O Frade e a Freira
O Pássaro de Fogo sobrevoou também as ásperas estepes da Rússia dos Tzares
Foto de capa: O frade e a freira, “fotogarfada” do outro prezado colega Carlos Fernando Lima.
AQUI RUBENS PONTES – Meu poema de sábado
O Don Oleari Portal de Notícias publicou há tempos a Lenda do Pássaro de Fogo, fascinante história de um amor impossível imortalizado nos penedos Moxuara, em Cariacica/ES, e Mestre Álvaro, Serra/ES, ambos na Região Metropolitana de Vitória.
O que se torna para nós instigante é que em 1910 no outro lado Mundo, nas terras dos tzares, quando os sertões do Espírito Santo eram ainda um desafio para os colonizadores que chegavam, o compositor Igor Stravinsky, aos 28 anos de idade, sem possuir qualquer informação sobre o Brasil, sua gente e suas lendas, criou a obra que o tornaria famoso em toda a Europa:
– o balé O Pássaro de Fogo, baseado numa lenda acolhida e reverenciada pelo povo da Rússia, um conto popular sobre um pássaro mágico e brilhante.
A lenda
Segundo a lenda, no jardim do mago Kacthchei, o Imortal, onde viviam jovens princesas prisioneiras e enfeitiçadas, brotavam maçãs de ouro.
O príncipe Ivan Czarevitch (o futuro czar) ao perseguir um pássaro maravilhoso, coberto de ouro e fogo, chegou aos jardins, e sob a árvore das maçãs de ouro, o capturou.
O Pássaro de Fogo implorou por sua liberdade, e atendido, em retribuição, lhe deu uma de suas penas mágicas para que Ivan pudesse chamá-lo quando estivesse em perigo.
O Pássaro de Fogo foi embora, e ao anoitecer a porta do castelo se abriu e as treze princesas que viviam ali cativas saíram para passear.
O Príncipe as observava. Uma delas, a Princesa da Beleza Sublime, tropeçou e caiu no arbusto onde Ivan se escondia, e os dois, ao se verem e se tocarem, se apaixonaram.
As princesas retornam ao castelo, onde Ivan, não mais conseguindo viver sem sua amada, tentou entrar e foi capturado pelos guardas.
Quando Kachtcheï, o Imortal, se preparava para transformar Ivan em pedra, ele se lembrou da pena mágica e a agitou em frente do rosto do mago.
O Pássaro de Fogo surgiu e fez os guardas dançarem a elaborada “Dança Infernal” até a exaustão e cair em sono profundo.
Enquanto dormiam, o pássaro contou a Ivan o segredo da imortalidade de Kachtcheï: o enorme ovo onde vive sua alma.
Ivan destruiu o ovo e, com a morte de Kachtcheï, as princesas foram libertadas.
Ivan e a Princesa Sublime se casaram e coroados czar e czarina.
(Inspirado em texto de Guilherme Nascimento, compositor, doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor de “Os sapatos floridos não voam”) .
O FRADE E A FREIRA
Indo e vindo, retornando ao Espírito Santo, penetrando no mistério contido nas lendas que se sentam no nosso colo e nos fazem sonhar, vamos até O Frade a Freira, monumentos montanhosos que fazem eco às elevações Mochuara e Mestre Álvaro na história já narrada do Pássaro de Fogo.
A História registra o esforço de missionários na catequese dos índios que ocupavam as terras em fase de conquista.
José de Anchieta foi um deles, e o nome do Palácio do Governo é um reconhecimento ao trabalho por ele desenvolvido nessa área.
Mas a marca mais evidente, superando os registros da História, foi deixada por um monge e uma freira, também eles envolvidos no trabalho de colonização dos indígenas.
O frade e a freira, jurados para servir a Deus, se apaixonaram. Fieis ao juramento sagrado, e por força de sua fé, não se entregaram ao chamamento do amor.
Deus se apiedou dos seus servos que não quebraram seus votos juramentados, nos conta a lenda, e como forma de mantê-los unidos para a eternidade, transformou-os em montanhas, lado a lado, frente a frente, com um volume correspondente ao tamanho do seu amor.
As formações rochosas, com 683 metros de altura são conhecidas como o Frade e da Freira, localizados ao lado da Rodovia BR-101, limítrofe de Cachoeiro do Itapemirim, Rio Novo do Sul e Vargem Alta.
A região foi declarada Patrimônio Natural Cultural pela Resolução número 7 de 12 de junho de 1986, do Conselho Estadual de Cultura.
O Frade a Freira, sobretudo pelo encanto da lenda que imortalizou uma história de amor, sensibilizou também a alma dos poetas.
Benjamin Silva, poeta cachoeirense, publicou em 1938, em edição particular, o soneto “Escada da Vida”, uma narrativa poética quase fotográfica dos monumentos que se inserem sem retorno nas histórias lendárias do Espírito Santo.
Rubens Pontes
Capim Branco, MG
ESCADA DA VIDA
Benjamim Silva
Na atitude piedosa de quem reza
E como que num hábito embuçado
Pôs naquele recanto a natureza
A figura de um frade recurvado.
E sob um negro manto de tristeza
Vê-se uma freira tímida a seu lado,
Que vive ali rezando, com certeza,
Uma oração de amor e de pecado.
Diz a lenda – uma lenda que espalham
Que aqui, dentre os antigos habitantes,
Houve um frade e uma freira que se amaram…
Mas que Deus os perdoou lá do infinito
E eternizou o amor dos dois amantes
Nessas duas montanhas de granito.
https://donoleari.com.br/escada-da-vida/
https://montanhascapixabas.org.br/
O Frade e a Freira
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