Azul Instantâneo
Coluna
Aqui Rubens Pontes:
Meu poema de sábado
Jornalismo é como um vício que, se injetado na veia, teria o mesmo efeito de uma dose de coca refinada nas destilarias da Colômbia.
Fazendo carreira, o “foca” se torna repórter, o repórter redator, podendo ascender a secretário de redação, editor chefe e, ainda, se os fados ajudarem, tornar-se até diretor.
Temos um exemplo em Casa. Nosso Editor Chefão foi em tempos idos repórter, editor, produtor fe rádio e tevê, tendo tido seu nome ligado a coberturas jornalísticas de espectro nacional memoráveis, como matérias que fez para a Editora Abril de São Paulo nas revistas Realidade e Intervalo 2000
Produziu e apresentou programas de rádio e de televisão, chefiou equipes no jornalismo, criou seu canal de comunicação via internet e evoluiu até a montagem de um dos nossos mais importantes canais de comunicação da área – o Portal Don Oleari.
O que pode parecer puxa-saquismo é na verdade apenas um exemplo mais próximo que busca evidenciar que o repórter, não importa suas conquistas pessoais no jornalismo, continua sendo repórter a vida toda.
Pois então, vejamos.
Os que atuamos no Portal, em seus diversos segmentos, somos por ele às vezes surpreendidos com sugestões levantadas, sempre en passant, que, no meu caso de colunista semanal, são recebidas como subsídio.
Outro dia, o Editor Chefão, como repórter que nunca deixou de ser, passou ao lado e se fez ouvir:
– Tenho mantido interessante contato virtual com um grande poeta da Ilha da Madeira, Pedro Vale, autor de poemas formuladores de ideias azuis.
No momento, nada mais disse nem lhe foi perguntado, mas a “deixa” ficou no ar, bailando como uma dançarina do Bolshoi. Levando ao desdobramento naturalmente pesquisado.
Ilha da Madeira
A Ilha da Madeira não se situa na rota das caravelas de velas triangulares que rompiam mares ameaçadores na busca de terras desconhecidas. E assim, com a Ilha, o Brasil e os brasileiros estiveram sempre mais distantes do que de Moçambique, por exemplo, tema da coluna do último sábado.
Rubens Pontes: Lutsé Rumeia e Suely Bispo, a poesia de Moçambique ao Espírito Santo | 6/8
https://donoleari.com.br/rubens/
Mais próxima da África do que de Portugal, de onde dista 970 quilômetros, a Ilha da Madeira se situa a 700 quilômetros a oeste de Casablanca, no Marrocos.
Em linha reta, está a 6 mil 283 quilômetros do Espírito Santo. Camões fala da Ilha da Madeira no Canto V de “Lusíadas”. Leia aí:
“Lusíadas”, Canto V:
“Passamos a grande Ilha da Madeira,
Que do muito arvoredo assim se chama,
Das que nós povoamos, a primeira,
Mais célebre por nome que por fama:
Mas nem por ser do mundo a derradeira
Se lhe aventajam quantas Vênus ama,
Antes, sendo esta sua, se esquecera
De Cipro, Gnido, Pafos e Citera (*)
(*) Ilhas gregas.
É em Funchal, sua Capital, que Pedro Vale, nascido no Porto, personagem da Coluna desta semana, um dos grandes nomes da literatura portuguesa contemporânea, vive, e onde é reverenciado como poeta, escritor e professor de alfabetização de adultos e de português para estrangeiros.
Seu livro “Azul Instantâneo”, ora em segunda edição impressa em 2017, ganhou dimensões extra-continentais.
O poeta tomou conhecimento de terem sido sete dos poemas do seu livro inseridos na 3ª edição da revista de literatura e artes “Uso”, editada em São Paulo, para ele motivo de orgulho, segundo confessou.
Foi, aliás, com seus poemas, inicialmente publicados no Facebook, quase como rascunho, que Pedro Vale afinal ganhou o mundo. Seu modo de criação, em vários estilos, possuía, no entanto, uma singularidade, um único sentimento confessado:
– a formulação de ideias azuis, passo inicial para a edição do livro “Azul instantâneo”.
Ecletismo
Em entrevista ao programa “Café Pós-Moderno”, Pedro Vale revelou ser leitor de Hemingway, Kafta, Proust e Fernando Pessoa e, como “adora” ler mulheres, como disse, Sophia de Mello Breyner, Virgínia Woolf e Hannah Arendt (já focada no Portal Don Oleari).
Mesmo tão distante do Brasil, com quem as relações políticas, econômicas e literárias da Ilha da Madeira não são relevantes, Pedro Vale conhece a obra de Chico Buarque de Holanda, a quem denominou “inimitável”.
A sugestão acatada do Editor Chefão nos leva à publicação de poemas de AZUL INSTANTÂNEO para iluminar o Portal Don Oleari e a Coluna deste sábado.
Rubens Pontes
Capim Branco, MG – [email protected]
Poema de ‘Azul Instantâneo’
Pedro Vale
Por vezes
Acontece entrarmos
Num maravilhoso jardim árabe
E sentarmo-nos logo ali
No primeiro banco de pedra lisa
Imaginando o azul do mar.
https://www.skoob.com.br/azul-instantaneo-804586ed808569.html
VIDA PRAZENTEIRA
Pedro Vale
Vida prazenteira,
Gesto normal.
Encadeamento
De claros
Acordes Outonais.
Absorta lentidão.
Desejo,
Combate,
E renúncia
À tentação
Do recentemente
Adiado mil acre d’estreia
(sem unanimidade).
Prolongado o tempo
Da subtileza linguística.
Impaciente o esforço…
– Bica poética para a mesa sete!
Poema sem título
Pedro Vale
É preciso viver sem paixões
Mergulhar no absoluto anonimato
Permanecer morto ou vivo até o fim
Aclamar o tumulto escuro e bruto
Encenar o drama clemente e lento
Sentir um amor ideal por anjos nebulosos
Descobrir um novo fundo de poesia e aguardar
Uma voz que nos ordene docilmente:
Não te movas, nem te inquietes,
Nem traias o que
Ainda não
és
https://www.facebook.com/pedro.vale.3720
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