O tabuleiro político do Espírito Santo e a Assembleia Legislativa
Coluna POLÍTIKA – Alexandre Caetano
A disposição das peças do tabuleiro do xadrez político no Espírito Santo iniciou um processo de mudanças em 2018 que, em parte, refletiram o vendaval conservador que permitiu a eleição de um personagem polêmico como o ex-capitão Jair Bolsonaro, de extrema-direita.
Até então o Capitão era um inexpressivo parlamentar do baixo clero na Câmara Federal. Os resultados eleitorais representaram um duro golpe no establishment político e expressaram, em parte, a crise das instituições nas democracias liberais, um fenômeno mundial, bem como o enorme desgaste e desmoralização que sofreram os partidos e a forma de fazer política no Brasil.
Não quer dizer que isso levou a uma renovação dos métodos, nem que isso tenha levado a uma melhora da qualidade da representação política.
Mas não há como negar que as eleições de 2018 expressaram a insatisfação de grande parte da população brasileira e capixaba. O fenômeno que testemunhamos em nível nacional também se refletiu no Espírito Santo, apesar da eleição do governador Renato Casagrande (PSB), figura carimbada da política local, que sobreviveu ao tsunami e ganhou um segundo mandato à frente do Palácio Anchieta.
A composição majoritariamente conservadora da Assembleia Legislativa (AL/ES) que emergiu das urnas na ocasião foi uma das maiores expressões desse processo.
Pela primeira vez desde o fim do que foi conhecido como Era Gratz – período em que a Casa era comandada pelo ex-bicheiro José Carlos Gratz e esteve envolvida em vários escândalos de corrução e desmandos – em 2003, o Palácio Anchieta não tem o controle absoluto sobre o Legislativo.
Não quer dizer também que tenha perdido totalmente esse controle e que a relação de forças tenha se pendido contra o Executivo. Mas o fato é que o quadro se tornou mais complexo.
A começar pelo controle da Mesa Diretora da AL/ES pelo grupo que pilota um projeto de poder do qual falamos em coluna anterior, que tem como um dos principais líderes o deputado Erick Musso (Republicanos), exercendo o terceiro mandato como presidente da Casa.
Pela primeira vez desde 2003, um ruidoso bloco de oposição, composto principalmente por deputados bolsonaristas, se formou no plenário da Casa e vem dando trabalho para o Palácio Anchieta, com muitos ataques e denúncias.
Nada que tenha transformado Renato Casagrande em refém do Legislativo, como alguns governadores no passado. Afinal o Executivo detém o controle da máquina pública estadual (portanto dos cargos e recursos) e, principalmente, é o dono da caneta.
Mas a existência desse bloco de oposição tem sido um trunfo e tanto na relação entre o grupo liderado por Musso e o governo, até porque internamente, esses parlamentares fazem da base de apoio da Mesa Diretora e votaram favor de sua segunda reeleição.
Parece haver uma tácita divisão de tarefas. Aliás, não há como passar desapercebido a nova e recente mudança de postura do presidente da AL/ES, que voltou a adotar o “morde e assopra” na relação com o Palácio Anchieta, depois de garantir a reeleição e superar o mal sucedido “pulo do gato” de 2019, quando tentou antecipar a eleição da Mesa Diretora antes da metade do mandato de dois anos.
Tabuleiro muda
O bloco de oposição na AL/ES sofreu mudanças depois das eleições municipais do ano passado, a começar pela eleição de um dos seus principais líderes, Lorenzo Pazolini (Republicanos), como prefeito de Vitória.
Outros integrantes do grupo, depois de derrotas acachapantes na disputa pela Prefeitura da Serra, como os deputados Vandinho Leite (PSDB) e Alexandre Xambinho (PL), parece terem murchado.
Preferiram se afastar de posições mais ideológicas dos parlamentares bolsonaristas, se reaproximando do Palácio Anchieta e de olho na sua própria reeleição, em 2022.
Bolsonaristas ferrenhos, os deputados Capitão Assumção (Patriota), Carlos Von (Avante), Torino Marques (PSL) e Danilo Baiense (sem partido), mantém oposição sistemática ao governo, com o discurso de extrema-direita, muitas vezes agressivo e truculento.
Numa outra linha, sem compor o mesmo grupo, a oposição ao governador Renato Casagrande tem o reforço de dois parlamentares.
O primeiro é o deputado Sérgio Majeski (PSB), que adota uma postura completamente independente e procura construir a imagem de um político que está na política, mas que não tem nada a ver com a forma como ela é praticada, um típico outsider, tem sido um duro crítico do governo.
O segundo é o veterano deputado Theodorico Ferraço (DEM), que havia rompido com Casagrande nos primeiros meses do governo, e vinha adotando uma postura “independente”. Uma postura que talvez reflita a volta ao cenário político estadual do filho, o ex-senador Ricardo Ferraço, que assumiu a presidência estadual do DEM e parece ter planos altos para a disputa eleitoral de 2022.
Alexandre Caetano é jornalista
e historiador
tabuleiro
https://donoleari.com.br/eustaquio-palhares-a-republica-do-espirito-santo/
https://reporterbarra.com.br/?p=44543
tabuleiro tabuleiro tabuleiro