Mochuara e Mestre Álvaro: muito mais do que dois montes frente a frente.
AQUI RUBENS PONTES – Meu poema de sábado
De Capim Branco, Minas Gerais
Lendas – Segundo a lenda do Pássaro de Fogo, Cariacica e Serra são cúmplices numa história de amor. As duas cidades, segundo conta a lenda, estão ligadas para sempre pela força de um sentimento que une até hoje o índio Guaraci (Tribo Temiminó) e a índia Jaciara (Tribo dos Botocudos). Guaraci significa Sol, Verão, em Tupi.
A Lenda do Pássaro de Fogo foi registrada pela Prefeitura Municipal de Cariacica por sua importância cultural para a cidade como bem de natureza imaterial.
A narrativa se insere na fonte “Lendas de Cariacica” que lembra a origem de Rudá, o Deus Tupi do Amor, que havia surgido para ser o mensageiro entre o sol e lua e despertar o amor no coração das mulheres.
“Segundo a lenda, onde hoje se situam as cidades de Cariacica e Serra viviam duas tribos rivais. O chefe da tribo que habitava Cariacica teve uma filha lindíssima e essa princesa veio a se apaixonar por um valente guerreiro da tribo rival, da Serra.
Dos céus, uma ave fantástica via o sofrimento do casal e seu amor proibido. Decidido a ajudar, o enorme pássaro levava a princesa índia até o encontro de seu amado, mas mesmo com a ajuda sobrenatural os jovens foram descobertos.
Irado, o chefe da tribo pediu a um poderoso xamã que fizesse um feitiço para que os amantes jamais se encontrassem de novo. Assim o velho curandeiro implorou tal provisão aos deuses, que foram extremamente severos e prenderam os dois jovens amantes em prisões de pedra. Dessa forma, a princesa transformou-se no Monte Mochuara (localizado em Cariacica) e o guerreiro no Monte Mestre Álvaro (localizado no município da Serra), ambos condenados a estar um de frente ao outro pela eternidade, mas sem se tocarem ou se falarem.
Talvez por arrependimento das tribos ou dos Deuses, os espíritos que habitavam as florestas do Mochuara fizeram outro encanto. Uma vez por ano os jovens amantes se libertariam de sua prisão de pedra e o pássaro encantado lhes serviria por mensageiro. A ave fantástica se converteu em fogo e no dia 24 de junho é possível comemorar-se o dia em que o pássaro de fogo rasga os céus, levando as eternas promessas de amor da princesa e do guerreiro.”
O escritor Omyr Leal Bezerra insere a Viagem do Fogo durante o Natal sob a forma de um facho que vai do Mochuara para o Mestre Álvaro para regressar na passagem do Natal seguinte.
O PÁSSARO DE FOGO: UMA LENDA DOS INDIOS TEMIMINÓS
Poema de Marco Haurélio
Mais uma vez vou à fonte
Das antigas tradições
Que formam a base das
Velhas civilizações,
E que, no tempo e no espaço,
Sem mostrar qualquer cansaço,
Lega-nos belas lições.
Esta lenda se refere
Aos índios temiminós.
Impelida pelo vento,
Ela chegou até nós.
Relatos encantadores
Nas vozes dos narradores,
Avós dos nossos avós.
O cenário desta lenda
Que envolve povos em guerra
Hoje abrange os municípios
De Cariacica e Serra:
No rico chão capixaba
Vivia um morubixaba
Que era o mais bravo na terra.
Era o pai duma princesa
Chamada de Jaciara,
Um primor da natureza,
Uma esmeralda tão rara,
Que um bravo temiminó,
Ao vê-la no mato só,
Seu coração quase para.
Mas havia um empecilho
Pra que o amor consumasse:
Os pais dos jovens jamais
Consentiriam no enlace.
Guaraci e Jaciara
Não se viam cara a cara,
Não se olhavam face a face.
O jovem ainda tentou,
Com presentes cordiais,
Agradar o pai da moça,
Porém, com planos fatais,
O destino não deixava,
Pois o cacique bradava:
— Somos de tribos rivais!
Não consentirei jamais
Nessa união malfadada.
Prefiro ver minha filha
Antes morta que casada
Com um vil temiminó,
Porque persigo sem dó
Essa gente desgraçada!
E recrutou os guerreiros
Que julgava de valor
Pra criar uma barreira
Com propósito traidor
De impedir que Guaraci
Chegasse perto dali,
Falasse com seu amor.
Todavia apareceu
Um pássaro misterioso,
Que do par apaixonado
Foi correio valioso:
Para a princesa levava
As cantigas que entoava
O guerreiro valoroso.
Do mesmo modo levava
As mensagens da princesa,
As juras de amor eterno
Adornadas de beleza.
O mesmo pássaro trazia
A bonita melodia
Da deusa da Natureza.
O mensageiro celeste
Vez ou outra os conduzia
A duas elevações,
Onde levava e trazia
As cantigas dos amados,
Segredos de apaixonados
Que só o pássaro sabia.
E nesse ir e vir constante,
Acharam de combinar
Uma fuga que pudesse
A vigilância burlar.
Porém o pai da princesa,
Desprovido de nobreza,
Um crime vai perpetrar.
Consultou os adivinhos
Mais importantes da aldeia,
Soube dos planos da filha,
Da fuga pra terra alheia…
Disse, espumando de ira:
— Eu não perdoo a mentira,
Pois tenho sangue na veia!
O chefe, então, conclamou
Um temível feiticeiro,
Que descreveu em detalhes
De Jaciara o roteiro,
Dizendo: — Bravo cacique,
Impedirei que ela fique
Feliz com o seu guerreiro.
Nota: A trágica história de amor entre um guerreiro temiminó e uma princesa de uma tribo rival deu origem a uma lenda com fortes cores europeias, apesar de retratar personagens indígenas. Assim como na lenda do frade e da freira, o castigo que vitima os jovens enamorados é a transformação em dois rochedos.
O guerreiro é o Mestre Álvaro, morro imponente da cidade da Serra. A princesa é o Moxuara, localizado em Cariacica. O misterioso pássaro de fogo, que servia de correio aos dois, ainda pode ser visto nas noites de São João auxiliando os desventurados amantes, no único dia do ano em que recuperam a forma humana.
O pássaro de fogo é um dos poemas do livro Lendas do folclore capixaba (Nova Alexandria).
Editado por Don Oleari
Fonte: Prefeitura Municipal de Cariacica.
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