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Aqui Rubens Pontes: Meu poema de sábado: Minhas Mãos, de Fanny Crosby

 

QUANDO CEGOS ULTRAPASSAM OS LIMITES A ELES IMPOSTOS
E VOAM MAIS ALTO DO QUE NINGUÉM NOS RUMOS DO INFINITO

 

– Preclaro Don Oleari

Ao longo de minha vida, conheci e admirei pessoas cegas capazes de nos ensinar mais coisas do queas que nós enxergamos.

O pianista mineiro Arnaldo Marchezotti foi um deles. Gênio na execução de músicas clássicas, sempre atraia grande público em suas apresentações nos teatros de Belo Horizonte/MG, mas o episódio que vou narrar não aconteceu nos palcos.

Na abertura de uma exposição sobre telefones antigos, promovida pelos concessionários do serviço, percebi a presença do pianista cego acompanhado de um guia e me perguntei do que poderia ele usufruir sem ver os telefones mais antigos ou mais modernos ali mostrados.

Vi quando Arnaldo Marchezotti passou as mãos sobre um dos telefones e fez um comentário para seu acompanhante. E o ouvi dizer:
– Os telefones antigos eram mais bonitos, mais plásticos e mais coloridos.
Não resisti e perguntei:
– Mais coloridos?
A resposta:
– Sim, como este vermelho, por exemplo?
– E como você sabe que ele é vermelho?
– Pela temperatura. O vermelho é mais quente ao tato.

Um segundo episódio ocorreu numa fazenda perto da cidade de Jaboticatubas. Levado por amigos, fui conhecer um homem já idoso cego pela ação da lepra e tido como uma espécie de conselheiro pelo pessoal da redondeza.
Ele não permitia que as pessoas se aproximassem muito dele, sentado numa cadeira no fundo da sala de onde respondia as questões a ele levadas.

Fui apresentado, conversamos alguns minutos e confirmei a sabedoria daquele homem, antigo fazendeiro na região que ainda jovem fora contaminado pelo Mal de Hansen, agravado até provocar sua cegueira.
Uma semana depois fui me despedir dele . Ao entrar na sala, ao pisar no assoalho de madeira, logo aos primeiros passos, antes de dizer qualquer coisa fui reconhecido:

– Muito obrigado, “seu” Rubens por voltar aqui.
Levei um susto e me explicaram, depois, que ele reconhecia a maioria das pessoas que o visitavam mais de uma vez pelo ruído dos pés cruzando alguns metros do assoalho tosco de madeira.

FANNY CROSBY , NOME IMORTALIZADO COMO

GÊNIO CRIATIVO PARA QUEM O CÉU FOI O SEU ÚNICO LIMITE

“Então pode chorar e soluçar porque sou cega
Oh! Que menina contente sou eu
Apesar de não poder ver.
Pois decidida estou que
Neste mundo alegre serei!
Quantas bênçãos recebo eu
Então pode chorar e soluçar porque sou cega
Porque isso não farei”.

Fanny Crosby escreveu esse poema aos 8 anos de idade, prenunciando a extraordinária poeta e compositora que iria produzir, ao longo de sua vida, mais de oito mil hinos usando para isso cerca de 200 pseudônimos.

Amais famosa mulher da hinódia norte-americana nasceu em Nova York em março de 1820. Com menos de um mês de vida, uma infecção nos olhos e um erro médico provocado pelo mais conceituado clinico dos Estados Unidos tornou-a cega.

Aos 15 anos, foi matriculada numa escola para cegos – onde mais tarde voltaria para lecionar inglês e história – e ali passou toda sua vida até morrer, aos 94 anos de idade.

Aprendeu a tocar violão, harpa e piano. Sua voz de soprano levava paz e enlevo aos alunos e aos mestres do instituto.

Foi nessa época que conheceu o músico Alexandre Van Allstyme, um dos melhores organistas do seu tempo, também cego, com quem se casou.
Sua memória prodigiosa superou sua dificuldade em escrever em braile, ditando seus poemas para que outros os escrevessem. Suas obras foram editadas em 4 volumes.

