Torre de Babel
Coluna AQUI RUBENS PONTES: Meu poema de sábado
O Portal Don Oleari e o colunista buscaram no Capítulo 11 do Gênesis, primeiro livro da Bíblia, a história da comunicação humana entre os povos.
Segundo as Escrituras, toda a terra possuía uma única língua, falando um único idioma. Não havia dificuldade dos homens em se comunicarem.
Aconteceu que um grupo de nômades, partindo do Oriente, achou uma planície na terra de Sinai, onde se fixou para ali morar, entrando em consenso para edificar uma cidade e nela uma torre cujo topo tocasse os céus para que o povo ao redor dela não fosse espalhado sobre a face de toda a terra.
Relato bíblico, atribuído a Moisés, revela que o Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens estavam construindo.
Torre de Babel foi o nome a ela dado por Deus, significando que ali confundiu o Senhor a língua de toda a Terra:
– “Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma linguagem; isto é apenas o começo e agora não há restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Vinde, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que um que não entenda a língua do outro” (Gn 11,6:7).
A decisão veio do Alto e a linguagem da humanidade deixou de ser uma só, passando desde então a sete mil idiomas para comunicação oral e escrita. Paradoxalmente apenas 23 deles cobrem mais da metade da população mundial, predominando o inglês, o chinês mandarim, o hindi e o espanhol.
Nosso idioma, o português, é falado por 252 milhões de pessoas.
Pois neste mês de maio, o Poderoso Editor Chefão e o colunista se deram as mãos para selecionar poetas de países de língua portuguesa homenageando, ao mesmo tempo, as mulheres do mundo, aqui lembradas também pela passagem do mês de maio, nome originado da deusa grega Maya.
Moçambique, Portugal e naturalmente o Brasil, por suas poetas, se apresentam e com elas o Portal Don Oleari e a Coluna rendem suas homenagens a todos os que nos transmitem em versos emoções na linguagem universal.
Noêmia de Sousa, Maria Teresa Horta e Adelina Tecla Correia Lima são nomes que em qualquer língua universalmente usada significam sensibilidade e emoção.
Rubens Pontes
Capim Branco, MG
Moças das Docas,
Noémia de Sousa
Moçambique, 1926-2002
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniço.
Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines,
viemos do outro lado da cidade
com nossos olhos espantados,
nossas almas trancadas,
nossos corpos submissos escancarados.
De mãos ávidas e vazias,
de ancas bamboleantes lâmpadas vermelhas se acendendo,
de corações amarrados de repulsa,
descemos atraídas pelas luzes da cidade,
acenando convites aliciantes
como sinais luminosos na noite.
Viemos …
Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimba,
do sem sabor do caril de amendoim quotidiano,
do doer espáduas todo o dia vergadas
sobre sedas que outras exibirão,
dos vestidos desbotados de chita,
da certeza terrível do dia de amanhã
retrato fiel do que passou,
sem uma pincelada verde forte
falando de esperança.
Pequena cantiga à mulher
Maria Teresa Horta
Portugal, 1937
Onde uma tem
O cetim
A outra tem a rudeza
Onde uma tem
A cantiga
A outra tem a firmeza
Tomba o cabelo
Nos ombros
O suor pela
Barriga
Onde uma tem
A riqueza
A outra tem
A fadiga
Tapa a nudez
Com as mãos
Procura o pão
Na gaveta
Onde uma tem
O vestígio
Tem a outra
A pele seca
Enquanto desliza
O fato
Pega a outra na
Enxada
Enquanto dorme
Na cama
outra arranja-lhe
a casa.
Inspirações
Adelina Tecla Correia Lyrio
(A primeira poeta capixaba – 29/1/1881)
“Nas tardes da primavera,
bafejadas pela brisa,
que triste rola nos bosques,
saudoso canto desliza;
que o sabiá, na floresta,
gorjeta uma canção,
sinto minha alma enlevada
de suave inspiração.
É nestas tardes amenas,
que na erma soledade,
solta a triste juriti
ternos cantos de saudade;
que, no prado, as lindas flores
exalam divino odor,
que minha lira suspira
saudosos cantos de amor.
É no silêncio da noite,
à luz alva do luar,
que as flores, a meiga aragem,
ligeira, vem bafejar.
Quando a onda vagarosa,
na praia vai desmaiar.
Que mil conchinhas reluzem,
à luz alva do luar.”
Torre de Babel
Torre de Babel
Torre de Babel
Torre de Babel
Agamenon n”O Antagonista”: Lá vem a Janja, toda de branco | 21/5