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Wilson Coêlho: Um mergulho no espírito | 15/9

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Nada melhor do que uma literatura que é capaz de dar ao leitor o seu lugar de coautor, não no sentido de mudar a história, mas de fazê-lo descobrir que está inserido nela com diversas outras histórias que confirmam seu lugar no mundo como personagem, ora atuando, ora testemunhando acontecimentos. Essa é a maestria de Claudia Lage no romance “O corpo interminável”.

Enredo

Com uma estrutura aparentemente simples, a autora desenha o enredo como uma espécie de pretexto para um universo de implicações que passeiam entre o niilismo e a utopia, onde o amor e a dor são os dois lados da mesma moeda, quando a ficção e a realidade já não têm espaço para se diferenciarem.

 Claudia-Lage-Wilson-Coelho-1.pngCláudia Lage elege o personagem Daniel como um filho que busca resgatar a história de sua mãe, uma guerrilheira desaparecida durante o regime militar de seu país, mas que – de alguma forma – trata-se de uma procura de si mesmo, na medida em que cada uma de suas descobertas faz com que ele questione sua própria existência, na relação consigo mesmo e com os outros.

Por um determinado prisma, e no sentido positivo, a contradição pode ser considerada a espinha dorsal dessa obra, considerando os conflitos que a mesma provoca, não como uma fraqueza dos personagens. Muito pelo contrário, pela construção de tramas que estes são obrigados a duvidar das certezas em busca de uma verdade que é flutuante porque perpassa por diversos estágios, desde os existenciais até os políticos, passando pelos psicológicos. O ontem, o hoje e o amanhã são um entranhado em si mesmos, num corpo que não termina, seja biológico, social ou espiritual.

Referendando essa contradição, há um momento em que Daniel e sua amiga Melina leem um mesmo livro da história. Nessa mesma história em que a mãe de Daniel foi torturada e morta, os pais de Melina não viram nada acontecer. É como se estivessem diante da fita de moebius quando parece impossível determinar qual é a parte de cima e a de baixo, a de dentro e de fora.

O-corpo-interminavel-1-1.jpgMas é obvio que Claudia Lage, intercalando a fala de seus personagens acaba por nos propiciar a distinção entre os que estão na parte de cima e os que estão na parte de baixo, bem como os de dentro e os de fora.

Assim, diante de diversas intercadências dos fatos históricos, a partir de cartas, bilhetes, notícias de jornais, fotos e livros, a autora organiza os acontecimentos, inclusive, pela inclusão de muitas outras mulheres que, também como sua mãe, por serem determinadas na luta pela justiça e liberdade, foram perseguidas, estupradas, torturadas e perderam suas vidas. Trata-se de uma obra que dissipa a fumaça que desde sempre tenta tornar invisível o papel das mulheres na história.

Cabe-nos ressaltar a narrativa dessa autora que, para além da habilidade de garantir a unidade de seu enredo, também desenvolve uma linguagem que transita por diversas vias, na medida em que as referências históricas, literárias e políticas, são recheadas de detalhes que escapam do mero discurso para aproximar o leitor em questões e situações íntimas, na medida em que os personagens se detém diante de suas subjetividades, bem como fragmentos do olhar, tanto no espelho quanto na memória.

Em síntese, se é possível sintetizar uma obra tão rica em abertura para novas reflexões, o romance “O corpo interminável”, de Claudia Lage, é um vulcão em chamas para os que desejam conhecer um pouco da história. E, como dizia Antonin Artaud, “o mais importante nos acontecimentos não são os acontecimentos em si mesmos, mas o estado de ebulição no qual eles mergulham o espírito dos homens” e das mulheres, é claro.

Wilson Côelho
Poeta, tradutor, palestrante, dramaturgo e escritor com 23 livros publicados. Licenciado e bacharel em
Filosofia e Mestre em Estudos Literários pela UFES (Universidade Federal do ES); Doutor em Literatura
pela Universidade Federal Fluminense e Auditor Real do Collége de Pataphysique de Paris.
Tem 25 espetáculos montados com o Grupo Tarahumaras de Teatro, com participação em festivais e
seminários de teatro no país e no exterior – Espanha, Chile, Argentina, França e Cuba, ministrando palestras e oficinas.
Também tem participado como jurado em concursos literários e festivais de música.

https://www.facebook.com/wilson.coelho

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Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
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