Reflexão política
Artigo |
Por Victor Soto, ator chileno e ativista cultural
Tradução: Wilson Côelho
Compartilho com vocês este comentário como uma reflexão imperfeita de minha parte, não apenas sobre o que aconteceu recentemente na Argentina.
Reconheço que o sistema capitalista neoliberal funciona bem. Tenho a impressão de que não devemos nos surpreender com o que aconteceu na Argentina, uma vez que o modelo de pressão social já operou antes, no Brasil (Dilma), na Bolívia (Evo), no plebiscito da Constituição no Chile (no passado recente), entre outros.
Nisto, as classes dominantes e a influência imperialista fazem-nos crer que os povos – as massas sociais, já cansadas de tanta indolência oficial, inseguranças e injustiças – reagem “espontaneamente” contra a corrupção e a política e descartam os desgovernos que põem em perigo a “democracia”, por isso exigem a presença de forças políticas que lhes ofereçam precisamente o contrário.
Dos setores “progressistas”, eles descrevem a resposta desses povos que acabam votando em setores de direita/ultradireita, como um voto de punição. A estratégia e a tática dos setores dominantes se alimentam do aprofundamento da divisão social, transformando os pobres e as classes médias em inimigos irreconciliáveis, assim como os povos dos países vizinhos ou não.
Na clandestinidade, a concepção de ódio de classe, a luta de classes, é disfarçada de real e se reflete em cada ato de poder. A classe social dominante (dinâmica e ativa), aliás, tem suas próprias contradições, que supera quando seus interesses são ameaçados.
Hoje passou de estratégias militaristas – golpes de Estado – para estratégias político-militaristas populistas de segurança nacional, mantendo vivo o perigo do comunismo como mecanismo de aglutinação social.
Daí, tenderem a estimular nacionalismos estreitos, a insegurança, a delinquência, o medo, a apatia, a farândula, os problemas econômicos, o aumento de preços, o analfabetismo educacional, o político e o cultural, a decomposição social, o futebol, a previdência e tantas outras linhas que são ecoadas em cada país pelos setores dominantes e toda a sua estrutura de poder.
O mundo social pobre está alinhado em formas de sobrevivência e serve de referência para estatísticas que venham justificar políticas públicas que buscam dar uma face humana à sua pobreza.
Enquanto aqueles que lutam para representá-la ou fingem ser suas vanguardas experimentam a derrota de projetos que se chocam com a realidade profunda de cada país e fazem de tudo para capturar este ou aquele segmento.
Aceitam dividir e parecer mais progressistas e se multiplicam em setores políticos “centristas/esquerdistas”, endossando de tal forma as estratégias e táticas políticas e culturais que emanam do poder “invisível” das classes dominantes, que assim desenvolvem a capacidade de transformar as injustiças criadas e produzidas por elas mesmas como resultado de governos que não são capazes de governar ou dar progresso social em justiça e paz.
Por isso, levantam como ponta de lança a necessidade de privatizar tudo como forma de abrir caminho para o progresso.
Enquanto dos setores “progressistas” os apelos são para defender a “democracia”, sem nos dizer que democracia temos para salvar… e nesse sentido e como exemplo e síntese do exposto, é assim que surgiu a proposta de Constituição que deveria ser votada no Chile em 17 de dezembro.
A propósito, penso que é necessário continuar a refletir, a aprofundar e a retirar lições da atual situação no nosso continente.
O autor: Victor Soto Rojas é ator, gestor e ativista cultural, professor e diretor de teatro chileno, criador do ENTEPOLA – Encuentro de Teatro Popular Latino-Americano. Atualmente é produtor do ENFETELA – Encuentro Festival Teatro Latinoamericano.
O tradutor: Wilson Côelho, professor, tradutor, teatrólogo, escritor, poeta, humorista, filósofo
Reflexão política
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