Os saudosistas do voto impresso querem de volta é o voto formiguinha, que elegeu e reelegeu dinastias em todos os quadrantes do País.
Álvaro Nazareth, jornalista, economista
Era assim: o cabo eleitoral, que conhecia todo mundo da sessão, chegava cedo, escolhia um local estratégico e já combinado com um eleitor da sessão, entregava-lhe um fac-simile da cédula de papel idêntico à original. Porém, sem as assinaturas dos mesários.
Na sessão, esse eleitor receberia a cédula verdadeira, depositária a falsa na urna e levaria a verdadeira com as assinaturas dos mesários, mas, em branco, que entregaria ao cabo-eleitoral e receberia o combinado pela transação.
O cabo-eleitoral entregaria a cédula oficial já preenchida para que outro eleitor a depositasse na urna e trouxesse a outra oficial em branco, mediante o pagamento combinado. E assim por diante.
Agora, querem restaurar o sistema apenas fotografando o comprovante para prestarem conta ao beneficiário.
Ninguém quer saber de voto auditável porra nenhuma. O objetivo é restabelecer o sistema de compra de voto.
Simples assim.
Entendo que voto, atualmente, é eletrônico e captei a mensagem. O contrário, me parece, não se verifica.
Vamos pro que interessa: quem quer o retrocesso é o saudosista do voto comprado. Que é burro, porque todos os de poder financeiro têm acesso ao lance. E, então, o jogo empata e quem pode mais chora menos. Vira uma questão de quem compra mais, você ou eu.
No voto eletrônico não tem compra de voto.
Don Oleari Pesquisa
O voto impresso pode ser o retorno do voto formiguinha, amplamente praticado no passado, responsável por eleições consecutivas de parlamentares em nossas cidades e nosso estado. Também existiu o voto CARBONADO, nem tão eficiente, o voto COMPRADO, o voto CONTROLADO. Neste artigo falemos apenas do 100% eficiente.
Uma das polêmicas que sempre vem a baila pela boca do Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é ideia de se ter voto impresso. O mandatário brasileiro reafirma ter provas de que as eleições de 2018 teriam sido fraudadas, apesar de jamais ter apresentado alguma prova. Enquanto a polêmica não se desfaz, enquanto o presidente não apresenta provas, pergunta-se a quem pode interessar tanto, de uma hora para outra, o voto impresso?
Muitas razões
Numa série de artigos que passamos a publicar, vamos abordar algumas modalidades de irregularidades, ilegalidades e fraudes ocorridas nos tempos em que o voto impresso era usado. Neste primeiro artigo vamos abordar o chamado VOTO FORMIGUINHA ou o VOTO 100% como os políticos que se utilizavam deste meio para ganhar eleições costumavam chamá-lo.
Como funcionava o Voto 100% (Formiguinha)?
Para que esta modalidade fosse implementada para corromper o processo eleitoral vários atores precisavam ser envolvidos, a saber:
- Candidato, era o principal interessado e mentor da fraude;
- Presidente e Mesários da Seção receptora de votos – três pessoas que, indicados pela Justiça Eleitoral, normalmente eram conhecidas, parentes ou amigos de candidatos. Dos três, pelo menos o Presidente precisava se corromper, caso contrário o esquema não funcionaria;
- Eleitor – pessoa disposta a ganhar um dinheiro no dia das eleições;
Como funcionava?
Para que o Voto 100% fosse executado o candidato precisava ter acesso a, pelo menos, uma cédula em branco, mas devidamente rubricada pela Mesa Receptora de Votos. Para ser validado o voto cédula precisava ser assinada (rubricada) pelo Presidente e pelos dois Mesários indicados pela Justiça Eleitoral (Modelo 01). Além de Cédulas rubricadas, o candidato acessava a relação dos eleitores daquela mesa receptora, sempre contando com a conivência do Presidente daquela seção.
O eleitor era levado ao QG da campanha, recebia a cédula rubricada já preenchida com os votos e devidamente dobrada. Com cédulas rubricadas, mas com o espaço do voto em branco e a relação dos eleitores daquela seção eleitoral o candidato saiu em busca de eleitores dispostos a vender o voto.
Ao chegar à seção eleitoral receberia aquela que seria a sua cédula, com o espaço dos votos em branco. Na urna de votação era orientado a dobrar aquela que recebera em branco, guardar e sacar do bolso a que veio preenchida e depositá-la na urna.
Retornando ao QG da campanha do candidato corrupto, recebia o pagamento em troca da entrega da cédula em branco, que também já estava rubricada.
Assim, durante um dia inteiro uma cédula preenchida ia e uma em branco voltava, num verdadeiro trabalho de formiguinha, mas 100% garantido.
Cédulas Falsas
Outra forma que alguns candidatos corruptos tinham para obter uma cédula oficial, assinada e em branco, utilizavam-se de cédulas muito idênticas e que, por descuido do Presidente de Mesa e seus Mesários acabava na urna substituída por um “eleitor mais esperto”, permitindo assim que uma cédula oficial em branco passasse a circular de mão em mão.
Vereadores e deputados elegeram-se em Santa Catarina com esta prática num passado não tão remoto assim.
https://clicnavegantes.com.br/noticias/voto-formiguinha-100-eficiente-na-corrupcao-eleitoral/
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