Dona Guilhermina
Data da década de 1930 o Bolsa de dona Guilhermina, diferentemente do que se propaga por aí, a partir do primeiro Governo petista, como sendo uma criação de Lula, para elegê-lo e reelegê-lo quanto desejar por meio da votação dos mais pobres.
A criação do Bolsa nasceu no imaginário dessa mulher quando seu marido, Sebastião Garcia de Freitas, morreu ainda moço na cidadezinha mineira de Aimorés, deixando-lhe como herança 11 filhos, a maioria ainda criança, um pedacinho de chão e uma modesta casa sem água encanada e sem luz elétrica.
Dona Guilhermina, nascida e criada em Colatina, ES, pelo seu avô, major Raimundo Lucas da Fonseca, um militar linha dura, que a ensinou a viver de seu suor sem nunca depender de nada e de ninguém, a não ser do seu próprio trabalho.
Logo depois do enterro de Sebastião, essa brava mulher, já acostumada ao seu trabalho árduo, reuniu a turma toda (eu, com 5 anos e a minha irmã caçula com 3, os últimos do time), e assinou o seu AI 1, estabelecendo que todos, independente de suas idades, tinham que trabalhar para poder comer.
Foto do Rio Doce nos anos em que se passa o relato do autor.
No pequeno pedaço de chão localizado na beira do Rio Doce, seria implantada uma grande horta, como aconteceu, e tudo que era produzido ali, juntamente com o dinheiro da lavagem de roupas para fora por dona Guilhermina e as filhas mais velhas, era para o sustento de toda família, sem jamais recorrer aos avós e tios que eram bem de vida.
Na cabeça de dona Guilhermina não havia outro jeito de todos sobreviverem a não ser do trabalho honesto e persistente; parecia até que o lema da bandeira do Estado do Espírito Santo “Trabalha e Confia” havia sido uma invenção dela…
Daí o fato de dona Guilhermina criar o seu Bolsa, só que o nome deste era “Bolsa Trabalho” e não o que o petismo inventou depois, passando a ideia segundo a qual os pobres não precisam trabalhar, dependurados no programa do governo.
Sem dúvida sou um defensor intransigente de políticas públicas de melhor distribuição de renda, para diminuir a distância abismal entre ricos e pobres, que continua sendo uma vergonha entre nós, só que para tanto o Bolsa deveria ser como o de dona Guilhermina, com trabalho e melhores salários para todos.
Alencar Garcia de Freitas é jornalista aposentado
Foto de capa: