Oropouche | O Cullicoides, mosquito causador, é pior do que a primeira sílaba

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Oropouche | O Cullicoides, mosquito causador, é pior do que a primeira sílaba

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Cullicoides

Cullicoides é o nome. O autor trata o tema com humor, mas recomenda: “não coloque o seu Cullidoides a prêmio”. Se cuida. Veja como saber mais lá embaixo.

SÓ O HUMOR SALVA |

RENATO FISCHER

Essa doença vale a pena pegar. Olha que nome!! Parece mistura de francês com apachês ou Francês com comanchês.

Oropouche. E você deve pronunciar em duas etapas: Oro Pouche. Com bastante tonicidade no POU. Assim, ó: Oro POUche! Isso, com exclamação. Pra dar mais garbosidade; eu diria até mais excentricidade.

Olha que status você adquire quando chegar no salão do automóvel e dizer para seus amigos: tive Oro POUche!

Vai fazer desabrochar suspiros de inveja, com certeza. Alguém mais maléfico vai querer te menosprezar:

– Foi dengue não?

Por isso é muito importante ter no bolso aquele PCR específico. Será a paulada final para matá-los de ciúmes. Como se você passasse por eles ao volante de uma Lamborghini.

OroPOUche não é uma doencinha qualquer. É como aquela música do Zeca Pagodinho.

Tem origem pobre mas de coração; de essência nobre. A princípio pelo seu transmissor, o Cullicoides. Pra começar com essa sílaba, já viu: é pior do que cunhado.

E não para por aí. Ë brasileiro. E o pior: da terra do clã político dos Barbalhos, do Pará. Não pode ser flor que se cheire.

Cullicoides paraensis. Esse é pior que onça pintada.

Tem apelido de marinheiro. Maruim. Não à toa. Pica pra caralho.

O vírus, nem se fale. O nome é a cara de pobre: Orthobunyavirus oropoucheense.

Tem mais H, Y e letras repetidas do que beneficiários do bolsa família. Para os íntimos é chamado de OROV.

Igual o Joseph Anthony. Mas pode chamar de Zé. Ou Tunin.

Não importa sua origem. A doença é nobre. Quem pegar terá seu pé gravado na calçada da fama.

Muito diferente de ter chicungunha. Essa você tem que esconder. Não comente nem com seu cachorro. Ele vai rosnar e te deixar falando sozinho.

Aliás, nos últimos anos, o que tem surgido de vírus novos com doenças esquisitas não está na história da Medicina.

Sida, Zica, Dengue, Corona, Bozo (esta, é de lascar!), os vários HNs da vaca louca e até das galinhas.

Não livraram nem a cara da vaca indiana, que é sagrada.

Por falar nisso, uma amiga me confessou, dia desses, que se sentia como uma vaca na Índia.

Perguntei se se sentia sagrada. Ela me respondeu chorosa que há anos ninguém comia.

Mas de todas essas doenças viróticas, a que mais me dá repulsa é a chicungunha.

Que nomezinho desgracado! Quem inventou tem que ganhar o Nobel da imbecilidade. Ou queria muito sacanear quem pega essa porra.

Pegar chicungunha é pior do que ser atropelado por um Fusca. Tá lá você todo esmulambado na enfermaria, com as pernas içadas por um monte de ferro, quebrado igual arroz de terceira e tem que confessar pro seu amigo que vem lhe visitar, que foi o fusca.

Não podia procurar uma Porsche, cacete?

Tem tanta doença no mundo e o infeliz vai pegar chicungunha. Não podia ser um Carcinoma hepatocelular?

Nome menos pobre, ne? Ou Infarto do Miocárdio! Olha que elegante! Mas chicungunha é foda (Renato Fischer).

Renato Fischer é jornalista, médico, empresário

Capa: Insetos da espécie Culicoides paraensis, popularmente chamados de maruim ou mosquito-pólvora. Foto: Coleção de Ceratopogonidae do IOC/Fiocruz