Crioulo Doido
Foto de capa: Sergio/Stanislaw com as três filha – acervo da família de Sergio Porto.
O inesquecível escritor, jornalista, humorista e bon vivant carioca Sérgio Porto é o mesmo STANISLAW PONTE PRETA, pseudônimo inventado para assinar suas crônicas e livros, que fizeram grande sucesso nos anos 60 e 70, do século passado.
Os leitores devoravam aquela linguagem coloquial, com um toque sarcástico e humor fino, que Stanislaw utilizava para abordar os fatos e coisas absurdas que algumas pessoas falavam – e que não tinham o menor sentido – e acabavam virando motivo de gozação na boca do povo.
De maneira jocosa e inteligente, STANISLAW narrava as banalidades em crônicas diárias no jornal Última Hora, depois reunidas em edições do livro FEBEAPÁ – Festival de Besteira Que Assola o País.
Veja só este exemplo: em Belo Horizonte, um delegado de polícia, muito preocupado com os palavrões de torcedores nos estádios, deu uma ideia de jerico: – cada torcedor teria o direito de gritar, no máximo, TRÊS PALAVRÕES.
E seria preso, caso soltasse mais algum!
Essa é hilariante: no lançamento da MINI-SAIA um delegado de costumes tentou impedir que a nova moda chegasse em Minas e disse, em alto e bom som:
“Aqui, Não! Ninguém vai levantar a saia da mulher mineira!!!”…Em declaração aos jornais, disse que prenderia o tal costureiro francês Pierre Cardin, caso ele aparecesse.
Em 1966, o grupo de músicos “Demônios da Garoa” gravou o samba enredo “Samba do Crioulo Doido”, uma sátira que Stanislaw compôs em plena ditadura militar – que obrigava os compositores carnavalescos a tratar de temas históricos do Brasil – o que acabou em “bagunça mental”:
“Foi em Diamantina/Onde nasceu JK/Que a Princesa Leopoldina/Arresorveu se casar/Mas Chica da Silva/Tinha outros pretendentes/E obrigou a princesa/A se casar com Tiradentes”…
Hoje, essa ideia seria considerada racista e preconceituosa.
Outra invenção do colunista, que fez muito sucesso, era a famosa eleição anual de “As Certinhas dos Lalau”, uma escolha exclusiva dele mesmo, que selecionava beldades do show business em fotos sensuais, pouca roupa, valorizando bustos, nádegas e pernas.
Em pleno regime militar, repleto de censuras e proibições, Stanislaw Ponte Preta criou os personagens Tia Zulmira, Primo Altamirando e Rosamundo, e um canal exclusivo – o “PRETAPRESS”, para contar os causos mais inusitados e nos fazer rir até às lágrimas.
O jornalista Sérgio Marcos Rangel Porto, o Stanislaw (1923-1968), natural do Rio de Janeiro, foi escritor, radialista, comentarista, teatrólogo, humorista e também inspirado compositor, que, infelizmente, só produziu o “Samba do Crioulo Doido”, música que o país inteiro cantou e acabou entrando para a história.
Com toda certeza, hoje Stanislaw Ponte Preta teria motivos inusitados para enriquecer suas deliciosas crônicas, como esta notícia fresquinha de Belo Horizonte:
– Cachorro vítima de maus-tratos vira diretor em Comissão da OAB em Minas Gerais.
Beethoven Fernandes Moreira, um cachorro da raça Shin-Tzu, é o novo diretor estadual da Coordenadoria aos maus tratos da Comissão da OAB e tomará posse simbólica em fevereiro de 2023.
“Parece uma cachorrada”, diria ele, mas é sério, os convites para a solenidade já estão distribuídos.
Mas entremos no clima Carnaval, com aquele grito estiloso de malandro dos cariocas, abrindo os desfiles da Marquês de Sapucaí:
Olha o Samba do Crioulo Doido aí, geeenteee!
Carnaval também é cultura!
Hamilton Gangana é jornalista, publicitário, radialista
Samba do Crioulo Doido
Sergio Porto
Gravação de Demônios da Garoa
Foi em Diamantina
Onde nasceu JK
Que a Princesa Leopoldina
Arresolveu se casá
Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa
A se casar com Tiradentes
Lá iá lá iá lá ia
O bode que deu vou te contar
Lá iá lá iá lá iá
O bode que deu vou te contar
Joaquim José
Que também é
Da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro II
Das estradas de Minas
Seguiu pra São Paulo
E falou com Anchieta
O vigário dos índios
Aliou-se a Dom Pedro
E acabou com a falseta
Da união deles dois
Ficou resolvida a questão
E foi proclamada a escravidão
E foi proclamada a escravidão
Assim se conta essa história
Que é dos dois a maior glória
Da. Leopoldina virou trem
E D. Pedro é uma estação também
O, ô , ô, ô, ô, ô
O trem tá atrasado ou já passou
https://www.facebook.com/oswaldo.oleariouoleare
Crioulo Doido
Kleber Frizzera: Roma eterna | 2/3
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