Membro da Igreja Episcopal Metodista de Nova York, Francis Jane Crosby, imortalizada como Fanny Crosby, teve um dos seus poemas indicado por unanimidade pelo Portal Don Oleari, pela Radio Clube da Boa Música, pela Sociedade dos Poetas Vivos e pelo colunista que bate estas teclas, como Poema deste sábado, com a certeza de que sua leitura não ficará adstrita a um único dia deste e de outras muitas semanas.

Minhas Mãos

Fanny Crosby

Eu tinha minhas mãos cheinhas de tesouros
a mim tão preciosos:
trabalhos de ouro e prata e pedras de valor.
Era o que eu possuía e eu lhe votava amor.
O Mestre veio a mim e pôs nas minhas mãos
as Suas mãos varadas
e o meu precioso haver das minhas mãos caiu:
joias despedaçadas
rolaram pelo chão e meiga voz se ouviu:
“Espalma as tuas mãos; sou Eu quem deve enchê-las.
Vazias quero-as te, para servir-me delas!”

Eu tinha em minhas mãos as marcas do trabalho
e as manchas do pecado.
Por isso o meu trabalho alvura não mostrava
e, porque era manchado, o seu valor baixava.
O Mestre veio a mim e pôs nas minhas mãos
as Suas mãos sangrentas
e o sangue das Suas mãos as minhas mãos lavou.
E, puras, alvacentas,
eu, com prazer, as vi; e o Mestre me falou:
“Limpa as tuas mãos manchadas do pecado
e vem depois: serás no meu serviço usado!”

Eu tinha minhas mãos trementes e cansadas,
jamais em prece unidas,
mas ocupadas sempre em mil trabalhos vis…
Numa pressão constante, exaustas e febris!…
O Mestre veio a mim e pôs nas minhas mãos
as Suas mãos serenas
e logo em prece ardente as minhas mãos uni.
Ocupações terrenas
perderam a atração e mansa voz ouvi:
“Conserva as tuas mãos serenamente em prece,
até que a agitação da tua vida cesse!”

Eu cria em minhas mãos haver força e firmeza
sem o poder divino:
entregue ao meu trabalho, ardente e ideal,
eu não obedecia à voz celestial.
O Mestre veio a mim e pôs em minhas mãos
as Suas mãos pesadas
e desde aquele instante a força me fugiu,
a menos que ligadas
tenhamos nossas mãos. e o Mestre concluiu:
“Só na fraqueza humana opera o meu poder:
se queres vê-lo em ti, resolve obedecer!…

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“Limpa as tuas mãos manchadas do pecado
e vem depois: serás no meu serviço usado!”

Eu tinha minhas mãos trementes e cansadas,
jamais em prece unidas,
mas ocupadas sempre em mil trabalhos vis…
Numa pressão constante, exaustas e febris!…
O Mestre veio a mim e pôs nas minhas mãos
as Suas mãos serenas
e logo em prece ardente as minhas mãos uni.
Ocupações terrenas
perderam a atração e mansa voz ouvi:
“Conserva as tuas mãos serenamente em prece,
até que a agitação da tua vida cesse!”

Eu cria em minhas mãos haver força e firmeza
sem o poder divino:
entregue ao meu trabalho, ardente e ideal,
eu não obedecia à voz celestial.
O Mestre veio a mim e pôs em minhas mãos
as Suas mãos pesadas
e desde aquele instante a força me fugiu,
a menos que ligadas

Rubens Pontes, jornalista,

escritor

– Passos, saltos & queda – Linki pra ler Passos, Saltos & Quedas, de Rubens Pontes.
http://online.anyflip.com/mitk/xjqj/mobile/index.html?fbclid=IwAR39mt-wlzHGKBAeTSG7cZOD4etEr38ocVyHkE-rPKkwvhpfI8qfvf7khLE#p=10

Don Oleari - Editor Chefão

Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
Don Oleari Corporeitcham

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