Roma
Feliz me sinto agora, inspirado em solo clássico,
Com voz mais alta e sedutora me falam passado e presente (Goethe).
Kleber Frizzera, de Roma (Itália)
Roma, fim de inverno, 14 graus, segunda feira de carnaval.
A cidade histórica, ocupada por turistas, italianos e estrangeiros, repleta de igrejas, palácios e praças, impressas em pedras e cal sobre a antigo império e uma colagem, um acúmulo de séculos de papas e imperadores, artesãos e artistas, tempos de bonança e de decadência, tempos de paz e tempos de guerras.
Hoje, jovens, estudantes em grupos, casais apaixonados, circulam, ruas e becos, admiram suas fachadas barrocas e ruínas, entram em longas filas para admirar o interior esférico do Panteão ou para tomar sorvete em uma de suas inúmeras sorveterias.
No almoço e à noite, tratorias e pizzarias alimentam, pastas e pizzas, vinho e música aos cansados viajantes, ativam memórias ancestrais, lembranças de outras vidas.
O que faz desta cidade um lugar que atrai viajantes de tantas origens, a experimentar velhos edifícios, escuras passagens, caminhar por entre capitéis desmontados, negros pisos de basalto, acessar ao coliseu, ao fórum, a uma cidade enterrada sob seus pés?
O que ainda nos falam estas pedras mortas?
Roma é uma cidade de multi superposições. Camadas de construções, camadas de eventos, camadas de deuses. Nestas camadas estão depositados poder e fé, foram impressos sofrimentos e gozos, acumulam matérias duras, pedra sobre pedra.
Ruínas soterradas ou deixadas abandonadas, colunas, capitéis, arquitraves, esculturas em travetino, em partes, em largos sítios, ou se deixam entrever entre construções mais novas, exalando melancolias e silêncios. Partes de edificações de origem romana foram usadas para erguer igrejas e palácios renascentistas ou barrocos e ainda é visível as marcas de outras mãos, de outros tempos, talhadas nas suas superfícies.
Prazeres, vividos em banhos, jardins, telas, tetos, expostas ao público ou de consumo privado, estão a todo lado, congelados e incompreensíveis, ou ainda exalando admiração e gozo sensual, estimulando sentidos, emoções, revelando narrativas adormecidas.
Palácios urbanos ou em parques em Tívoli, perto de Roma, convidaram mecenas e cardeais a admirarem figuras mitológicas, lautos jantares, longos passeios nas alamedas do parque iluminadas pelas inúmeras fontes e paisagens.
Uma sucessão de igrejas, basílicas, catedrais. A cada esquina, um santo, inúmeros altares, de pequenos milagres e grandes devoções, religiosas, artísticas ou arquitetônicas, estruturam diversificados percursos, ilustram caminhadas sem fim.
Em torno da praça e da maior igreja, longas filas aguardam pacientes a visão da cúpula sagrada, do baldaquino e do juízo final.
Fantasmas, em seu suntuosos palácios, seguem passo a passo seus tempos encantados, admirados, ao relance, entre vãos iluminados, por acelerados curiosos passantes. Restos superlotam, falsos e verdadeiros, vitrines e sombras das lojas de antiguidades, onde idosos guerreiros desfolham velhos livros e figuras e mapas esperam curiosos clientes.
A pergunta mergulha a resposta.
Ao olhar e corpo investigador, tudo revela e reluz, imagens, muros e tetos, gritos de multidão e gestos solitários, uma folha do passado, um gosto de futuro, cores, de ouro e azul, curvas, circulares e elípticas, dobrando esculturas, arranjos, cúpulas em espiral ao céus. Fragmentos de muitos tempos, em constelações de possíveis arranjos e interpretações, informam virtudes e fracassos, vividas em fé, reinos divinos de vaidades e salvação, abandonados em cinzas ou gravadas em paredes ou mármore, em brilhantes iluminuras, em riscos anônimos e falas sutis.
Espíritos e gatos sussurram aos quatro cantos, sibilam profecias fracassadas, circulam memórias sepultadas, mudas falas, silenciosas, aguardam impassíveis desfeitos amores.
Kleber Frizzera
Roma , fevereiro 2023
Roma eterna
https://www.facebook.com/oswaldo.oleariouoleare
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