Contando os segredos
Contando os segredos aos amigos e seus papos sobre qualquer coisa
CRÕNICA
PAULO BONATES
Reproduzido de A Gazeta com autorização do autor
Não tenho a menor ideia do que vou escrever, como sempre. Inspiro-me nas ideias de vocês, que colho com todo o carinho, principalmente o humor que vem junto.
Os amigos são as fontes principais, especialmente quando apresentam papos sobre qualquer coisa com ou sem fundamento científico.
Roubo descaradamente suas opiniões, dou um retoque e critico sem a mínima piedade.
Outro dia passei horas a sós conversando com Laurão Vasconcelos, o rei do pragmatismo. Nada existe para ele se não se realiza.
Embalados apenas um pouquinho por um Châteauneuf-du-Pape, ele expunha teses e eu escutava sem falar quase nada, como corresponde a dois gênios variantes entre geniais e geniosos, tudo junto e misturado.
Dou o maior valor às piadas boas ou más, nunca se sabe o efeito.
O garotinho só deixava que apenas a avó lhe auxiliasse na delicada tarefa de fazer xixi.
-A mão da vovó treme, justificava.
Já tive conversas de grande profundidade filosófica com meu amigo Paulo Eduardo Torre, principalmente durante as viagens que fazíamos mundão afora:
-Essa viagem tá um saco…
-Tudo a mesma coisa …
-Quer voltar?
-Claro que não.
Em uma roda do Britz Bar um amigo compartilhava sua preocupação com o desinteresse de seu filho por mulheres, revelando-nos uma tentativa que fez para incentivá-lo.
-Presta atenção ! Mulher é doce, formas esculturais, uma maravilha…
-Então, quero ser mulher.
Pois bem.
Saiba a senhora, minha fiel leitora destas mal traçadas linhas quinzenais, a seguinte e imutável verdade secular: as guerras apocalípticas, a sobrevivência das cidades que chegam à falência, o meio ambiente que tende ao caos absoluto e os políticos que não se cansam de roubar, chega-se ao fim: então, é hora de abrir um novo bar.
É nas conversas de bar que se fala a livre filosofia em todos os níveis sociais, pode crer.
Aproveito para alertar os eventuais noviços na escrivinhação do grotesco do cotidiano. Confesso, não tenho total domínio das coisas, claro, apenas sinto e jogo pelo pensamento e escrevo. Tenha fé. Alguém vai gostar da sua crônica. Há irresponsáveis para tudo. No bom sentido.
Certa vez fui convidado pelo excelente jornalista Vitor Vogas para ter uma conversa com alunos sobre escrever crônicas. Não sabia e não sei fazer isso. Meu inconsciente é totalmente irresponsável. Adorei o convite mas não sei ensinar o que não sei, o que escrevo sai de mim por todos os neurônios.
Dorian Gray, meu cão vira-lata, finge que gosta do meu texto.
Contando os segredos
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