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Lendas: história de amor entre indígenas selou ligação entre Cariacica e Serra | Rubens Pontes | 20/11

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Mochuara e Mestre Álvaro: muito mais do que dois montes frente a frente.

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Rubens Pontes

 

AQUI RUBENS PONTES – Meu poema de sábado

De Capim Branco, Minas Gerais

Lendas – Segundo a lenda do Pássaro de Fogo, Cariacica e  Serra são cúmplices numa história de amor. As duas cidades, segundo conta a lenda, estão ligadas para sempre pela força de um sentimento que une até hoje o índio Guaraci (Tribo Temiminó) e a índia Jaciara (Tribo dos Botocudos). Guaraci significa Sol, Verão, em Tupi.

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Por do Sol Mochuara | Foto: Claudio Postay

A Lenda do Pássaro de Fogo foi registrada pela Prefeitura Municipal de Cariacica por sua importância cultural para a cidade como bem de natureza imaterial.

A narrativa se insere na fonte “Lendas de Cariacica” que lembra a origem de Rudá, o Deus Tupi do Amor, que havia surgido para ser o mensageiro entre o sol e lua e despertar o amor no coração das mulheres.

“Segundo a lenda, onde hoje se situam as cidades de Cariacica e Serra viviam duas tribos rivais. O chefe da tribo que habitava Cariacica teve uma filha lindíssima e essa princesa veio a se apaixonar por um valente guerreiro da tribo rival, da Serra.

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Mestre Álvaro: vista do Aeroporto por Flávia Miranda Oleare

Dos céus, uma ave fantástica via o sofrimento do casal e seu amor proibido. Decidido a ajudar, o enorme pássaro levava a princesa índia até o encontro de seu amado, mas mesmo com a ajuda sobrenatural os jovens foram descobertos.

Irado, o chefe da tribo pediu a um poderoso xamã que fizesse um feitiço para que os amantes jamais se encontrassem de novo. Assim o velho curandeiro implorou tal provisão aos deuses, que foram extremamente severos e prenderam os dois jovens amantes em prisões de pedra. Dessa forma, a princesa transformou-se no Monte Mochuara (localizado em Cariacica) e o guerreiro no Monte Mestre Álvaro (localizado no município da Serra), ambos condenados a estar um de frente ao outro pela eternidade, mas sem se tocarem ou se falarem.

Talvez por arrependimento das tribos ou dos Deuses, os espíritos que habitavam as florestas do Mochuara fizeram outro encanto. Uma vez por ano os jovens amantes se libertariam de sua prisão de pedra e o pássaro encantado lhes serviria por mensageiro. A ave fantástica se converteu em fogo e no dia 24 de junho é possível comemorar-se o dia em que o pássaro de fogo rasga os céus, levando as eternas promessas de amor da princesa e do guerreiro.”

O escritor Omyr Leal Bezerra insere a Viagem do Fogo durante o Natal sob a forma de um facho que vai do Mochuara para o Mestre Álvaro para regressar na passagem do Natal seguinte.

O PÁSSARO DE FOGO: UMA LENDA DOS INDIOS TEMIMINÓS

Poema de Marco Haurélio

Mais uma vez vou à fonte
Das antigas tradições

Que formam a base das

Velhas civilizações,

E que, no tempo e no espaço,

Sem mostrar qualquer cansaço,

Lega-nos belas lições.

 

Esta lenda se refere

Aos índios temiminós.

Impelida pelo vento,

Ela chegou até nós.

Relatos encantadores

Nas vozes dos narradores,

Avós dos nossos avós.

 

O cenário desta lenda

Que envolve povos em guerra

Hoje abrange os municípios

De Cariacica e Serra:

No rico chão capixaba

Vivia um morubixaba

Que era o mais bravo na terra.

 

Era o pai duma princesa

Chamada de Jaciara,

Um primor da natureza,

Uma esmeralda tão rara,

Que um bravo temiminó,

Ao vê-la no mato só,

Seu coração quase para.

 

Mas havia um empecilho

Pra que o amor consumasse:

Os pais dos jovens jamais

Consentiriam no enlace.

Guaraci e Jaciara

Não se viam cara a cara,

Não se olhavam face a face.

 

O jovem ainda tentou,

Com presentes cordiais,

Agradar o pai da moça,

Porém, com planos fatais,

O destino não deixava,

Pois o cacique bradava:

— Somos de tribos rivais!

 

Não consentirei jamais

Nessa união malfadada.

Prefiro ver minha filha

Antes morta que casada

Com um vil temiminó,

Porque persigo sem dó

Essa gente desgraçada!

 

E recrutou os guerreiros

Que julgava de valor

Pra criar uma barreira

Com propósito traidor

De impedir que Guaraci

Chegasse perto dali,

Falasse com seu amor.

 

Todavia apareceu

Um pássaro misterioso,

Que do par apaixonado

Foi correio valioso:

Para a princesa levava

As cantigas que entoava

O guerreiro valoroso.

 

Do mesmo modo levava

As mensagens da princesa,

As juras de amor eterno

Adornadas de beleza.

O mesmo pássaro trazia

A bonita melodia

Da deusa da Natureza.

 

O mensageiro celeste

Vez ou outra os conduzia

A duas elevações,

Onde levava e trazia

As cantigas dos amados,

Segredos de apaixonados

Que só o pássaro sabia.

 

E nesse ir e vir constante,

Acharam de combinar

Uma fuga que pudesse

A vigilância burlar.

Porém o pai da princesa,

Desprovido de nobreza,

Um crime vai perpetrar.

 

Consultou os adivinhos

Mais importantes da aldeia,

Soube dos planos da filha,

Da fuga pra terra alheia…

Disse, espumando de ira:

— Eu não perdoo a mentira,

Pois tenho sangue na veia!

 

O chefe, então, conclamou

Um temível feiticeiro,

Que descreveu em detalhes

De Jaciara o roteiro,

Dizendo: — Bravo cacique,

Impedirei que ela fique

Feliz com o seu guerreiro.

Nota: A trágica história de amor entre um guerreiro temiminó e uma princesa de uma tribo rival deu origem a uma lenda com fortes cores europeias, apesar de retratar personagens indígenas. Assim como na lenda do frade e da freira, o castigo que vitima os jovens enamorados é a transformação em dois rochedos.

O guerreiro é o Mestre Álvaro, morro imponente da cidade da Serra. A princesa é o Moxuara, localizado em Cariacica. O misterioso pássaro de fogo, que servia de correio aos dois, ainda pode ser visto nas noites de São João auxiliando os desventurados amantes, no único dia do ano em que recuperam a forma humana.

O pássaro de fogo é um dos poemas do livro Lendas do folclore capixaba (Nova Alexandria).

Editado por Don Oleari

https://donoleari.com.br/

 

Fonte: Prefeitura Municipal de  Cariacica.

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Don Oleari - Editor Chefão

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Radialista, Jornalista, Publicitário.
Don Oleari Corporeitcham

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