Cesar Calejon
Cesar Calejon é um dos intelectuais públicos mais necessários atualmente no Brasil.
Sem medir palavras, confrontou o obscurantismo e o fascismo latentes no canal de TV da Jovem Pan até ser afastado pela direção, pela qual sempre foi tratado com respeito e cordialidade, segundo o próprio.
Em seus livros “A Ascensão do bolsonarismo no Brasil do Século XXI”; “Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil”; e “Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil” e em diversos artigos, Cesar Calejon analisa com rigor aspectos diversos e centrais da realidade brasileira.
Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV (Fundação Getulio Vargas) e mestrado em Mudança Social e Participação Política pela Universidade de São Paulo (EACH).
No canal da TV 247 no You Tube, ele apresenta o ótimo programa “Literatura e Pensamento Crítico”.
Abaixo, Calejon fala sobre a política contemporânea brasileira e a importância do discurso.
João Paulo Oleare – Em entrevista ao My News, você disse que palavras não são só palavras. O que isso significa num contexto de constante radicalização por parte da extrema direita?
Cesar Calejon – Significa que a extrema direita, seja por deliberação ou ignorância, não é capaz de aceitar uma premissa elementar de como os seres funcionam: as mensagens emitidas por líderes políticos e figuras públicas ganham ressonância junto à população de forma mais ampla e se transformam em ações práticas. Ou seja, as palavras não são somente palavras. Elas implicam numa série de consequências que podem ser muito deletérias para o conjunto social de forma mais ampla.
JPO – Ainda falando sobre os impactos do discurso, qual a importância de chamar as coisas pelo devido nome? Por exemplo, a imprensa chamar os atos terroristas da segunda 12/ 12 de atos terroristas (e, ainda que timidamente, classificar Bolsonaro e seu governo como extrema direita)?
CC – Fundamental. Evidentemente, uma vez que as palavras importam – e muito – é absolutamente crucial que, sobretudo, a grande mídia seja capaz de utilizar termos adequados para refletir a relevância de cada ocasião.
JPO – Na reta final de seu mandato, Bolsonaro tem se mostrado uma liderança enfraquecida. Isso não significa, de forma alguma, um enfraquecimento da extrema direita bolsonarista. Como lidar com essa nova presença no cenário político nacional?
CC – Exatamente. A derrota e o consequente enfraquecimento de Bolsonaro não significam o arrefecimento da extrema direita nacional, mas, em larga medida, à sua reformulação. A meu ver, existem três ideologias que sustentam a extrema direita brasileira hoje em dia e que devem seguir alicerçando-a durante os próximos quatro anos: (a) o nacionalismo cristão, (b) o anticomunismo e a própria dimensão da (c) racionalidade neoliberal. Qualquer estratégia de luta emancipatória deve considerar o enfrentamento a essas ideologias no Brasil do século XXI.
João Paulo Oleare, radialista, jornalista
Foto de capa: Cesar Calejon anuncia que não é mais funcionário da Jovem Pan