esfirra
Devemos aos sírio-libaneses muito mais do que a esfirra: uma marcante contribuição para o desenvolvimento do Espírito Santo.
Reproduzida a propósito da turbulenta discussão sobre imigrantes nos Estados Unidos, a partir da eleição do empresário Donald Trump para novo mandato de presidente
Foto de capa: a histórica loja Flor de Maio, uma das mais antigas da Praça Oito de Setembro, marca inesquecível de sírio-libaneses na economia da capital do Espírito Santo, Vtória – Mintaha Alcuri Campos (UFES) & Morro do Moreno.
Coluna AQUI RUBENS PONTES |
Meus poemas de sábado
Desde quando, a partir do ano de 1822, foi permitida a migração de colonos europeus para o Espírito Santo, o território recebeu centenas de grupos familiares que vieram em busca de realização dos seus sonhos de vida a eles negado ou dificultado pelos impeditivos problemas gerados pelos governos europeus da época.
Nossa História reconhece e exalta a importância dos portugueses que primeiro aqui plantaram bandeira, dos negros trazidos da África como mão de obra escrava e, no tempo, destaque para os pomeranos, tiroleses, holandeses e majoritariamente alemães e italianos.
O Editor Chefão do Don Oleari Portal de Notícias vem chamando nossa atenção para um grupo relativamente mais discreto de imigrantes que, no entanto, deixaram profundas marcas no nosso processo civilizatório: os sírio-libaneses.
Sob domínio turco, durante a segunda metade do Século XIX e as primeiras décadas do Século XX, elevado número de libaneses emigrou para diversos países da América, África e Europa.
A professora Mintaha Alcuri Campos narra o episódio como verdadeira diáspora que abalou toda a vida social e econômica do Líbano.
Fernando Achiamé, neto de libanês, ressalta terem sido suas dificuldades para migrar ainda maiores porque não tiveram ajuda financeira dos seus governos, ao contrário dos imigrantes italianos e alemães.
Para se adaptar às nossas plagas não foi muito diferente. Jovens e solteiros em sua maioria, os primeiros imigrantes libaneses que aportaram no Espírito Santo não possuíam dinheiro.
E eram trabalhadores não qualificados.
Tornaram-se, sobretudo por isso, mascates (*), atividade que não exigia capital – a mercadoria poderia ser adquirida a crédito e seu escoamento era rápido e lucrativo.
“Seu baú era uma verdadeira feira ambulante, e com ela o mascate percorria vilas, cidades e fazendas, facilitando a circulação de riquezas, aproximando o produtor industrial do consumidor de baixa renda”, anota Fernando Achiamé.
(*) O mascate, termo de origem árabe, foi uma criativa solução para fixação de sírios libaneses no Espírito Santo, levando-os no tempo a marcar presença em todo o território do ES em fase de desbravamento nos Séculos XVII e XVIII.
A falta de transporte e as enormes distâncias entre os centros em expansão progressiva e as pequenas vilas facilitaram a proliferação do mascate e sua permanência no Estado”.
Nessas caminhadas pelo interior de um território ainda quase intocado, o mascate era ainda um comunicador, propagando acontecimentos nacionais e estabeleceu elos de natureza viária.
Juntando capital, no interior abriam lojas e armazéns em pontos estratégicos e na Capital lojinhas e armarinhos.
As principais famílias libanesas no Brasil eram então elencadas em Alegre, Cachoeiro do Itapemirim, Muqui, Iconha e Anchieta, São Mateus, Nova Venécia e Colatina.
De mascates e tropeiros a proprietários de lojas, açougues e padarias foi uma questão de desdobramento de tempo e formação de capital.
O sucesso alcançado pelos imigrantes libaneses no Espírito Santo despertou interesse além das fronteiras do território.
Mohamed Cade (citado por Salomão Cade) é uma expressiva confirmação.
Depois de mascatear ao longo do Rio Amazonas, veio se estabelecer em Caparaó, depois em Guaçuí, onde passou a viver como pequeno comerciante.
Cachoeiro do Itapemirim
Em 1920, outro exemplo, Cachoeiro do Itapemirim, então com 42 mil 840 habitantes, passou a abrigar uma população libanesa de 2.981 pessoas.
Luiz Buaiz nos conta que seu pai, depois de se associar com um irmão em um estabelecimento em Vitória, desligou-se dele para abrir a Firma A. Buaiz & Cia., no ramo de secos & molhados.
Suas primeiras atividades industriais foram implantadas em São Torquato, município de Vila Velha/ES, quando ali era um extenso mangue.
Em Vitória/ES, é marcante a presença de sírio-libaneses em atividades comerciais e de comunicação, com seus estabelecimentos instalados em todos os pontos da capital e de outros municípios da Região Metropolitana de Vitória.
