São Benedito
Cozinheiro, despenseiro e guardião do Convento Franciscano de Palermo, na Itália.
Coluna AQUI RUBENS PONTES |
MEUS POEMAS DE SÁBADO
No final da coluna, uma especial do grande compositor, violonista, arranjador, cantor Zé Moreira, Benedito Total.
Dezembro é um mês que provoca renovadas esperanças para um futuro melhor do que a dura realidade do frustrado ano belicoso que teima em não se apagar.
Foto de capa: a belíssima Igreja de Nossa Senhora da Conceição, festejada neste dia 8 de dezembro, data de aniversário do município Serra/ES.
Pela frente, porém, sonhamos com um Ano Novo e novos tempos, aguardados com a expectativa de que sepultarão para sempre as mazelas que assinalaram o ano que se vai sem deixar marcados grandes momentos de euforia.
Mês assinalado pelo milagre do nascimento de Jesus, e ainda que desvirtualizado seu espírito, é uma data reverenciada em todo mundo cristão civilizado.
Lembra o companheiro do Don Oleari Portal de Notícias a passagem pelo Espírito Santo do filho de escravos africanos, mais tarde beatificado como São Benedito, deixando para todo o futuro a marca da sua vida santificada.
Não aprendeu a ler, foi cozinheiro, despenseiro e guardião do Convento Franciscano de Palermo, na Itália.
Despertou atenção depois de ter entrado para a vida religiosa, ter feito votos de pobreza, obediência e castidade, caminhando descalços pelas ruas e dormindo no chão sem cobertas.
Com o correr do tempo, São Benedito, emigrando para o Brasil, passaria a ser um dos nossos santos mais populares, protetor dos pobres e dos negros, muito procurado e ouvido pelo povo que lhe pedia orações e seus sábios aconselhamentos. São Benedito é patrono da arte culinária do Espírito Santo.
A origem
O pesquisador Clério Borges registra ter sido a festa de São Benedito originariamente comemorada em Vila do Riacho, Aracruz, ao norte do Espírito Santo, porque os senhores de terras se deslocavam com seus escravos para ali ser comemorado o nascimento de Jesus Cristo, dia 25 de dezembro.
A festa de São Benedito foi por isso transferida para data próxima, fazendo-a coincidir com o Natal.
Foi assim até 1833.
Em tempos atuais, os festejos comemorativos do Dia de São Benedito são realizados no dia 27 de dezembro, praticamente em todo o Estado do Espírito Santo.
Este ano, os festejos começam neste domingo, dia 10 – vejam matéria no Don Oleari Portal de Notícias na nova coluna AQUI SERRA | ES.
O pico dos festejos são na cidade de Serra, sede do município do mesmo nome, que se engalana para isso, atraindo devotos de praticamente todos os municípios do Espírito Santo e do Brasil.
Do centro da cidade da Serra, os adeptos do Santo vão a uma mata próxima, abatem um tronco de guanandi e o transformam em mastro para reger a festa do congo.
É o ritual de cortada, puxada e erguida no dia 25 de dezembro em uma réplica de navio negreiro com o nome de Palermo, onde o santo nasceu e viveu seus últimos dias.
No dia seguinte acontece a fincada do mastro em frente da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade.
As bandas de congo entram na Igreja matriz da Serra para receber as bênçãos do sacerdote.
Bandas de congo (*)
As bandas de congo fazem parte do ritual das festas populares no Espírito Santo, grupos musicais do nosso folclore, formados principalmente por descendentes de escravos.
Os homens executam instrumentos preparados manualmente e as mulheres dançam e carregam a bandeira do santo.
E todos entoam juntos cantigas tradicionais.
Entram depois na Igreja e são recebidos solenemente pelo padre que conduz a Missa.
(*) As bandas são compostas por tambor de congo, bumbo, casaca, reco-reco, cuíca, chocalho, triângulo e apito.
O Conselho Estadual de Cultura reconheceu o Congo como Patrimônio Imaterial do Espírito Santo.
Povo religioso
O povo espírito-santense é por origem religioso e são vários os santos que o confortam, ouvindo suas orações, mesmo aqueles que, como o venerado padre Cícero, não sejam santos canonizados reconhecidos pela Igreja:
São Cristóvão; Sant’Ana, avó materna de Jesus; Santo Antônio, filho da alta nobreza, venerado pelos soldados que lhe rendem honras militares; São Cosme e São Damião, irmãos gêmeos, ambos médicos, padroeiros dos cirurgiões e das confrarias médicas.
Espíritas, católicos e os apóstolos do candomblé comemoram o dia de Cosme e Damião, os santos gêmeos.
Outros santos da Igreja Católica para os quais se voltam as orações em busca de conforto espiritual estão sempre presentes: Santa Bárbara, São Jorge (o santo guerreiro), São José, pai de Jesus, Santa Luzia, São Paulo, São Sebastião, a santa das rosas Terezinha de Jesus.
São Benedito morreu há mais de 400 anos, em 1589.
Seu processo de canonização pelo Vaticano constatou a realização de numerosos milagres por ele praticados, como a cura de cegos e surdos, a multiplicação de peixes e de pães.
Todos nós, do Poderoso Chefão ao Colunista e aos componentes da redação de Don Oleari Portal de Notícias, rendemos nosso tributo e nossa homenagem aos Santos que velam por nós, rogando a todos que estendam suas santas mãos abençoando o povo do Espírito Santo, ainda que deles alguns poucos possam permanecer alheios ou indiferentes.
O poema que fecha a coluna, “São Benedito”, é do poeta Gil de Oliva. No final, ouça Zé Moreira em “Benedito Total”, que, em boa hora, me indicou o Editor Chefão.
Rubens Pontes, jornalista
Capim Branco, MG
Revisão: Márcia M.D. Barbosa
São Benedito
Gil de Oliva
E tão grande essa crença minha,
ao negro, como a cor do carvão,
e o santo que fica na cozinha,
e o santinho do meu coração.
Vejo bondade em seu olhar,
no rostinho suave e tão bonito,
sou feliz, por te adorar
meu querido São Benedito.
Está sempre olhando pra mim,
parece meus passos seguindo,
faça com que não tenha fim
a crença, que o torna tão lindo.
Ele e meu amado padroeiro
que a tempo, habita o meu lar,
será meu eterno companheiro
nunca me cansarei de adorar.
Santo, pode ter essa certeza,
nunca vai te faltar oração,
eu terei o meu alimento na mesa,
sei que nunca, me faltará o pão.
Quando troco a sua flor
em seu olhar, vejo a vida,
você é o santo do meu amor
você é minha imagem querida.
São Benedito
Edição, Don Oleari – [email protected] –