota no final).

No Rio de Janeiro, escreveu nos principais jornais da então Capital da República e editou sua principal obra literária, já integrada nos meios dos

mais respeitados nomes da literatura brasileira..

Nunca se furtou a escamotear suas ideias liberais numa fase de turbulência política no País e pagou caro por isso. Detida pela polícia de Getúlio Vargas,

foi trancafiada em uma cela do cárcere feminino de presas políticas do complexo Presidiário Frei Caneca, onde conviveu, na mesma cela número 4, com Olga Benário, mulher de Luiz Carlos Prestes.

Haydée Nicolassi morreu aos 65 anos de idade, deixando como legado uma obra traduzida para o espanhol, francês e inglês

que tornou mais conhecida e valorizada, nos centros mais adiantados do Mundo , a produção literária brasileira.

Estação Ferroviária de Mathilde, em Matilde, Alfredo Chaves, onde se realizou (07 e a 1ª Semana Haydée Nicolussi – Literatura, Arte e Cultura Popular de Alfredo Chaves.

O Portal Don Oleari rende suas homenagens a um dos mais importantes cultores da cultura capixaba,

selecionando para leitura neste sábado dois poemas de Haydée Bourguignon Nicolassi: Festa na sombra e Arpejo.

Rubens Pontes
Capim Branco, MG.

Festa na Sombra

Por que as mãos se apertam assim geladas?
E essas auroras sem sol? E essas noites sem lua?
Música, chora sozinha no escuro de minha inocência morta:
O Mal tem tanto poder quanto o Bem e quebrou
os lampadários de Deus nas almas angustiadas.

Peregrinos da sombra caminhamos
numa alegria contraditória e constrangida:
– esbanjamos energias em favor dos saciados.
Racionamos a fé entre vidas vazias.

Ah! Nunca seremos puros bastante para a fusão total.
Niké, perderás a cabeça, como sempre, ao fim de todas as batalhas…
Teu sorriso, Augias – Cresus, está oco de angústia.
Tua afirmação já não contenta ninguém: é insegura.

Senhor, que faremos de nossa ilusão estraçalhada?
Nós já sabemos tudo. Deciframos a esfinge de todos os tempos.
Não é a fé que encoraja: é o acerto na luta.
São os temperamentos ajustados.
É a liberdade de possuir ao menos o suficiente para
recusar o supérfluo, em honra aos mais dotados!

Festa na sombra de todas as horas, triste baile da esperança,
desmoranando-se em sonhos-pesadelos.
Amor? Glória? Infância? Onde a posse de nós mesmos?
Festa de ausências, de todas as ausências,
festa no escuro subterrâneo do desencanto e da dúvida.
De nada vale a luz da carne moça, que amanhece cansada,
com tanto BLACK-OUT nas almas, conscientes de sua orfandade.

Livro sobre Haidê Nicolussi, de Francisco Aurélio Ribeiro.

Harpejo

Voz do amor,

Cheia de bonança

Nesse peito rude,

Quem me fez tão mansa?

Quem pintou a lua

Tua voz macia,

Doce murmúrio

De um longínquo rio?

Em que circo mudo

Essas asas fluidas

Pulam cordas bambas

Feitas de veludo?

Gosto de escutá-la

No meu quarto escuro,

Como o arrulho morno

De uma rola viúva.

Nem teus olhos de alga

Ou teu beijo surdo

Têm mais sortilégio

Que essa voz noturna.

Voz que nem a ausência,

Nem a eternidade

Emudecerá:

Ficará ressoando

Como numa concha

Fica a voz do mar.

Haydée Nicolussi

(* Nota) – Apesar de o professor Almeida Cousin ter afirmado, em 1944, ser Haydée Nicolussi e Lydia Besouchet, ao lado de Rubem e Newton Braga, os quatro maiores valores da expressão literária capixaba, as duas escritoras foram ignoradas, ou descartadas, na fundação da Academia Espírito-santense de Letras, em 1949.

Agostinho Lazzaro é tachativo. Segundo ele, a exclusão delas se deveu à sua opção ideológica na juventude, o socialismo comunista, e o veto a elas foi dado por Judith Leão Castelo Ribeiro, deputada, política ligada à direita, escolhida primeira Presidente da Academia Feminina Espírito-santense de Letras. http://www.estacaocapixaba.com.br/2017/04/revista-vida-capichaba.html

Mais sobre a escritora no saiti de Walter Aguiar Filho, http://www.morrodomoreno.com.br/materias/a-academia-feminina-espirito-santense-de-letras-e-suas-escritoras.html

Rubens Pontes,

jornalista, escritor

– Passos, saltos & queda – Linki pra ler Passos, Saltos & Quedas, de Rubens Pontes.
http://online.anyflip.com/mitk/xjqj/mobile/index.html?fbclid=IwAR39mt-wlzHGKBAeTSG7cZOD4etEr38ocVyHkE-rPKkwvhpfI8qfvf7khLE#p=10

Don Oleari - Editor Chefão

Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
Don Oleari Corporeitcham

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