Rubens Pontes | Nativos do ES confirmam que, afinal, Monteiro Lobato tinha razão: o petróleo é nosso | 8/4

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Monteiro Lobato

Afinal, Monteiro Lobato tinha razão: o petróleo é nosso

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Rubens-Pontes,
jornalista

Coluna

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Rubens Pontes

A produção de café em larga escala, principalmente na região sul do Espírito Santo, foi a principal atividade econômica  que marcou a ocupação do solo pelas levas dos imigrantes que se fixaram  no território, principalmente cruzando as fronteiras das denominada Minas Gerais.

Mas as gentes de outras plagas que vieram povoar o território,  sempre de acolhedores braços  fraternos, diversificaram sua atividade com a cana de açucar e os engenhos, a  criação de galinhas e ovos, municípios batendo recordes com a colheita de gengibre, plantando enfim tudo o que  seu generoso solo retribuía com generosidade.

Os setores  industrial e  de prospecção viriam no tempo, a partir de uma parceria do governo com os setores de mineração e siderurgia.

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porto da samarco, ubu

Arcelor Mittal e  suas  duas  plantas industriais, na Grande Vitória, em Porto Tubarão; a Vale com sete usinas de pelotização com capacidade para 28 milhões de pellets; uma oitava que elevou  esse total em 2022 para 307,7 milhões de  toneladas/ano de  minério de ferro e se consolidando como o maior complexo de pelotização de minério de ferro do mundo.

Finalmente, a Samarco Mineração (*), joint venture da Vale com o grupo BHP,  empresa exportadora sediada em Ubu, município de Anchieta, litoral Sul do ES, segunda maior fornecedora transoceânica de pelotas de ferro do mundo (*). Com  sua nova usina , a quarta, sua produção se elevará para  30,5 milhões de toneladas.

(*) Mesmo tendo a  Samarco ficado  5 anos paralisada, após o rompimento da barragem de Fundão, em Minas Gerais.

“O capixaba tem mania de grandeza”, disse (imagine!) um paulista em visita à redação do portal. Mais  perplexo ficaria ele se a ele  fosse contado o que ocorreu no Espírito Santo desde que seu conterrâneo Monteiro Lobato bradou para o mundo: “o petróleo é nosso!”

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monteiro lobato (*)

Tida como agressão pelos poderes  vigentes, a  posição do grande escritor foi recebida com indiferença e até com  hostilidade. Havia nos idos de 1930  interesse oficial em negar a existência de petróleo no Brasil.

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foto: site morro do moreno | cristiano visitando primeiro poço,

O Espírito Santo se manteve equidistante desse entrevero, na expectativa do que o futuro lhe destinava: o nosso petróleo. Até que teve premiados seu silêncio e sua espera.

Foto do site Morro do Moreno. Governador Christiano Dias Lopes visita poço de petróleo de Nativo, em São Mateus | Acervo pessoal de Christiano Dias Lopes Filho.

Em 1967, na região de Nativo, em São Mateus,  um poço perfurado fez jorrar espesso óleo negro, ainda que sem maior expectativa de comercialização, o que iria ocorrer em 1969, dando inicio à produção do “ouro negro” em território espírito-santense.

Atualmente, a extração de petróleo e gás natural  em  Aracruz, no litoral Norte do Es, Anchieta, Itapemirim, Marataízes e Presidente Kennedy,  todos no litoral Sul do ES, é o principal setor industrial do  Espírito Santo, correspondendo a 28 por cento do valor de transformação industrial do estado.

Vale lembrar que o Espírito Santo foi  o primeiro estado brasileiro  a produzir na camada pré-sal, em 2007.

Hoje, o estado ocupa a terceira posição no ranking da produção de petróleo entre todas as unidades da federação, logo depois  de São Paulo e Rio de Janeiro.

Aplaudindo o fato e o feito, o Portal Don Oleari rende igual homenagem aos brasileiros do litoral Norte que pagaram tragicamente alto pelo descuido humano  no manuseio da atual maior fonte de riquezas de que a humanidade tem conhecimento (*).

“Nordeste de mãos limpas”, de Washington Tavares:  um poema que não pede explicação. Até fevereiro de 2020, diz o  Ibama, mais de 5 mil toneladas de óleo foram retiradas, marcando um dos  maiores desastres  ambientais do brasil.

Rubens pontes, jornalista

Capim branco, MG

Washignton Tavares, poeta nordestino, lembrado por Helio Barbosa, narra como tema a luta do povo nordestino contra o criminoso derramamento de óleo no litoral daquela região.

NORDESTE DE MÃOS LIMPAS

Washington Tavares

Nordeste, cabra da peste

Que de covarde não se veste

Que as minhas mãos eu empreste

Pra mode limpar esse mar

 

Doutor, se sente pra não cair

E deixe que eu lhe diga

Que’sse povo dá um boi

Pra num entrar numa briga

 

Mas depois, que a luta n’alma tá entranhada

Pra não sair, doutor,

Esse povo dá uma boiada

 

Doutor, tá vendo esse óleo na praia?

A dor é muita, é de amargar

Mas creia sua excelência

Nós vamos limpar, com muita paciência,

 

Da areia aos mangues, gota a gota…

Esse mar!

 

Desse mar, doutor, “veve” o povo humilde daqui,

A Maria do Sururu, Dé Pescador,

João Boca de Siri, Fatinha do Aratu

É Marisco, caldinho, camarão, caldeirada

É mais que mar…É mais que mar…

Pr’esse povo: é estado d’alma

 

A mão no mangue, a mão na pesca

É tudo que nos resta…pra vida ganhar

Dia e noite no mar, na lida dura

No “estambo” dois “taco” de rapadura

Qu’é pra os meninos estudar

 

E agora, doutor,

O petróleo chegou resoluto

Pintou as praias de luto

O turista espantou

Recifes de corais, estuário, manguezal

A natureza morre no mal

Que o homem espalhou.

 

Com dor, o Nordestevê esse velório

Trazido pelo óleo, que no mar se derramou

Mas doutor, esse povo é tão forte

Com pirão e moqueca vence a morte

Contra o óleo já se ajuntou…

 

 

 

Doutor…É “véio, mulé, mininu”

Cachorro, bode, felino

Que se uniram em amor

Todo mundo em alerta

Esse óleo perdeu a guerra

Quando o nordeste desafiou

 

A gente vai devolver aos meninos

A alegria de domingo com sol e mar

O turista vai encher a vista

E dizer: que águas tão limpas!

Quero me banhar!

 

Nordeste, cabra da peste

Que de covarde não se veste

Que as minhas mãos eu empreste

Pra mode limpar esse mar!

 

Quando um dia doutor,

Nossas netinhas perguntarem:

Vovô, responda de coração,

Por que de todos, o mar do nordeste é o mais salgado?

 

Direi com os olhos lacrimados:

Nele está misturado

O suor dos teus irmãos!

 

Nordeste, cabra da peste

Que de covarde não se veste

Que as minhas mãos eu empreste

Pra mode limpar esse mar!


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(*)  O derramamento de óleo no litoral nordestino é tido como o maior desastre ambiental ocorrido na costa brasileira em todos os tempos

(*) “Em dois livros, ‘Ferro’ (1931) e ‘O Escândalo do Petróleo’ (1936), o escritor Monteiro Lobato documenta a duríssima batalha travada contra a ‘carneirada’ e contra os ‘moinhos de vento’, movido pelo senso de dar ao Brasil “uma indústria petrolífera independente”.

https://twitter.com/donoleari

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Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
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