Populismo
A emergência do populismo vinculado às mudanças tecnológicas na comunicação digital tem um marco pioneiro no plebiscito realizado no Reino Unido a fim de confirmar ou não sua saída da União Europeia. O BREXIT, isto é, o divórcio (exit) da Grã Bretanha (bre) da União Europeia foi levado às urnas para ser decidido pelo voto popular.
Uma população educada, instruída, que desfruta um padrão de vida material invejável, num dos países mais estáveis e desenvolvidos do mundo, foi convencida a acreditar numa narrativa falsa construída a partir de medos e preconceitos extraídos de uma ficção infantil povoada por bruxas, fantasmas e vilões.
Para surpresa e preocupação mundial a campanha populista, com a utilização em massa de poderosas ferramentas digitais a favor do BREXIT foi vitoriosa no plebiscito de junho de 2016.
Depois deste desastre político vimos o populismo vencer eleições presidenciais nos Estados Unidos e mundo afora, desafiar consensos científicos consolidados, interferir em mercados, opiniões e comportamentos. A partir desta nova realidade, onde o populismo parece imbatível, os urbanistas americanos Bruce Katz e Jeremy Nowak desenvolveram o conceito de “novo localismo”, explicado com o recurso a vários exemplos de sucesso em cidades americanas e europeias.
O livro destes dois urbanistas publicado em 2017 ainda não tem tradução em português e seu título é “O Novo Localismo: Como impulsionar o desenvolvimento das cidades na era do populismo”.
Agora, segundo os autores do livro, na emergência do populismo, a solução dos problemas reais da sociedade passa a ser responsabilidade principalmente dos líderes locais. O poder se moveu para baixo, dos níveis nacionais para os níveis das cidades e comunidades. O poder também se moveu horizontalmente da esfera estatal para redes de agentes públicos, privados e lideres sociais. Por outro lado o poder também se move globalmente com maior velocidade nos circuitos de capital, comercio e inovação.
Um dos líderes citados no livro é Chris Cabaldon, prefeito de West Sacramento na California, USA. Ele defende uma mudança radical nos métodos de governança, no processo decisório dos prefeitos e líderes locais:
“É preciso construir um “ecossistema de governança” no lugar do “egosistema político” existente, a fim de que seja possível converter forças de mercado e capital cívico em poder financeiro, fiscal e político”.
O tema da governança aparece com força também no ambiente corporativo na medida em que o mundo vive a emergência do “capitalismo de stakeholders”. As empresas privadas que almejam conquistar investidores no mercado de capitais, além de apresentar boa rentabilidade financeira advinda de sua performance econômica, precisam também mostrar resultados em termos ambientais, sociais e de governança (ESG).
Nas empresas privadas acabou o tempo do “manda quem pode obedece quem tem juízo”. O envolvimento dos trabalhadores, clientes, fornecedores, investidores e comunidade nas decisões e ações das empresas passa também a ser fundamental na formação da imagem e no fortalecimento da marca de seus produtos (branding).
Nas cidades brasileiras o aperfeiçoamento da governança passa pela construção de procedimentos de pactuação politica qualificada.
Qualificar a pactuação e o processo decisório significa acabar com os mecanismos de cooptação e as redes informais de influência e privilégios para abrir espaço para acordos e projetos compartilhados em torno de objetivos e metas comuns.
Vencer o populismo no plano local é possível e necessário para a transformação social e para a prosperidade das cidades. É preciso aposentar métodos de gestão ultrapassados e tecnocráticos, biombos do autoritarismo e da ineficiência e praticar uma governança moderna construída com boas técnicas e boa política.