Bernardo Guimarães, A origem do mênstruo: sugestão de Wilson Côelho | As Certinhas do Oleari + Poesia Erótica | 8/11   

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Bernardo Guimaraes

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Coluna

As Certinhas do Oleari + Poesia Erótica

Rodrigo Mello Rego (*)

NEC = Nota do Editor Chefão, Don Oleari – Rodrigo de Mello Rego tem despertado as atenções de intelecquituais de peso na área literária do Espírito Santo.

Assim é que o poeta, tradutor, escritor, teatrólogo Wilson Côelho nos enviou o poema de Bernardo Guimarães, A origem do mênstruo, como sugestão de leitura para esta coluna.

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A Bailarina

 

Bernardo Guimarães (1825-1884), romancista e poeta brasileiro. “A Escrava Isaura” foi o seu romance mais popular.

Estreou como poeta com “Cantos da Solidão”, mas foi como romancista que seu nome ganhou destaque. Foi considerado o criador do romance sertanejo e regional, ambientado em Minas Gerais e Goiás. De todos os seus romances “O Seminarista” é considerado sua melhor obra. É patrono da cadeira nº. 5 da Academia Brasileira de Letras.

Infância

Bernardo Guimarães – Bernardo Joaquim da Silva Guimarães – nasceu em 15 de agosto de 1825 em Ouro Preto/MG. Filho de João Joaquim da Silva Guimarães e Constança Beatriz de Oliveira Guimarães, a família mudou-se para Uberaba, onde aprendeu a escrever e ler. A família morou em Campo Belo e depois voltou para Ouro Preto.

Com 17 anos, Bernardo Guimarães fugiu do colégio para combater como voluntário na Revolução Liberal de 1842. Com 22 anos mudou-se para São Paulo e ingressou na Faculdade de Direito. Foi amigo de Álvares de Azevedo e de Aureliano Lessa.

Juiz 

Bernardo Guimarães formou-se em 1851 e logo passou a exercer o cargo de juiz municipal, em Catalão, Goiás, onde se  desentendeu com o presidente da província de Catalão. Foi para o Rio de Janeiro em 1858. Lá trabalhou como jornalista e crítico literário, no jornal Atualidades. Voltou para Catalão em 1861 e passou a exercer novamente o cargo de juiz municipal.

Professor

Em 1866, Bernardo Guimarães foi nomeado professor de retórica e poética no Liceu Mineiro de Ouro Preto e de francês e latim em Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais. Anos depois voltou para Ouro Preto, onde faleceu. Bernardo Guimarães é patrono da cadeira nº. 5 da Academia Brasileira de Letras e patrono da cadeira nº.15 da Academia Mineira de Letras.

Seu célebre romance A Escrava Isaura foi o mais popular de sua trajetória. Foi traduzido para diversos idiomas. A novela produzida pela TV Globo foi um sucesso estrondoso no Brasil e exibida em muitos países. Foi uma grande sucesso na China, entre outros.

Obras capa-do-livro-a-escrava-isaura.png

  • Cantos da Solidão, poesia, 1852
  • Inspirações da Tarde, poema, 1858
  • A Voz do Pajé, drama, 1860
  • O Ermitão do Muquém, romance, 1864
  • Evocação, poesia, 1865
  • Poesias Diversas, 1865
  • A Bais de Botafogo, poesia, 1865
  • Lendas e Romances, contos, 1871
  • A Dança dos Ossos, conto, 1871
  • O Garimpeiro, romance, 1872
  • O Seminarista, romance, 1872
  • O Índio Afonso, romance, 1872
  • A Escrava Isaura, romance, 1875Bernardo-Guimaraes-site-1.png
  • Novas Poesias, 1876
  • A Ilha Maldita, romance, 1879

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    Que cenário!
  • O Pão de Ouro, conto, 1879
  • Folhas de Outono, poesias, 1883
  • Rosaura, a Enjeitada, romance, 1883
  • O Bandido do Rio das Mortes, romance,1905

A origem do mênstruo

Bernardo Guimarães

De uma fábula de Ovídio achada nas escavações de Pompéia e vertida em latim vulgar por Simão de Nuntua.

Stava Vênus gentil junto da fonte
fazendo o seu pentelho,
com todo o jeito, pra que não ferisse
das cricas o aparelho.

Tinha que dar o cu naquela noite
ao grande pai Anquises,
o qual, com ela, se não mente a fama,
passou dias felizes…

Rapava bem o cu, pois, resolvia
na mente altas ideias:
– ia gerar naquela heróica foda
o grande e pio Enéias.

Mas a navalha tinham o fio rombo,
e a deusa, que gemia,
arrancava os pentelhos e peidando,
caretas mil fazia!

Nesse entretanto, a ninfa Galatéia,
acaso ali passava, e vendo a deusa assim tão agachada,
julgou que ela cagava…

Essa ninfa travessa e petulante
era de gênio mau,
e por pregar um susto à mãe do Amor,
atira-lhe um calhau…

Vênus se assusta. A branca mão mimosa
se agita alvoroçada,
e no cono lhe prega (oh! caso horrendo!)
tremenda navalhada.

