moscas
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RUBENS PONTES
O Portal Don Oleari e com ele todos os que nele trabalham, aí também pessoalmente o Poderoso Chefão, se solidarizam e manifestam seu incondicional apoio à campanha dos órgãos de defesa sanitária, estadual e municipais, contra a proliferação do mosquito transmissor de graves moléstias como a dengue, muitas vezes letais, que afetam a população em geral.
As perspectivas para este ano de pessoas atingidas pela dengue são sombrias, no mínimo sete vezes mais altas do que em 2022: nos primeiros meses de 2023, 31 pessoas já morreram em decorrência das picadas mortais, contra 6 durante todo o ano que passou.
A picada de uma única fêmea do mosquito pode transmitir febre amarela, malária, dengue, Zika, Chikungunya, as três últimas mais familiares aos espírito-santenses.
A remota origem
O mosquito que neste Século inferniza o Mundo civilizado não nasceu, no entanto, nos charcos ou na águadescuidadamente abandonada e empoçada nos nossos quintais, ondese faz presente e prolifera comfascinante rapidez.
Sua origem se perde nos anais da história da humanidade.
A referência mais antiga de doença transmitida pelo mosquito remonta a 3200 a.C., na antiga Mesopotâmia, com as febres maláricas atribuídas a Nergal, deus babilônico do mundo inferior, e representado por um inseto lembrando mosquito.
Belzebu, senhor das moscas e dos insetos, foi associado ao diabo nas primeiras escrituras judaico-cristãs, como nos faz lembrar Timothy G. Wingard no seu livro “O Mosquito” (Editora Intrínseca) – “uma história humana sobre o nosso pior predador”, conforme anotado na capa do livro da foto.
Os demônios malignos dos antigos zoroastristas, adoradores do fogo, eram representados como moscas e mosquitos, como Baal, o espírito caldeu da doença.
Mais perto de nós, ainda na História Universal, nas Escrituras judaicas (e cristãs) do Antigo Testamento, o Leviatã é um monstro marinho que agita as águas do caos e dissemina o mal e a desordem.
Esse Leviatã lembra muito o nosso buliçoso mosquito… e ainda hoje a imagem ficcional do diabo cristão nos exibe suas asas vermelho-sangue, os chifres pontudos e o rabo irrequieto e agudo – uma quase imagem do inseto que inferniza a nossa vida…
Cartaz chinês de conscientização faz alusão ao Apocalipse, um cavalo amarelo sobre o qual cavalgava a morte, com um brado de alerta que deveria chegar aos ouvidos da população capixaba, como pretendemos Poderes Públicos e com o qual o Portal dom Oleari se solidariza:
– “Prevenção é matar o mosquito; o assustador mosquito infestado de doença que traz o inferno para o planeta Terra e espalha epidemia” (U.S. National Library of Medicine).
E bom será fazê-lo antes de sentir uma picada no tornozelo, sempre mais perto do chão. E sempre de ummosquito fêmea (os mosquitos machos não picam) com o traseiro erguido, firma a alça e mira apontando seis agulhas sofisticadas: inserindo duas lâminas mandibulares – como uma faca elétrica de duas lâminas móveis que sobem e descem – corta a pele enquanto duas agulhas retratoras abrem caminho para a probóstica, uma seringa hipodérmica que emerge do envoltório protetor.
É com esse canudo que o mosquito suga de três a cinco miligramas de sangue, excreta a água e condensa 20 por cento de conteúdo proteico.
E não para por aí: enquanto isso, a sexta agulha injeta saliva, contendo ante coagulante para evitar que nosso sangue seque no local da picada.
E fica aquela coceirinha e um calombo no lugar.
O Portal Don Oleari, pela Coluna, insiste na necessidade da participação de cada um de nós:
– o mosquito fêmea deposita cerca de duzentos ovos flutuantes na superfície de uma poça d’água pequena que se formou em uma tampa de refrigerante ou latinha de cerveja que escapou da faxina, no fundo de um recipiente abandonado, de um pneu ou em um brinquedo de quintal.
Rubens Pontes, jornalista – Capim Branco, MG
A Coluna se vale de Cecília Meireles para adoçar o ácido texto deste registro. Seu poema “O Mosquito Escreve“, que transcrevemos, sobre um pernilongo familiar, é uma gostosura que nos diverte antes de procedermos à correção de eventuais descuidos das pequenas porções de água empoçadas em vasilhames esquecidos na área externa – ou interna – da casa de cada um de nós, na noss varanda, no nosso quintal, no nosso jardim.
O MOSQUITO ESCREVE
Cecília Meireles
O mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.
O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U, e faz um I.
Este mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.
Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
pois sabe escrever
moscas
moscas, moscas