O Portal Do Oleari já registrou a significativa presença de sacerdotes nas várias áreas da vida brasileira, por força da instalação de seminários
em numerosos pontos do nosso território e do consequente grau de cultura geral auferida pelos seminaristas.
Exceção de algumas poucas faculdades de Direito,
em Recife (acima à esquerda) e São Paulo (abaixo, a famosa Faculdade de Direito do Largo de São Francisco), uma de Medicina no Rio de Janeiro, principalmente, os estabelecimentos católicos de ensino
ganharam significativa força como formadores de administradores, políticos e mestres de ensino.
Sobre essa visão, conceitua Oscar Gama Filho (à direita):
– “A vida intelectual – arte, direito, política, jornalismo e outras atividades afins – e sacerdotal – constituíam, no Século XVIII, duas das poucas formas de ascensão social de que os indivíduos podiam se valer.
Alguns se dedicavam a ambas ao mesmo tempo, entre eles João Clímaco (abaixo, à direita), Marcolino Pinto Ribeiro Duarte,
Fraga Loureiro, Eurípedes Pedrinho, Inácio Felix de Alvarenga Sales e Francisco Antunes de Siqueira,
todos simultaneamente padres, escritores e políticos.”
O personagem escolhido para assinar o poema deste sábado está inserido na relação: O padre Francisco Antunes de Siqueira, singularíssima figura que marcou sua passagem no
Espírito Santo com controvertidos registros por parte de seus contemporâneos e dos que,
no nosso tempo, se dedicaram a estudar sua trajetória de vida.
Tudo começou com o registro do seu nascimento em Vitória, no dia 3 de fevereiro de 1832.
O processo de habilitação vita et moribus anota seu nome como filho natural da costureira
Maria Luiz do Rosário e do cônego Arcipreste Francisco A. de Siqueira.
O próprio padre Francisco Antunes de Siqueira não pretendeu esconder sua origem
ao escrever ao pé de seu Poemeto como dedicatória:
“À memória de meu pai, cônego Arcipreste Francisco A. de Siqueira – uma lágrima da
mais pungente saudade. À minha mãe d. Maria Luiza do Rosário – tributo de veneração e respeito.”
Ordenado sacerdote no Seminário São José, no Rio de Janeiro, em 1854, foi no Espírito Santo
que ele exercitou sua atividade como sacerdote, como professor, como político.
Destacou-se na campanha contra a escravidão, iniciou a construção da Igreja de Santa Cruz,
tornou-se amigo de figuras como o francês Auguste-François Biar, que escreveu sobre ele:
– “Travei conhecimento com o padre, um jovem sem preconceito que não recuava diante
de uma garrafa de Porto ou de aguardente” e foi orador sacro em missa por ocasião da visita de Dom Pedro II
a Vitória (registro do jornal “Correio de Vitoria”:
“No Colégio, que também abrigava a capela nacional (o atual Palácio Anchieta) orou o vigário de Santa Cruz,
padre Francisco Antunes de Siqueira. O discurso foi brilhante e eloquente.
Agradou a todos pela sublimidade de seus pensamentos, elegância e colorido do seu estilo”)
Seu espírito irrequieto o levou a participar do movimento político no Estado, elegendo-se, em 1862,
deputado à Assembleia Legislativa Provincial, da qual foi segundo secretário.
Em setembro de 1872, o padre Francisco Antunes foi nomeado capelão, com exercício de professor,
na Companhia de Aprendizes Marinheiros, em Vila Velha/ES (à direita).
Não foi o primeiro sacerdote a ser admitido na história da maçonaria no Espírito Santo, mas
seu ingresso na Loja União e Progresso – a mais antiga do Estado – teve larga repercussão, dentro e fora da Igreja.
O padre Francisco Antunes de Siqueira nunca escamoteou informações sobre sua origem e sobre
o entendimento do papel que lhe cabia exercer, como sacerdote e como cidadão, na vida do Espírito Santo.
Como intelectual, no plano da literatura, legou para posteridade o livro de crônicas “Poemeto” e ainda
ai deixou a marca do seu comportamento sempre acima das convenções de sua época:
O padre, que nunca renegou sua fé, dedicou a obra às suas filhas, como registrou o jornalista Antonio Tinoco:
“Às minhas queridas filhas – d. Dalmara Antunes Siqueira e d. Petronilha Antunes Siqueira – momentos de recreação
e da mais viva lembrança”.
Patrono da Cadeira 16 da Academia Espírito-santense de Letras, e da Cadeira 29 da Academia de Letras de Vila Velha,
o sacerdote, político, escritor, um homem do mundo acima do seu tempo, morreu no dia 29 de novembro de 1897, em Vila Velha/ES, onde era pároco.
O Portal Don Oleari capta, em registro de Maria Stela Novaes, no episódio do brinde destinado
à campanha contra a escravidão, no ano de 1884, o poema para compor a Coluna deste sábado. É também, uma homenagem
que todos prestamos à memória de uma figura que jamais poderá ser esquecida pelos capixabas do nosso tempo e dos tempos que virão.
Rubens Pontes
Capim Branco MG.
O POEMETO
(Justificativa baseada em citação original de Fernando Achiamé)
“Em 1884, as senhoras Dalmara e Petronilha Antunes Siqueira, numa quermesse em benefício da Libertadora
Domingos Martins, ocasião em que elas ofereceram um adorno de mesa em forma de serpente para ser vendido
e o dinheiro apurado a favor da libertação dos escravos. O presente vinha acompanhado de um poemeto, com a marca de seu pai.
ODC
De nossas livres florestas
Volve também a serpente
Para assistir nossas festas
De um povo independente.
Ao altar da Pátria amada
Ela vem se devotar
Querendo com o seu produto
Os escravos libertar.
Rubens Pontes, jornalista,
escritor – – Passos, saltos & queda – Linki pra ler Passos, Saltos & Quedas, de Rubens Pontes.
http://online.anyflip.com/mitk/xjqj/mobile/index.html?fbclid=IwAR39mt-wlzHGKBAeTSG7cZOD4etEr38ocVyHkE-rPKkwvhpfI8qfvf7khLE#p=10