E Agora
AQUI RUBENS PONTES: MEU POEMA DE SÁBADO
“NÃO POSSO PRESCINDIR DA JANELA
PRETENDER A LUA É MEU OFICIO”
“O encantamento do poeta maratimba Miguel Marvilla”
Com esse título, a livraria-café Jalan Lalan, na Praia do Canto, Vitória/ES, promoveu em 2019 evento em homenagem ao escritor e poeta Miguel Marvilla, cuja morte havia completado 10 anos.
“O Encantamento do Poeta Maratimba”
Teve roda de conversa e recital com Jorge Elias Neto, médico, escritor e amigo do poeta, que o acompanhou até seus últimos dias no hospital, quando morreu em 2009, aos 50 anos de idade, vitimado por um câncer.
Miguel Marvilla passou a se integrar ao cenário do pensamento criativo capixaba como um dos mais destacados escritores de poesia do Espírito Santo, tendo também publicado em 1989 o livro de contos “ Os mortos estão no living”, sucesso editorial e de críticas de louvação.
Miguel Marvilla nasceu em Marataízes (*), tendo, com a separação dos pais, passado a morar no Orfanato Cristo Rei, em Vitória, onde era escalado para ler o evangelho nas missas e encontrou o gosto pela leitura na biblioteca da casa, onde se encantou com a literatura de histórias em quadrinhos, segundo conta sua biógrafa Joana D’Arc Herkenhoff.
Na adolescência, conheceu a obra de outros grandes escritores, entre eles Gabriel García Márquez, seu favorito.
Ainda jovem, entrou em contato com grandes escritores capixabas, como Oscar Gama Filho, Renato Pacheco, Reinaldo dos Santos Neves, José Augusto Carvalho, Marcos Tavares, Fernando Achiamé, Luiz Busato, quando foi criado o “Grupo Letra” .
“Era um militante da cultura”, confessou o escritor Sérgio Blank.
De origem humilde, Miguel Marvilla se formou em Letras na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde cursou mestrado em História. Foi editor da revista “Você”, publicada pela Ufes.
Sérgio Blank anotou a proximidade do estilo do poeta capixaba com a escrita de Carlos Drummond de Andrade, que chegou a lhe enviar cartas de felicitações por seu primeiro livro.
As intertextualidades e diálogos com outros escritores como Carlos Drummond e Fernando Pessoa estão presentes na obra de Miguel Marvilla, que atinge um estágio de grande maturidade no livro “Dédalo”. Nele “são resgatados os experimentos formais e o humor dos seus primeiros livros, somados a outras conquistas como a habilidade de manejar o poema longo, o soneto, a ousadia de retomar o coloquial, as quadras populares e os mais variados ritmos e métricas”, conforme escreveu Joana D’arc Herkenhoff.
Recebeu prêmios por sua obra, tendo sido eleito, em 1991, já com vários livros publicados, para a cadeira de número 18 na Academia Espírito-Santense de Letras
Fundou junto com Christoph Schneebeli a “Florecultura”, que marcou história no campo editorial capixaba.
“Como editor, Miguel Marvilla estabeleceu novos padrões de qualidade do livro feito no Espírito Santo. Antes dele, o livro capixaba tinha cara de livro capixaba, você já notava quando via em cima da mesa, não precisava nem abrir”, conta Saulo Ribeiro, da editora Cousa.
Se antes se utilizavam papéis de menor qualidade, com brilho, diagramações pouco atrativas, a Florecultura elevou a qualidade e sinalizou caminho para outras editoras.
Sérgio Blank registrou a importância de reeditar a obra de Miguel Marvilla e chamar a atenção dos jovens escritores para a qualidade e singularidade de sua escrita.
Sobre “Os mortos estão no living”, o próprio autor chegou a criar um blog para publicar e discutir a obra, que havia sido indicada para compor a bibliografia do vestibular da Ufes de 2007 a 2009.
Nos últimos anos, a atriz e escritora Suely Bispo tem sido uma das que mantém viva a obra do poeta, por meio de sua peça “Um recital para Miguel Marvilla”, apresentada no “ Palácio Sônia Cabral”, durante a segunda etapa do Festival Nacional de Teatro Cidade de Vitória, entre outros eventos.
Embora contemporâneos na universidade, Suely Bispo não chegou a conhecer Miguel Marvila mas se debruçou sobre sua obra a partir de 2014 para produzir a peça, que passa desde as brincadeiras poéticas do escritor em seus jogos com as palavras e uso de ironias, até ganhar um contorno mais dramático quando o poeta fala sobre o medo e a morte, com quem flertou por muitos anos, no enfrentamento do câncer que o matou.
Suely Bispo fala que sua poesia favorita de Miguel Marvilla uma curtinha, chamada Ofício:
“Não posso prescindir da janela
Pretender a lua é meu ofício”.
O Portal Don Oleari e o colunista selecionaram e, acordados, publicam esta semana o poema “E Agora” do poeta Maratimba Miguel Marvilla.
Rubens Pontes, JORNALISTA
Capim Branco, MG
E AGORA
Miguel Marvilla
E agora em desconcerto me pergunto
onde estou. Vou ver quem sou, volto mais mudo.
Ao silêncio, então, me exponho e, novamente,
sucumbido à solidão, calmo, entredentes,
vejo a luz que interrompia as persianas,
ouço a música dos corpos que eu tocava,
lembro os gestos de uma busca alucinada
do prazer que se antevia neles. Tantas,
tantas vezes, porém, encontrei Lias
disfarçadas entre as formas de Adrianas,
cada qual plantada em sua própria ilha,
que, por último, eu assim me esqueci
de encontrar-me e, a cada instante que passava,
fiquei nelas – eu assim que me perdi.
(*) MARATAIZES
Marataízes partilha sua origem histórica com o município de Itapemirim, cujo povoamento se iniciou em 1539, quando Pedro da Silveira estabeleceu fazenda perto da foz do rio Itapemirim. Em 1700 chegavam da Bahia, Domingos Freitas Bueno Caxangá, Pedro Silveira e outros, que se ocuparam da cultura da cana-de-açúcar, dando continuidade à construção do povoado.
Em 1771, quando os índios Puris atacaram as Minas do Castelo (atual município de Castelo), seus moradores se refugiaram na foz do rio Itapemirim, fundando, naquele local, a Freguesia de Nossa Senhora do Patrocínio, hoje Barra do Itapemirim.
Em 1901, o engenheiro Emílio Stein iluminou sua oficina e o Trapiche com energia elétrica gerada por um dínamo movido a vapor. Foi a primeira usina elétrica do Estado.
Acredita-se que o nome “Marataízes” tenha sua origem na língua tupi-guarani, com o significado “água que corre para o mar
Outra versão é de que o nome se origina de uma função da linguagem e da religião utilizada pelos negros que aqui habitavam e tinham como dialeto a língua “marata”, das tribos africanas “bantos”, e que veneravam a deusa Ísis, protetora das famílias
Elevado à categoria de município com a denominação de Marataízes, pela Lei Estadual n.° 4.619, de 16-01-1992, desmembrado do município de Itapemirim. .
Em divisão territorial datada de 2007, o município é constituído de 2 distritos: Marataízes e Barra do Itapemirim.
Fonte
Marataízes (ES). Prefeitura. 2017. Disponível em: https://www.marataizes.es.gov.br/pagina/ler/1002/perfil_historico. Acesso em: abr.
É Agora
Kleber Frizzera: Redenção | 9/7
E Agora
https://www.facebook.com/umrecitalparamiguelmarvilla/
É Agora
É Agora