Língua portuguesa
Coluna
AQUI RUBENS PONTES:
Meus poemas de sábado
A Coluna editada pelo Portal Do Oleari sábado passado abordando obra do poeta português Pedro Vale ganhou repercussão e despertou interesse dos leitores sobre a atividade literária em língua portuguesa falada fora do Brasil.
A população de nove países do Mundo, somando 260 milhões de pessoas, usa a língua portuguesa para se comunicar, os africanos de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e a espanhola Guiné Equatorial. O Timor Leste se situa geograficamente na Ásia.
O Brasil tem a maior população de fala portuguesa, 208. 949.900, e Portugal a segunda, 10. 374.822.
Alda Espírito Santo – Tocando pelo nome e pela obra o coração capixaba
Uma poeta nascida em arquipélago português, admirada e respeitada pelos críticos literários mundiais, a exemplo de capixabas que atuaram como políticos, administradores e paralelamente como poetas, superou preconceitos e é reverenciada pelo povo de São Tomé e do Arquipélago e admirada em Portugal e em países com acesso aos seus trabalhos.
Filha de uma professora primária e de um funcionário dos Correios, Alda Espírito Santo que se tornaria poeta, professora e jornalista, nasceu no dia 30 de abril de 1926, na cidade de São Tomé, capital do Arquipélago de São Tomé e Príncipe.
O escritor Carlos Santos Marques, em texto publicado em janeiro de 2019, registrou traços biográficos de Alda Espírito Santo desde quando, em 1940, ela se mudou com a família para o norte de Portugal, e depois para Lisboa. A imagem da poeta é do trabalho de Carlos Santos Marques.
Foi em Lisboa que a africana realizou seus estudos universitários e fez contatos com alguns dos importantes escritores e intelectuais que seriam os futuros dirigentes dos movimentos de independência das colônias portuguesas da África.
A casa de sua família em Lisboa, no número 37 da Rua Actor Vale, funcionou como local de encontros do CEA (Centro de Estudos Africanos), promovendo palestras sobre temas como Linguística, História e também sobre a consciência cultural e política acerca do colonialismo, do assimilacionismo e da defesa do colonizado.
Na mesma época, Alda Espírito Santo frequentou a CEI (Casa dos Estudantes do Império).
Em janeiro de 1953, regressou a São Tomé e Príncipe, onde atuou como professora e jornalista, com seu nome como poeta ganhando repercussão com a publicação do poema “Trindade”, um J’Acuse africano denunciando o massacre ocorrido em Trindade (São Tomé e Príncipe).
Após a independência de São Tomé e Príncipe, ocorrida em 12 de junho de 1975, Alda Espírito Santo ocupou cargos sucessivos no governo da jovem Nação: Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura, Presidente da Assembleia Nacional
e Secretária Geral da União Nacional de Escritores e Artistas de São Tomé e Príncipe.
Em novembro, 1975, compôs a letra do Hino Nacional de São Tomé e Príncipe, “Independência Total”, documento original levantado pelo Portal Don Oleari e publicado nesta Coluna.
Um ano depois publicou seu primeiro livro de poemas “O jogral das Ilhas”.
Em 1978, teve editado “É nosso o solo sagrado da terra-poesia de protesto e luta”, que reúne uma coletânea dos poemas produzidos entre os anos de 1950-1970.
Alda Espírito Santo, multi-mídia da cultura portuguesa do além-mar, morreu em Luanda no dia 9 de março de 2010.
Esta Coluna publica a letra do Hino Nacional de São Tomé e Príncipe, fac-símile do próprio punho da poeta, e um poema do seu livro mais lido.
Rubens Pontes
Capim Branco, MG
Fonte: Vidas Lusófonas
Pesquisa, seleção e organização – Elfi Kürten Fenske
ALDA ESPÍRITO SANTO
POEMA MASSACRE DE BATEPÁ
Onde estão os homens caçados neste vento de loucura?
O sangue caindo em gotas na terra
homens morrendo no mato
e o sangue caindo, caindo …
nas gentes lançadas no mar …
Fernão Dias para sempre na história
da Ilha Verde, rubra de sangue,
dos homens tombados
na arena imensa do cais.
Ai o cais, o sangue, os homens,
os grilhões, os golpes das pancadas
a soarem, a soarem, a soarem
caindo no silêncio das vidas tombadas
dos gritos, dos uivos de dor
dos homens que não são homens,
na mão dos verdugos sem nome.
Zé Mulato, na história do cais
baleando homens no silêncio
do tombar dos corpos.
Ai Zé Mulato, Zé Mulato
as vítimas clamam vingança
o mar, o mar de Fernão Dias
engolindo vidas humanas
está rubro de sangue.
— Nós estamos de pé —
nossos olhos se viram para ti.
Nossas vidas enterradas
nos campos da morte,
os homens do cinco de Fevereiro
Os homens caídos na estufa da morte
clamando piedade
gritando pela vida,
mortos sem ar e sem água
levantam-se todos da vala comum
e de pé no coro da justiça
clamam vingança …
Os corpos tombados no mato,
as casas, as casas dos homens
destruídas na voragem
do fogo incendiário,
as vidas queimadas,
erguem o coro insólito da justiça
clamando vingança.
E vós todos carrascos
e vós todos algozes
sentados nos bancos dos réus:
— Que fizestes do meu povo?…
— Que respondeis?…
— Onde está o meu povo?…
E eu respondo no silêncio
das vozes erguidas
clamando justiça…
Um a um, todos em fila…
Para vós, carrascos,
o perdão não tem nome.
A justiça vai soar.
E o sangue das vidas caídas
nos matos da morte,
o sangue inocente
ensopando a terra,
clamando justiça.
É a chama da humanidade
cantando a esperança
num mundo sem peias
onde a liberdade
é a pátria dos homens…
(É Nosso o Solo Sagrado da Terra, 1978)
https://www.buala.org/pt/mukanda/poemas-de-alda-espirito-santo
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