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Kleber Frizzera: Nada mudou? | 4/6

Kleber Frizzera

 

Kleber Frizzera, professor do Departamento de Arquitetura da Ufes (Universidade Federal do ES), engenheiro, arquiteto e mestre em arquitetura pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), secretário de Desenvolvimento da Prefeitura de Vitória/ES de 2003 a 2010.

Nada mudou?

Dentro de mim, dentro de ti nada mudou

Dipaullo & Paulino

 

Nada e’ real

Todo mundo me diz bom dia,

Todo dia e ‘sempre igual

Nada mudou.

Leo Jaime

No episódio 1 da terceira temporada da série Love Death mais Robots, três máquinas inteligentes visitam o planeta Terra, um mundo pós apocalipse, para verificar as últimas tentativas de evitar a extinção da humanidade.

Campos de sobrevivência, de pobres libertários, fortalezas, que abrigam os líderes mundiais ou ilhas tecnológicas, destinados para os ricos, mantiveram nos seus interiores a ganância e a violência humana, dispendendo os escassos recursos disponíveis de forma egoísta e concentradora, e levando ao fim disputas e enfrentamentos por alimentos e a morte de seus ocupantes.

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nave espacial da Spacex

Ao final do episódio, os robots descobrem que os super ricos teriam sido embarcados em foguetes, lançados a um novo paraíso, no planeta Marte, para surpresos, na última cena, ao levantar-se a máscara do capacete espacial de um sobrevivente, um gato, ironicamente pergunta se achamos que seria o Elon Musk.

Muitos acharam, ou ainda acham, que a pandemia recente de coronavírus poderia alterar os hábitos, os comportamentos ou valores da espécie humana. Imaginava-se que diante do sofrimento e perdas coletivas, das rígidas exigências de afastamento social e de atividades remotas, retornaríamos do isolamento mais igualitários, mais solidários, menos arrogantes e mais dispostos a partilhar os bens comuns e proteger e preservar o meio ambiente.

A pandemia deu uma folga, e logo voltaram as guerras, os massacres, feminicídios, os desastres naturais urbanos, os pobres ficaram mais pobres e os ricos mais ricos, ampliando as desigualdades sociais, preconceitos e ódios raciais. Nas cidades e ruas, automóveis engarrafados continuam a gastar energia fóssil, os transportes coletivos continuam insuficientes e protegidos por muros, condomínios residenciais buscam, iludidos, viver mundos alternativos e segregados.

Atividades precárias ampliam as horas de trabalho explorado e de reduzidos ganhos, e, ao contrário, os ganhos de capital financeiro explodem com o abusivo aumento dos juros e lucros.

Nada mudou?

Catástrofes, pragas, epidemias, grandes guerras e genocídios acompanham por séculos a história e a ambição da exploração sem limites dos recursos naturais, um evento recente, e parecem não alterar os gostos e os desejos de poder e dinheiro. Passados os momentos críticos, o esquecimento varre da memória as dores e sofrimentos alheios, e mesmo com os repetidos alertas dos riscos de extinção da vida planetária, mantemos os nossos modos de produção e consumo dos objetos e produtos, a acumulação ilimitada do capital, os gastos suntuários.

Que pode significar esta falta de compromissos com as vidas das atuais e futuras gerações, o descaso com o ambiente terrestre e o profundo egocentrismo que parece ocupar as mentes e corações das burguesias, das elites econômicas e boa parte das classes médias?

Nada nos confirma ou garante que a aliança divina seja eterna e que o próprio criador não tenha se cansado dos fracassos humanos, que a nossa presença terrestre, resultado de complexo e eventual processo de evolução continue para sempre e que a soma de imprevisões nos lance, ao final dos tempos, ao fundo escuro da poeira cósmica.

Um profundo pessimismo contamina os jovens, que mal aguardam que recebam um futuro melhor, ansiosos e deprimidos, em pânico, esperam que tenham ainda tempo para impedir o desastre aparente, e um desânimo afasta os idosos de um outro esforço em vão.

Esgotadas as últimas oportunidades, restarão apenas os gatos, herdeiros de nossos ganhos e fracassos, com seus suaves passos e delicados grunhidos, para anunciar ao universo o fim de um belo projeto divino e humano.

Kleber Frizzera

Junho 2022

Foto de capa: Gato Robô Neko Chan.

https://www.spacex.com/

Escolas Augusta Lamas D`Ávila e Ilda Corrêa Lemos têm palestras de educação ambiental com BPMA e SEMMA | 3/6 

Destaque da Redação PDO

A pandemia deu uma folga, e logo voltaram as guerras, os massacres, feminicídios, os desastres naturais urbanos, os pobres ficaram mais pobres e os ricos mais ricos, ampliando as desigualdades sociais, preconceitos e ódios raciais. Nas cidades e ruas, automóveis engarrafados continuam a gastar energia fóssil, os transportes coletivos continuam insuficientes e protegidos por muros, condomínios residenciais buscam, iludidos, viver mundos alternativos e segregados.

Kleber Frizzera, Kleber Frizzera

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Don Oleari - Editor Chefão

Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
Don Oleari Corporeitcham

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