Da nacarada cona, em sutil fio,
corre purpúrea veia,
e nobre sangue do divino cono
as águas purpureia…

(É fama que quem bebe dessas águas
jamais perde a tesão
e é capaz de foder noites e dias,
até no cu de um cão!)

– “Ora porra!” – gritou a deusa irada,
e nisso o rosto volta…
E a ninfa, que conter-se não podia,
uma risada solta.

A travessa menina mal pensava
que, com tal brincadeira,
ia ferir a mais mimosa parte
da deusa regateira…

– “Estou perdida!” – trêmula murmura
a pobre Galatéia,
vendo o sangue correr do róseo cono
da poderosa déia…

Mas era tarde! A Cípira, furibunda,
por um momento a encara,
e, após instantes, com severo acento,
nesse clamor dispara:

“Vê! Que fizeste, desastrada ninfa,
que crime cometeste!
Que castigo há no céu, que punir possa
um crime como este?

Assim, por mais de um mês inutilizas
o vaso das delícias…
E em que hei de gastar das longas noites
as horas tão propícias?

Ai! Um mês sem foder! Que atroz suplício…
Em mísero abandono,
que é que há de fazer, por tanto tempo,
este faminto cono?

Ó Adonis! Ó Jupiter potentes!
E tu, mavorte invito!
E tu, Aquiles! Acudi de pronto
da minha dor ao grito!

Este vaso gentil que eu tencionava
tornar bem fresco e limpo
para recreio e divinal regalo
dos deuses do Alto Olimpo,

Vede seu triste estado, ó! Que esta vida
em sangue já se esvai-me!
Ó Deus, se desejais ter foda certa
vingai-vos e vingai-me!

Ó ninfa, o teu cono sempre atormente
perpétuas comichões,
e não aches quem jamais nele queira
vazar os seus colhões…

Em negra, podridão imundos vermes
roam-te sempre a crica,
e à vista dela sinta-se banzeira
a mais valente pica!

De eterno esquentamento flagelada,
verta fétidos jorros,
que causem tédio e nojo a todo mundo,
até mesmo aos cachorros!”

Ouviu-lhe estas palavras piedosas
do Olimpo o Grão-Tonante,
que em pívia ao sacana do Cupido
comia nesse instante…

Comovido no íntimo do peito,
das lástimas que ouviu,
manda ao menino que, de pronto, acuda
à puta que o pariu…

Ei-lo que, pronto, tange o veloz carro
de concha alabastrina,
que quatro aladas porras vão tirando
na esfera cristalina

Cupido que as conhece e as rédeas bate
da rápida quadriga,
co’a voz ora as alenta, ora co’a ponta
das setas as fustiga.

Já desce aos bosques onde a mãe, aflita,
em mísera agonia,
com seu sangue divino o verde musgo
de púrpura tingia…

No carro a toma e num momento chega
à olímpica morada,
onde a turba dos deuses, reunida,
a espera consternada!

Já Mercúrio de emplastros se aparelha
para a venérea chaga,
feliz porque aquele curativo
espera certa a paga…

Vulcano, vendo o estado da consorte,
mil pragas vomitou…
Marte arranca um suspiro que as abóbadas
celestes abalou…

Sorriu a furto a ciumenta Juno,
lembrando o antigo pleito,
e Palas, orgulhosa lá consigo,
resmoneou: – “Bem-feito”!

Coube a Apolo lavar dos roxos lírios
o sangue que escorria,
e de tesão terrível assaltado,
conter-se mal podia!

Mas, enquanto se faz o curativo,
em seus divinos braços,
Jove sustém a filha, acalentando-a
com beijos e com abraços.

Depois, subindo ao trono luminoso,
com carrancudo aspecto,
e erguendo a voz troante, fundamenta
e lavra este DECRETO:

– “Suspende, ó filha, os lamentos justos
por tão atroz delito,
que no tremendo Livro do Destino
de há muito estava escrito.

Desse ultraje feroz será vingado
o teu divino cono,
e as imprecações que fulminaste
agora sanciono.

Mas, inda é pouco: – a todas as mulheres
estenda-se o castigo
para expiar o crime que esta infame
ousou para contigo…

Para punir tão bárbaro atentado,
toda humana crica,
de hoje em diante, lá de tempo em tempo,
escorra sangue em bica…

E por memória eterna chore sempre
o cono da mulher,
com lágrimas de sangue, o caso infando,
enquanto mundo houver…”

Amém! Amém! como voz atroadora
os deuses todos urram!
E os ecos das olímpicas abóbadas,
Amém! Amém! sussurram…

(*) Rodrigo Mello Rego, jornalista, Mestre em Estudos Literários, pesquisador de literatura erótica.

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wilson coelho

Wilson Côelho – Poeta, tradutor, palestrante, dramaturgo e escritor com 23 livros publicados. Licenciado e bacharel em Filosofia e Mestre em Estudos Literários pela UFES (Universidade Federal do ES); Doutor em Literatura pela Universidade Federal Fluminense e Auditor Real do Collége de Pataphysique de Paris.
Tem 25 espetáculos montados com o Grupo Tarahumaras de Teatro, com participação em festivais e seminários de teatro no país e no exterior – Espanha, Chile, Argentina, França e Cuba, ministrando palestras e oficinas. Também tem participado como jurado em concursos literários e festivais de música.

 

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Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
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