“In Memoriam”
– “Se é mal, por que não tentar?”
– disse o Diabo maior, esfregando as mãos.
Belfagor e o computador
– “Chefe, criarei um engenho capaz de atormentar homens e mulheres por todo o sempre”, prometeu o desastrado capeta.
Belfagor, o demônio enviado por Lúcifer a Florença no século XV e fracassado em sua tarefa de destruir a família e as virtudes, segundo o relato de Niccolò Machiavelli, cumpriu quatro séculos de penas infernais.
Supercomputador (foto) da Universidade de São Paulo (USP)faz 20 trilhões de operações por minuto.
Não gozou de nenhum benefício de redução da pena, que é a queimação eterna.
Lúcifer não retrocede jamais.
A pior pena do Inferno, sabem os entendidos, não é a queimação perene, de um fogo que não se extingue como a paixão: é a rotina, a chama uniforme, sem brisa ou labaredas, sem cinzas e sem fim.
Pois foi aquela rotina infinita que, um dia, cumpridos os quatro séculos de expiação, levou Belfagor a Lúcifer, animado com nova proposta de baixar à Terra, ao centro do Poder, que se havia deslocado de Florença para Washington, nos Estados Unidos da América.
– “Chefe, criarei um engenho capaz de atormentar homens e mulheres por todo o sempre”, prometeu o desastrado capeta.
– “Seu nome vem do ato de fazer contas e da condenação eterna infligida por Deus aos bichos de duas ou mais pernas, a dor”, explicou Belfagor a Lúcifer, esfregando as mãos de contentamento, enquanto assoprava-lhe o substantivo ao ouvido.
– “Computador! Belo nome!” Aquiesceu o diabo maior e deixou escapar, alto e bom som, para que toda a diabada em volta de seu trono ouvisse:
– “Se é mal, por que não tentar?”
Claudio Lachini – In Memoriam – 1941 / 2016 –
jornalista, escritor
Nota do Editor Chefão:
Os dois últimos livros de Claudio Lachini são “Sperandio” e “Vasco – Memórias de um precursor da globalização”, ambos romances históricos que se misturam à história real do período da colonização do Espírito Santo (o primeiro) e pós descobrimento do Brasil (o segundo).
“Piotaco” do Oleari
Dou um repeteco pro texto delicioso, cheio de simbolismos, pois sempre comungamos, o Cláudio e eu, dos mesmos sentimentos quanto ao que sempre tratei de trolha eletrônica bilgueitiana istivijobiana. Costumávamos dizer:
“esse trem é realmente coisa do Cramulhão”.
Muitos séculos depois a invenção do Capeta foi aperfeiçoada por uns caras aí chamados Bil Gates, Steve Jobs, entroutros, certamente muito familiarizados com o coisa ruim relatado por Cláudio Lachini.
Recadim aos “cabeção” quissão só de “curtir retratim” no maledeto feissibuqui: O Zuckeberg também devidisê aparentado do Belfagor: textim pra ler e se deliciar com a bela fábula do nosso sempre saudoso Cláudio Lachini (Oswaldo Oleari).
Computador
https://donoleari.com.br/lei-de-incentivo/
Repeteco: em 4/out/2016 – Publicado em 21 de agosto de 2013