As rosas do cume
As Rosas do Cume
As Certinhas do Oleari + Poesia Erótica – Rodrigo Mello Rego
Recuperado de uma cirurgia para retirar nódulos no abdome, retorno ao meu rotineiro trabalho na biblioteca pública da minha cidade, o que possibilita a continuidade do meu levantamento sobre autores de poesia erótica, principalmente brasileiros.
Devo muito ao acolhimento do Portal ao meu trabalho o incentivo para que eu a ele dê continu idade.
Escrevo hoje sobre uma figura absolutamente instigante, portador de uma biografiaque exibe o paradoxo de um poeta autor de admiráveis poemas que o levaram à Academia Brasileira de Letras e de outro lado poesia altamente erótica, algumas certamente pornográficas.
O nome dele é Laurindo José Silva Rabelo, médico, professor, grande poeta, patrono de cadeira na ABL (Academia Brasileira de Letras), Cadeira 67.
Morreu jovem, aos 38 anos de idade, em 1864, mas sua obra continua viva 155 anos passados e viva continuará enquanto houver quem ame a poesia.
Não abordo sua biografia, mas quem se interessar por ela pode consultar no Google publicação da Academia Brasileira de Letras.
Registro dois poemas de Laurindo Rabelo, mostrando as duas faces do seu esplêndido trabalho: o poeta romântico e o poeta erótico: “A MINHA RESOLUÇÃO’ e “AS ROSAS DO CUME’
Muito obrigado pela acolhida,
Rodrigo do Mello Rego.
Jornalista com curso de Mestrado em Estudos Literários
Pesquisador de literatura erótica.
As Rosas do Cume
Laurindo Rabelo
“No cume daquela serra
Eu plantei uma roseira.
Quanto mais as rosas brotam,
Tanto mais o cume cheira.
À tarde, quando o sol posto,
E o cume o vento adeja,
Vem travessa borboleta
E as rosas do cume beija.
No tempo das invernadas,
Que as plantas do cume lavam,
Quanto mais molhadas eram,
Tanto mais no cume davam.
Mas se as aguas vêm correntes,
E o sujo do cume limpam,
Os botões do cume abrem,
As rosas do cume brincam.
Tenho, pois, certeza agora
Que no tempo de tal rega,
Arbusto por mais mimoso
Plantado no cume, pega.
Vem porém o sol brilhante
E seca logo a catadupa;
O mesmo sol a terra abrasa
E as águas do cume chupa.
A rosa do cume fica
no mais alto da montanha
A rosa do cume pica
A rosa do cume arranha
.
As rosas do cume espreitam
entre as folhagens d’além
trazidos na fresca brisa
os cheiros do cume vêm.
.
No cume duma montanha
tem um olho d’água à beira.
É uma água tão cheirosa
que a multidão ansiosa
o olho do cume cheira.”
Vídeo: No Cume por Falcão – álbum “Do Penico à Bomba Atômica” – Veja e ouça no final da coluna.
Minha resolução
Laurindo Rabelo
O que fazes, ó minh`alma!
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato,
Busca outro coração!
Corre o ribeiro suave
Pela terra brandamente,
Se o plano condescendente
Dele se deixa regar;
Mas, se encontra algum tropeço
Que o leve curso lhe prive,
Busca logo outro declive,
Vai correr noutro lugar.
Segue o exemplo das águas,
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato,
Busca outro coração!
Nasce a planta, a planta cresce,
Vai contente vegetando,
Só por onde vai achando
Terra própria a seu viver;
Mas, se acaso a terra estéril
Às raízes lhe é veneno,
Ela vai noutro terreno
As raízes esconder.
Segue o exemplo da planta,
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato,
Busca outro coração!
Saiba a ingrata que punir
Também sei tamanho agravo:
Se me trata como escravo,
Mostrarei que sou senhor;
Como as águas, como a planta,
Fugirei dessa homicida;
Quero dar a uma alma fida
Minha vida e meu amor.
As certinhas do Oleari – Scarlet Johansson (acima, à direita), eleita a mais bem vestida do Globo de Ouro 2020.
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