Bolsonarismo
Opinião
Por João Paulo Oleare, radialista, jornalista
Enfim, o desfecho que todos temiam e ninguém queria, foi confirmado. Na quarta-feira (15), um dos suspeitos (Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”) confessou a sua participação e mostrou onde Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos. No mesmo dia, alimentando seu desprezo pela decência humana, Jair Messias Bolsonaro mais uma vez culpou as vítimas.
Após já ter dito que o indigenista e o jornalista estavam numa “aventura não recomendada”, também disse que Dom Phillips era “malvisto” na região por suas reportagens. Além disso, há todo seu esforço para impedir e desacreditar os trabalhos de pessoas comprometidas com a causa indígena, dentro e fora da Funai.
Mentiras, mentiras
Com mentiras, sempre com mentiras. Delírios conspiratórios como Ratanabá são apenas tergiversações para tirar o foco de sua política antiambientalista. Assim como culpar ONG’s, falar em “soberania nacional” (falsa, vista sua conhecida subserviência aos interesses estadunidenses e sua relação com Elon Musk e seus satélites) e arrumar confusões com celebridades nacionais e internacionais.
Bruno, uma sumidade entre os indigenistas, foi exonerado da Funai em 2019 do cargo de Coordenador Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato por fazer seu trabalho (após operação contra garimpeiros). Ele foi substituído não por um indigenista experiente, mas por alguém conhecido por catequizar indígenas (o pastor evangélico Ricardo Dias Lopes, aliado de Damares Alves, à época ainda ministra). Diálogo vazado pelo Intercept em 2019 mostrava que a missão de Lopes era converter indígenas.
À época, o ministro era Sérgio Moro, que negou sequer ter tomado conhecimento da decisão (embora tenha sido assinada por seu secretário-executivo e segundo na pasta, Luiz Pontel). Aliás, foi durante o ministério de Moro que 11 dos 15 coordenadores-gerais da Funai, além do ouvidor, foram exonerados. Lopes foi exonerado apenas em 2020, com André Mendonça já como ministro e após diversos escândalos (como entrar com uma comitiva na Terra Indígena do Vale do Javari durante a quarentena da pandemia, expondo os indígenas ao vírus).
Todos contra a Funai
A Funai está aparelhada com pessoas contrárias à causa indígena. O presidente do órgão, Marcelo Xavier, só se encontrou 2 vezes com indígenas em 2022, por exemplo. Indicado por ruralistas, ele atende bem aos interesses de seus chefes.
Tudo, claro, parte de um esforço do bolsonarismo para minar qualquer tipo de dificuldade para garimpeiros, pescadores ilegais, mineradores e quem mais quiser contribuir para a piora do mundo. Sim, pois destruir a Amazônia significa piorar o mundo. Já muito bem documentadas, as ligações de Bolsonaro com milicianos se somam às relações com crimes cometidos em regiões ermas do país, como o Pantanal e a Amazônia.
Claro, não é o caso de afirmar que antes o trabalho de pessoas como Pereira e Phillips fosse fácil. Não nos esqueçamos que o Brasil foi fundado em cima de sangue indígena, e os caminhos internos do país foram abertos derrubando e queimando vegetação nativa. Mas a situação piorou.
Segundo, a Global Witness, 20 pessoas foram assassinadas no Brasil por defenderem a terra e o meio ambiente. Em 2021, segundo a Comissão Pastoral da Terra, 28 dos 35 assassinatos desse tipo foram cometidos na Amazônia legal. Já em 2022, os dados parciais registram 14 vítimas.
Repare que, ao falar sobre a tragédia, Bolsonaro assume a posição dos garimpeiros. E o jornalismo brasileiro, assumindo a mais medíocre face de reprodutor de declarações, põe suas aspas em título sem qualquer contextualização. Jornalismo, afinal, serve para contextualizar informações e falas.
Assassinatos
Nosso complexo de vira-latas, e uma normalização da violência, exigem que um jornalista estrangeiro seja morto para que esses assassinatos gerem comoção. Paulo Paulino Guajajara, líder indígena que integrava o grupo Guardiões da Floresta, foi assassinado em 2019. Assim como Maxciel Pereira Pereira dos Santos, colaborador da Funai (que, como Bruno, trabalhava no Vale do Jarari).
Dilma Ferreira da Silva, coordenadora do MAB (Movimentos de Atingidos por Barragens), foi assassinada numa chacina no Baião, no Pará, também em 2019. Já em 2022, algumas das vítimas são José Lago (Zé do Lago), sua esposa Márcia Nunes e a filha Joane Nunes, que faziam atividades de preservação da floresta em São Félix do Xingu, também no Pará.
Todos assassinados – e todos os casos sem solução. Ainda de acordo com a Comissão Pastoral da Terra, entre 1985 e 2020 foram registrados 1.536 casos, com 2028 vítimas. Desses, apenas 170 foram julgados. 34 mandantes foram absolvidos, enquanto 39 foram condenados. Dentre os executores, 244 foram absolvidos, e 139 condenados.
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