Quem somos[email protected]

Search

Rubens Pontes | Santa Teresa: cidade das orquídeas, dos beija-flores e da vinicultura | Ode ao Vinho, de Pablo Neruda

beija-flores
Rubens-Pontes-4-1-da-assinatura-1.png
Rubens Pontes,
jornalista

beija-flores

Coluna AQUI RUBENS PONTES

O primeiro contato do colunista com Santa Teresa, no Espírito Santo, ocorreu em fins de 1985.

À época trabalhando na Editora Expressão e Cultura, grupo editorial do Rio de  Janeiro, fora incumbido de recolher subsídios para a edição do livro “Orquídeas do Estado do Espírito Santo”, de Augusto Rushi. O livro foi editado em janeiro de 1986 em versão bilingue, português-inglês.

 orquideas-do-es-ruschi-rubens-pontes-1.jpg

O que não podia ser previsto era o retorno, tanto tempo já percorrido desde então, à fascinante cidade, já agora honrado como um dos colunistas do Portal Don Oleari – www.donoleari.com.br – com enfoque em outra área, também pioneira, implantada na região pelos imigrantes italianos: a produção de vinhos.

O Editor Chefão, Oswaldo Oleari, ele próprio reconhecido “engólogo”, destacou a importância para o Espírito Santo dessa vocação, despertada sua atenção para o vinho Grano D’oro, produzido com uma uva nova, frutado, aromático, bem encorpado, que não passa por envelhecimento em madeira, produzido por indicação da Embrapa à Cantina Mattiello.

 beija-flor-na-pousada.jpgbeija-flores

Santa Teresa, subindo a serra, fica a 78 quilômetros de Vitória, a capital do ES. A história de sua implantação remonta a 1874, quando 60 famílias de imigrantes italianos, das 150 instaladas inicialmente em Santa Leopoldina, foram para lá deslocadas, fundando o núcleo que ficou conhecido como a Colonização Italiana do Brasil.

 ruschi-estatua-primeiro-plano.jpg 20 de maio de 2023Noventa por cento de sua população atual, estimada em de 23,724 mil habitantes pelo Censo de 2020, são descendentes de imigrantes oriundos do Trento, do Vêneto e da Lombardia, no Norte da Itália.

beija-flores

A historiadora Larissa Arrivabene chama a atenção para a exuberante biodiversidade da área de Santa Teresa, uma das mais acentuadas do Mundo, com quarenta por cento de seu território composto pela Mata Atlântica, abrigando quase todas as espécies de beija-flores que a fez conhecida como “Cidade dos Colibris” e despertou atenção mundial para o trabalho ali desenvolvido por Augusto Ruschi.

 sta-teresa-rua-de-lazer-dbuFDnWbupMtQC8-2-e1684596225236.jpgAproximam-se os meses mais frios do ano e Santa Teresa colabora para aquecer nosso corpo e nossa alma. O município é o maior fabricante de vinhos do Espírito Santo por força de uma cultura que teve impulso com a vinda dos imigrantes italianos. Na foto, a sempre movimentada e agradável rua de lazer da cidade dos beija-flores,  Sta. Teresa.

Nela, continua aberto o Bar Elite, um dos mais antigos da cidade e do Espírito Santo, ponto obrigatório de parada da “tchiurma” do Portal Don Oleari. Há um tempim, a turma degustou no Bar Elite uma garrafa do vinho Tabocas.

 Tabocas-madeira-safra-2018-medalha-de-ouro-1-e1684599162812.jpegSão mais de 80 mil litros por ano produzidos em dez vinícolas com plantio em cerca de 50 hectares, colhendo mais de 700 toneladas de uva por ano, correspondentes a 80 por cento da produção do Estado: Niágara Rosada, Izabel, Violeta, Lorena, Moscatel, Bordo e Cabernet Sauvignon.

Ainda assim, o Espirito Santo é o segundo maior importador de vinho do País, com 2 milhões de garrafas anualmente consumidas.

Confirmando seu pioneirismo no setor, Santa Teresa produziu o primeiro espumante do ES, com o nome do seu criador “Sperandio”: 18 mil garrafas por ano. Atualmente, o processo de sua fabricação é o “Método Champenoise”, desenvolvido na França, próprio para produção artesanal.

