Pomeranos
Coluna AQUI RUBENS PONTES
jornalista
Santa Maria de Jetibá, romântica cidade plantada no dorso de montanhas na região centro serrana do Espírito SAnto, possui uma população de quase 40 mil habitantes, a maior concentração de pomeranos em todo o Mundo segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A cidade mantém, até hoje, as tradições trazidas pelos imigrantes da Pomerânia, como a língua, a dança, os costumes e a cultura.
A Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) “Francisco Guilherme”, por exemplo, realizou o projeto Poemacast, incentivo para os alunos produzir poemas em formato de poadcast, retratando os sentimentos em relação ao lugar onde vivem e as percepções sobre a identidade cultural formada principalmente pela presença da cultura pomerana e os costumes, tradições e dialetos, que são preservados e transmitidos de geração a geração.
Os poemascasts foram publicados no ambiente virtual Padlet, com tradução para a Língua Pomerana.
Exemplo, o poema escrito pela aluna Derlane Koeheler em língua pomerana, traduzido para o português:
RAÍZES POMERANAS
Descendente do povo pomerano,
tenho orgulho de falar.
Uma grande história tiveram,
e estou aqui para contar.
Emigraram da Pomerânia,
para fome não passar.
Viviam em meio a tantos conflitos,
que era difícil prosperar.
Embarcaram em Hamburgo
e chegaram em Vitória.
Nova terra, novo mundo,
muitas matas e montanhas a desbravar.
Hoje tenho uma dívida
que não consigo pagar.
Criaram tantas coisas,
que tenho orgulho de falar.
Agradeço aos antepassados,
que aqui fizeram morada,
e por nesta terra poder cultivar
Além da apresentação de poemas, o projeto contou também com apresentações de pesquisas feitas pelos discentes sobre a história da imigração pomerana
O Portal Don Oleari e a Coluna se surpreenderam, no entanto, até mais do que com sua fascinante História, com a constatação via IBGE/Pesquisa Pecuária Municipal, de ser o Município o segundo maior produtor de ovos de galinha de todo o Brasil, com mais de 250,4 milhões de dúzias, correspondente a 92,99% de toda produção do Espírito Santo.
Para manter essa conquista, a avicultora do município vem contando com o apoio da Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi) que oferece todo suporte aos pequenos produtores além de comercializar toda sua produção, como acentua Luís Carlos Brandt, gerente executivo da entidade.
Mais de 30 por cento dos ovos colhidos no Espírito Santo é destinado ao consumo interno. O restante abastece o Rio de Janeiro (28%), Bahia (22%), Minas Gerais (13%) e São Paulo (4%), segundo dados do “Perfil da Avicultura Capixaba”.
Somente a Cooperativa Agropecuária Centro Serrana comercializou, ano passado, 382 mil caixas de 30 dúzias.
Diante desse panorama, o Portal Dom Oleari.com passou ao colunista uma instigante indagação:
– Alguma vez na vida o avicultor pomerano se deteve diante da inquieta indagação:
– Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?
Buscamos subsídios para responder à pergunta complexa que nasceu da filosofia e que aborda o problema das origens e da chamada causa primeira.
Ou seja: para existir uma galinha, é necessário um ovo, que, por sua vez, depende de ser desenvolvido por uma galinha — um ciclo sem fim.
De acordo com os princípios darwinistas — a teoria de Charles Darwin que propõe a seleção natural como um mecanismo que possibilita a origem, a transformação e a perpetuação das espécies ao longo do tempo —sabemos que, em um passado distante, a galinha teve um ancestral que não era uma galinha, mas que provavelmente já produzia ovo
Antes de mais nada, é importante ressaltar que os ovos são encontrados em todo o reino animal e, por isso, é necessário entender o que é, exatamente, um ovo.
Basicamente, um ovo é uma espécie de “vaso” delimitado por uma membrana e, lá dentro, um embrião que pode crescer e se desenvolver até atingir a maturidade necessária para quebrar a casca, sair dela e viver por conta própria.
A nossa própria espécie tem um ovo, chamado zigoto — formado pela união do óvulo com o espermatozoide —, mas que, neste caso, não é protegido por uma casca e nem é expelido como as aves o fazem.
O ovo de galinha e de outras aves modernas surgiu pela primeira vez há cerca de 340 milhões de anos, com a evolução dos amniotas, um grupo de animais vertebrados que colocavam ovos com casca em terra. Aliás, os mamíferos, répteis e pássaros modernos descendem dos primeiros amniotas.
Em algum momento da linha do tempo, as mutações e as novas combinações de DNA levaram ao surgimento da primeira galinha moderna.
Evidências arqueológicas indicam que a ave foi domesticada há cerca de 10 mil anos, mas análises de DNA sugerem que a galinha domesticada tenha se separado da espécie selvagem muito antes disso, cerca de 58 mil anos atrás.
Se os primeiros ovos amnióticos surgiram há cerca de 340 milhões de anos, enquanto as primeiras galinhas por volta de 58 mil anos, fica fácil concluir:
quem veio primeiro foi o ovo.
Em 2010, um grupo de cientistas britânicos que investigava a formação do ovo, descobriram na sua casca uma proteína chamada ovocleidina 17, só encontrada nos ovários das galinhas, concluindo com isso que
a galinha veio primeiro.
(Fonte: New Scientist, Australian Academy of Science)
Nada, portanto, ao Portal e ao colunista – (para quem galinha e ovos só são identificados quando saem do fogão e são levados à mesa) – a aduzir, senão reconhecer a extensão das informações sobre a criação de galinhas poedeiras em um dos mais simpáticos e acolhedores municípios do Espírito Santo, Santa Maria de Jetibá.
Mas não estamos sós:
Parece que o bardo inglês, Shakespeare, já tivera em algum momento de sua criatividade uma dúvida semelhante quando se perguntou:
– To be or not to be…
O poema escolhido alude à ideia: GALO GALINHA, de Ferreira Gullar (inédito, in memorian).
Rubens Pontes
Capim Branco, MG
Galo Galinha
Poema inédito de Ferreira Gullar (in memorian)
O poeta
no jornal quieto.
Galo galinha
de alarmante crista, guerreiro?
Jornalista.
De córneo chifre e
esporões, melado
contra o povo,
passeia.
Mede os passos. Para.
Inclina a cabeça coroada
diante do chefe:
— para que mais coisas ?
— a quem eu defendo ?
Anda.
No saguão.
A consciência esquece
o seu último passo.
Galinha: as penas que
fenecem da covardia silenciosa
e duro bico e as unhas e o olho
sem amor. Grave
solidez de bruxa velha.
Em que se apoia
tal arquitetura?
Saberá que, no centro
de seu corpo, um grito
se cala?
Como, porém, conter,
uma vez concluído,
o artigo obrigatório?
Eis que bate as asas, vai
morrer, encurva o vertiginoso pescoço
donde o canto rubro escoa
Mas o povo, a margem,
o passado do poeta
subsistem ao grito.
Vê-se: o jornalista é inútil.
O poeta permanece — apesar
de todo o seu porte marcial —
só, desamparado,
num saguão da Folha.
Pobre e triste cegueira!
Outro grito cresce
agora no sigilo
de seu corpo; grito
que, sem essas penas
e esporões e crista
e sobretudo sem esse olhar
de ódio,
não seria tão rouco
e sangrento
Artigo, fruto obscuro
e extremo dessa galinha: poeta.
Mas que, fora dele,
é mero complemento de página.
GALO GALINHA
Poema inédito de Ferreira Gullar (In Memorian)
https://www.instagram.com/gullar.ferreira/
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