Alguns nomes relacionados a conquistas nos diversos planos da atividade humana estão intimamente ligados à nossa História:
Neffa, Helal, Hilal, Rizk, Buaiz, Abdala, Alcuri, Asha, Assad, Bichara, Carone, Haddad, Kalil, Mameri, Mansur, Nader, Nascif, Saad, Shebab, Tanuri, Minassa, …
Em 2006, estimava-se entre 100 e 150 mil o número de descendentes de libaneses residindo no Espírito Santo.
A culinária
Os glutões da redação aduzem: e a culinária dos libaneses herdada por nosotros?
Sim, quibe, esfirra, tabule, homus, babaganoush…
Foi quando a jornalista primeira dama do Portal Don Oleari, Lena Mara, que entre outras atividades conduziu durante algum tempo os negócios e a seleta cozinha de restaurante restrito, observou, sem desmerecimento, ter a esplêndida culinária libanesa recebido influência de outros países, como Índia, Paquistão e Turquia…
Diretamente dos libaneses, herdamos alguns vocábulos como o açúcar (assukar), azeite (azz-zayt)…
A cultura árabe
A cultura árabe envolve idiomas, tradições e povos que se originaram da África Setentrional, Ásia Oriental e Oriente Médio.
Surgiu com os povos semitas, descendentes de Ismael, filho patriarca de Abraão, e depois com a formação do império árabe no Século VII, a religião e sua cultura se alastraram por toda a península, mudando os costumes dos povos nômades.
Há entre os árabes maioria muçulmana, mas também cristãos e outras crenças e, assim, eram igualmente aceitos em território onde a maioria era muçulmana.
A língua árabe possui 3 vogais e 22 consoantes, escrita da direita para a esquerda.
O árabe é idioma oficial em 26 países, um dos mais falados no mundo.
Os árabes são apontados como criadores da bússola, os primeiros a utilizar a química moderna e foram os descobridores do álcool.
Herança dos matemáticos árabes os algoritmos arábicos, a álgebra e o conceito do zero. Sua arquitetura e sua engenharia tornaram possível a construção de mesquitas, cúpulas, mirantes e palácios.
Brasileiros visitam o Líbano
Em 1876, o Imperador Dom Pedro II visitou o Líbano e a Síria, passando lá alguns dias, e pesquisas registradas por jornais da época mostram que houve incentivo ao fluxo imigratório, para o Brasil, escreveu Achiamé.
No nosso tempo, Juscelino Kubitschek, então Presidente do Brasil, visitou o Líbano e retornou dizendo-se apaixonado por Beirute, segundo ele uma das mais encantadoras cidades do Mundo.
O Portal Don Oleari se sente honrado com esse rápido registro e abre seus espaços para os intelectuais de origem sírio-libaneses para suas possíveis manifestações, observações e eventuais correções.
Com a Coluna, dois poemas sobre o Líbano.
Rubens Pontes, jornalista
Capim Branco, MG
Líbano
Nagib Anderáos
Querida Pátria longínqua,
Dos vales, da neve, do mar,
Terra dos ancestrais,
De Deus, dos avós, de Gibran,
Será que poderei voltar?
Meu coração está aí,
Do Kadisha ao Sidon,
Das cavernas à Galiléia,
Sete mil anos de História,
Fenícios, desbravadores,
Continuamos viajando,
Com a Pátria no coração.
Feliz aniversário.
Beirute
Do livro “Palavras Emanadas da Alma”, de Luciano Aschkar
De berço fenício, muitos te desejaram,
gregos, romanos, bizantinos e otomanos.
Vaticinada, todavia, sido havia,
serias,
e sempre serás,
“Insha’Allah”,
com toda tua beleza,
a capital libanesa.
Ontem Julia Augusta, Berytus.
Hoje Beirute.
Sempre pomposa,
destacada
na Baía de São Jorge,
iluminando, em tom alaranjado,
a porta de entrada do Oriente Médio.
Quem vem pelo mediterrâneo
ao avistar-te sente tua imponência,
e de imediato por ti nutre reverência.
Quem te vê pelo céu imagina que és
parte do imenso véu,
o recanto dele chamado paraíso.
Tua pujança é magistral,
tantas vezes assolada pelo mal,
renasces e transcendes,
sempre imponente,
orgulho da tua gente.
Beirute, Beirute.
És amada até por quem nunca te viu,
e quem te viu, certamente evoluiu.
Luciano Aschkar.
Créditos:
Mintaha Alcuri Campos (UFES) & Morro do Moreno (compilação de Walter Aguiar Filho) – https://www.morrodomoreno.com.br/
Fernando Achiamé, da Academia Espírito-santense de Letras.
https://www.facebook.com/groups/memoriacapixaba
Marcelo Coelho: Meu encontro com Wayne Shorter | 9/3
esfirra, esfirra, esfirra, esfirra, esfirra
esfirra, esfirra,
esfirra,
esfirra
esfirra
esfirra