Em Santa Teresa, enquanto os parreirais eram insuficientes para produção de vinhos de uva, os fabricantes produziam, e ainda hoje produzem, vinho de jabuticaba fermentada, muito consumido no Estado.

Nesse friorento fim-de-semana, abro uma garrafa de vinho Tabocas (*), um ótimo cabernet savignon produzido na região, no belo Vale do Tabocas, quatro vezes premiado em certames nacionais, situado entre os melhores vinhos brasileiros, e ergo a taça em saudação aos imigrantes italianos que nos trouxeram, em troca do fraternal acolhimento em nossos rincões, a cultura do vinho, a bebida para nós abençoada desde a Última Ceia da doutrina cristã.

 vinicius-tabocas-1.jpg(*)  Don Oleari, o Edtor Chefão, me informa aqui que o vinho Tabocas é cria do produtor Vinícius Corbellini, que, decorrido algum tempo de sua primeira experiência, viu seu vinho chegar às adegas mais exigentes do Espírito Santo e do Brasil – https://www.facebook.com/vinicius.corbellini.56.

A Itália, nossa inspiração, é a maior produtora mundial de vinho, com 260 milhões de hectolitros, seguida da França, Espanha e Portugal, este muito distante em volume.

No Brasil, o maior produtor é o Município Flores da Cunha, no Rio Grande do Sul.

A bebida tem sido cantada em prosa e verso, desde quando, nas Bodas de Canaã, Jesus, a pedido de sua mãe, Maria, transformou toneis de água em vinho – dizem que um vinho de excelente qualidade.

Nosso poema, fechando a Coluna, é uma ode à bebida que sempre avocamos ao desejar aos amigos “saúde!”, saudando a terra dos beija-flores.

Rubens Pontes, jornalista.

Capim Branco, MG

pablo-neruda-ode-ao-vinho-ox-1040646543_crop_detail-1.jpg

Ode ao Vinho

Pablo Neruda

Vinho da cor do dia,

vinho da cor da noite,

vinho com pés de púrpura

ou sangue de topázio,

 

vinho, rutilante filho

da terra,

vinho, liso como uma espada de ouro,

suave como um antigo veludo,

vinho encaracolado e suspenso,

amoroso, marinho,

jamais coubeste numa taça,

numa canção, num homem,

num coro, tens o sentido gregário,

ou pelo menos, comum.

Às vezes

alimentas-te de recordações

mortais,

na tua onda vamos de tumba em tumba,

canteiro de gelado sepulcro,

e choramos transitórias lágrimas,

mas o teu formoso traje de Primavera

é diferente,

o coração sobe aos ramos,

o vento move o dia,

nada fica dentro da tua imóvel alma.

O vinho

move a Primavera,

cresce como uma planta de alegria,

os muros desmoronam-se,

os penhascos, fecham-se os abismos,

nasce o canto.

Ó tu, jarro de vinho no deserto

com a doce amada minha,

disse o velho poeta.

Que o cântaro de vinho

ao peso do amor afogue o seu beijo.

Meu amor, subitamente

a tua nádega é curva plena da taça,

o teu peito o cacho,

a luz do álcool a tua cabeleira,

as uvas os teus mamilos,

o teu umbigo o selo puro

estampado no teu ventre de ânfora,

e o teu amor a cascata

de vinho perene,

a claridade que inunda os meus sentidos,

o esplendor terrestre da vida.

Mas tu, vinho da vida, não és

somente amor, escaldante beijo

ou coração queimado, és também

amizade dos seres, transparência,

coro de disciplina,

abundância de flores.

Amo, quando se fala

à mesa, da luz de uma garrafa

de inteligente vinho.

Que o bebam,

que recordem em cada

gota de ouro ou taça de topázio

ou colher de púrpura que o Outono trabalhou

até encher de vinho as vasilhas

e que o músculo homem aprenda,

no cerimonial do seu negócio,

a recordar a terra e os seus deveres,

a propagar o cântico do fruto.

(Tradução de Luis Pignatelli)

Editado por Don Oleari, o “engólogo”

Don Oleari - Editor Chefão

Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
Don Oleari Corporeitcham

Posts Relacionados