Senzala de Lourdes
Hamilton Gangana, publicitário, jornalista
Fui comentar na última sexta-feira, 13 de maio, sobre o significado da data e lembrei que o confrade Zé Maria, outro dia, reascendeu as brasas do Churrasco da Abolição, que adormeciam em cinzas formadas em meados da década de 80, fazendo-nos recordar.
A inspiração da festa surgiu por dois motivos relevantes: as comemorações dos 100 anos da abolição da escravatura e o anunciado fim da ditadura militar, regime que maltratou o Brasil.
O fim da ditadura, programada para ser “lenta e gradual”, foi anunciado pelo ditador carrancudo Ernesto Geisel e tocado pelo imprevisível general Figueiredo, aquele mesmo que dizia clara e abertamente:
“Odeio gente, prefiro o cheiro dos meus cavalos”…
A televisão criava um clima festivo com exibição de ótimos filmes celebrando o centenário da abolição, com cantorias e falas de Gilberto Gil, Sandra de Sá, Martinho da Vila, Elza Soares, Tim Maia, Jair Rodrigues, Simonal, Mussum, além de feras e estrelas das Escolas de Samba.
Nesse clima de alforria e fim do chumbo, tive a ideia de fazer uma festinha: aconteceram três edições do Churrasco da Abolição, no quintal da Hoje, em área nobre do bairro de Lourdes.
De 25 crioulos ilustres convidados, chegou-se a 150 participantes, na terceira edição, alguns sem convites. O saudoso amigo Javert Thomé Senna, diretor do banco do Progresso e da Escola de Samba Alvorada, levou meia dúzia de mulatas fantasiadas que chegaram rebolando e cantando ao som de reco-reco, agogô e zabumba.
“É só uma amostrinha”, falou! Uma fumegante churrasqueira soltava generosas porções de picanha, cupim, lombo, alcatra e linguiça, regadas a cerveja geladinha, uísque, pinga de Salinas e tudo mais. Contratei um garçom louro de olhos verdes, para servir aos “senhores do engenho”!
A prosa corria leve e solta até mais tarde, sempre numa sexta-feira, mas incomodou à nobre vizinhança de Lourdes.
“Como é que pode um negócio desse! Um barulho ensurdecedor numa sexta-feira, à noite, na hora do jornal Nacional e da novela das 20”.
Parece senzala!
E o bate-papo corria firme até altas horas, afinal era o Churrasco da Abolição, que teve de ser interrompido, mas deixou saudades. Bons tempos.
Hamilton Gangana, publicitário, jornalista
Foto de capa: foto antiga da Praça Marília de Dirceu, no bairro Lourdes, Belzonte.
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