História secreta, História secreta
Tenho à disposição aqui em casa algumas camisetas do América. Todas com as correspondentes estrelinhas bordadas no peito, ao lado do escudo do time. Quase não uso para não causar inveja
NEC = Nota do Editor Chefão, Don Oleari – Reproduzido com autorização do nosso cronista maior.
Na nossa vibrante torcida no Maracanã, éramos três: papai, vascaíno; Sergio, meu irmão Flamengo doente; tio Landinho, América tradicional; e o indeciso que vos fala, tendente a mudar do Fla para o alvi-rubro carioca, o América.
Todos os demais torcedores no maraca eram flamenguistas. Diziam as más línguas que a torcida americana cabia em uma Kombi e ainda sobrava espaço.
Daí em diante, Landinho e eu íamos até a treinos na Tijuca. Camisa rubra, tínhamos um insólito grito de guerra: “Sangue, Sangue, Sangue!”. Queiram desculpar a modéstia, mas o hino do time foi composto por nada mais, nada menos, que Lamartine Babo, compositor de categoria e torcedor fanático do América.
Respeitável público, saibam que no ano da graça de 1974 a Taça Guanabara foi para a estante dos campeões do clube, eternizando esse esquadrão puro sangue entre os imortais da época. A final foi um baile no Fluminense, embora o placar por piedade tivesse ficado no 1 a zero, com gol de falta do Orlando – uma transição entre o homem e a locomotiva.
Lembro a vocês os comparsas da vitória : Rogério, Geraldo, Alex Canhão, Ivo e Álvaro. Além do ponta-direita velocíssimo Flecha; do talento e da categoria de Braulio, Luizinho, Edu (irmão do então desconhecido Zico) e do ponta-esquerda Gilson Nunes.
Modéstia às favas, havia o técnico Danilo Alvim, a classe de chuteiras, conhecido e exaltado como o “Príncipe”, apelido que o imortalizou no futebol brasileiro. Já Edu era para mim muito mais jogador do que Zico, juro por Nossa Senhora da Penha, Ele era lembrado pelo drible refinado – curtos e voltados para o ataque.
E assim caminhando nas águas do hino:
“Hei de torcer, torcer, torcer, hei de torcer até morrer, morrer, morrer, pois a torcida americana é mesmo assim, a começar por mim, a cor do pavilhão é a cor do nosso coração… E por aí vai.
Zico, ainda desconhecido, aos 14 anos, ia aos jogos do América para ver seus irmãos Antunes e Edu, que afirmavam sempre: “o craque da nossa família é aquele ali”, apontando para o garoto lourinho e mirrado.
“Podem me prender, podem me bater, podem até me deixar sem comer que não mudo de opinião” (*), sempre achei Edu, o melhor dos três (*) Zé Keti.
Então.
Tenho à disposição aqui em casa algumas camisetas do América, uma delas dada a mim de presente pelo também americano Serginho Egito. Todas com as correspondentes estrelinhas bordadas no peito, ao lado do escudo do time. Quase não uso para não causar inveja.
Mais tarde, acabei sacramentando a minha fé ao encontrar na mesma “república”, quando fazia o curso de Medicina, Lauro Sergio Pereira, até hoje meu grande amigo, torcedores igualmente apaixonados pelo rubro.
Dorian Gray, meu cão vira-lata, é americano doente e fã de Elizabeth II
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Boa leitura
Paulo Bonates
https://www.instagram.com/donoleare/
Eustáquio Palhares | O capixaba maior, Cacau Monjardim | 19/10
História secreta
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