Pitaco do Oleari:
Às vezes acontece. Usando aquele tempo que já nem se tem prum tanto de coisas pra deletar uns trem do gimeil e outras trolhas infernetianas, encontra-se algum que passou batido.
É o caso do texto abaixo, do jornalista Tião Martins, que viajou para outras esferas ano passado. Tivemos o privilégio de publicar várias textos dele no Portal Don Oleari, por obra e graça do nosso amigo comum Rubens Pontes. Aí está, pois.
Por Tião Martins
Meu amigo Mauro Mendes, que girou pelo mundo e voltou à sua cidade natal – Teófilo Otoni – para refletir sobre o bem e o mal, tocar violão e estudar a qualidade de vida dos humanos, deveria conhecer outro amigo, chamado Rubens Pontes, hoje um discreto habitante do Capim Branco.
Algumas coisas eles têm em comum: música, violão, memória e uma boa dose de ironia, além do respeito quase religioso por um escritor e um compositor que inventaram aquilo que o Brasil tem de melhor: Guimarães Rosa e Noel, que também foi Rosa.
Como se houvesse alguma combinação secreta entre os dois, também foram jornalistas, em Minas, no Rio de Janeiro e pelo mundo a fora.
Ambos aprenderam a viver e escrever com alma e coração, publicaram pouco e retornaram, na hora certa, ao mundo encantado de onde vieram: a estranha, modesta e enriquecedora cidade de Belo Horizonte.
Teriam sido irmãos, se um dia se encontrassem em alguma esquina, mas a tal da natureza nem sempre reúne gente assim tão boa.
Sendo assim, enquanto Rubens estava a serviço em Moscou e outras capitais da velhíssima Europa, Mauro afiava as cordas do seu violão em Beagá, no Rio de Janeiro e na casa de campo de Bob Kennedy, em Washington DC.
Viajantes ilustres, diria com o mais crônico horror um desses infelizes que odeiam a liberdade, a inteligência e o saber de jovens e inquietos rapazes de outras eras.
Homenagem de amigos de Rubens Pontes (segudo à esquerda) ao voltar às Minas Gerais.
Rubens e Mauro jamais perderam tempo com esses e outros indivíduos trêmulos e nervosos, porque não vieram a este mundo movidos por tolices, invejas e ódios.
Ao contrário, são capazes até de ajoelhar quando encontram as marcas de Guimarães Rosa na Gruta de Maquiné ou os botequins onde Noel Rosa não se escondia, quando veio a Belo Horizonte para curar um desconfortável combate à tuberculose.
Noel & Rosa ou Guimarães & Rosa ficaram devendo a Rubens & Pontes não apenas o ilimitado respeito pela qualidade das suas criações musicais e escritas, mas também a paixão por autores que o Brasil nunca esquecerá. O Brasil e os Brasileiros…
Outros, muitos outros, reinventaram ou tentaram copiar canções e textos de Noel & Guimarães. E há alguns que tentam até hoje, nas tardes de domingo ou nas longas madrugadas de uma boate carioca.
São infelizes, esses copistas de mentirinha.
Nenhum deles merece a atenção e o carinho com que Noel & Guimarães são abraçados hoje, amanhã e sempre por Rubens & Pontes.
Por sua própria natureza, os três são eternos…
In Memoriam,
Tião Martins