Sou Imigrante
Nomes da nossa história. O poema Sou Imigrante, do poeta angolano Moisés Antonio, expressa um sentimento atemporal de um humano que sonha em ser livre.
Coluna AQUI RUBENS PONTES
MEUS POEMAS DE SÁBADO
Sou Imigrante
A rica História da conquista do território do Espírito Santo a partir da chegada dos descobridores e da formatação da Capitania deu ao nosso atual pequeno Estado dimensões muitas vezes marcadas por atos de bravura, sacrifício e estoicismo.
Os compêndios escolares assinalam nomes que aos jovens do ES se tornam familiares, como o de Vasco Fernandes Coutinho, o primeiro capitão donatário (1535), fundador das vilas da Vitória e Vila Velha.
Depois, o evangelista José de Anchieta e em tempos mais recentes Augusto Ruschi, Ceciliano Abel de Almeida, Jerônimo Monteiro, José Carlos de Oliveira, Rubem Braga, as cantoras Maysa, Nara Leão, a extravagante Luz del Fuego.
Outros nomes dos primeiros tempos não são escamoteados, mas seus feitos diluídos no confronto em que inevitavelmente são marginalizados com as novas conquistas e a inexorável passagem do tempo.
Esta Coluna levanta alguns nomes, entre tantos outros dos quais há pouca lembrança, que deixaram marcas e exemplos encorajadores para os que vieram depois deles.
Foto de capa: tela do artista plástico serrano Valter Assis, que retrata a vila do Queimado. Arquivo do jornal Tempo Novo, Serra/ES
Sou Imigrante
Frei Pedro Palácios
O nome de Pedro Palácios ganha especial relevo por ter sido a ele atribuída a fundação do Convento da Penha em Vila Velha/ES.
A “Gruta do Frei Palácios”, formada pela Natureza ao pé da montanha onde foi construído o monumento, foi seu primeiro abrigo, como morada em terras da Capitania.
Irmão leigo franciscano, nascido na cidade espanhola de Medina do Rio Seco, mudou-se para Portugal, de onde veio para o Brasil no ano de 1558.
Durante o penoso cruzamento do Atlântico, as vulneráveis naus de velas triangulares foram açoitadas por forte tempestade, só atenuada com as orações de frei Pedro Palácios. O episódio fê-lo ficar conhecido como “o santo frade”.
Sou Imigrante
Araribóia
No episódio incorporado à nossa História, Arariboia, cacique da tribo indígena dos Terminós – grupo dos Tupis – foi expulso dos seus domínios na Guanabara com a invasão dos navegantes franceses, apoiados pelos Tamoios, seus inimigos tribais.
Fixaram-se em terras amigas, na Capitania do Espírito Santo, aliando-se aos portugueses e, mais tarde, conduzindo milhares de homens, lutou ao lado dos descobridores na vitoriosa retomada da Guanabara.
Um herói nacional.
Elisiário, o caudilho negro
Figura singular, tem seu nome incorporado à nossa História, principalmente por haver liderado a principal revolta de escravos no Espírito Santo, em 1849.
A quebra de promessa de um sacerdote católico gerou a “Insurreição de Queimados”, movimento que passou a defender e propagar ideias libertárias entre os negros.
Queimados, atualmente distrito da cidade da Serra, fora escolhida por Frei Gregório José Maria Bene para a con
strução de uma igreja.
Prometendo liberdade para os escravos que concluíssem as obras, o sacerdote, erguido o templo, não cumpriu o acordo, gerando uma revolta que se tornou historicamente gravada como A Insurreição de Queimados.
Chefiados por Elisiário, com o apoio de outras lideranças negras como Chico Prego (*), os escravos protestaram percorrendo fazendas e pressionando fazendeiros para assinar cartas de alforria.
Vencidos pelas forças armadas, os escravos insurgentes foram condenados à morte ou ao açoite.
Elisiário, o Caudilho Negro, valeu-se de um descuido dos guardas e escapou. Há registros de que ele teria erguido um quilombo na região de Cariacica, atual Piranema. Não encontramos imagens de Elisiário.
(*) Chico Prego dá nome à lei de incentivo cultural do município da Serra/ES.
Maria Ortiz
Nome familiar em Vitória, a escadaria, passagem obrigatória na tomada de níveis entre a cidade baixa e a cidade alta. no centro da Capital, tem o nome de Maria Ortiz, uma nativa de origem espanhola, considerada heroína.
A ela é atribuída o início da resistência a um ataque surpresa de holandeses a Vitória no ano de 1625. Do alto de uma ladeira (à época chamada Ladeira do Pelourinho), jogou água fervente, pedras e brasas sobre os invasores.
Com participação de vizinhos, por ela incentivados, retardou o avanço dos invasores até a chegada das tropas portuguesas para vitorioso contra ataque.
Em 1924, a ladeira teve seu nome trocado para Escadaria Maria Ortiz perpetuando o nome da jovem heroína. Não encontramos imagens de Maria Ortiz.
Domingos José Martins
Fascinante o desenvolvimento da vida desse personagem, modesto comerciante que venceu barreiras para estudar na Europa.
Voltando ao Brasil, sua vocação libertária levou-o, em 1817, a participar da Revolução Pernambucana, tornando-se decidido defensor da libertação do domínio português e, por extensão, disseminador dos ideais de liberdade do povo brasileiro.
Derrotado com o fim da revolução de pouco mais de dois meses, Domingos Martins e outras lideranças foram julgados, condenados e fuzilados.
Domingos José Martins foi homenageado post mortem como Patrono da Polícia Civil do Espírito Santo e pelo Instituto Histórico e Geográfico do ES.
Caboclo Bernardo
A relação de nomes, incompleta embora, se fecha citando um modesto pescador da Vila de Regência, em Linhares, ao Norte do ES, que passou a ser conhecido na marca da História como Caboclo Bernardo.
O nome de Bernardo José dos Santos, o Caboclo Bernardo, ganhou projeção sobretudo por sua postura e bravura no salvamento de 128 tripulantes do navio Cruzador Imperial Marinheiro da Marinha de Guerra do Brasil.
Coincidentemente num dia 7 de setembro.
Em 1887, a embarcação realizava o mapeamento da costa do Espírito Santo quando se chocou contra o portal sul da Barra do Rio Doce, distante 120 metros do povoado. Mar revolto, a população impedida de ajudar e o destino da tripulação parecia trágica.
Bernardo José dos Santos se dispôs a nadar até o navio, com grande risco pessoal, levando um cabo que, preso à estrutura, seria capaz de trazer os marinheiros à terra.
Foram necessárias quatro perigosas tentativas até efetivar sua intenção. Conseguiu finalmente, expondo-se e superando os riscos de se afogar no mar tempestuoso e salvou a tripulação.
Bernardo José dos Santos, o Caboclo Bernardo, foi condecorado pela Princesa Isabel e se tornou herói nacional. Na cidade de Linhares, ao norte do ES, há um monumento em memória de sua bravura.
Sou Imigrante
O Don Oleari Portal de Notícias – www.donoleari.com.br – e o Colunista rendem tributos de admiração às personagens aqui relacionadas e cuja história de vida vai muito além destas modestas e ligeiras anotações.
Rubens Pontes, jornalista.
Capim Branco, MG
(Crédito: Site do Governo do ES)
Sou Imigrante
Moisés Tiago Antônio
Sou Imigrante dalém
Lá do outro lado do oceano
Forçado a abandonar o país
Sim o país de origem
Que há séculos venho lutando
Querendo viver
Batendo as portas nunca descerradas
Sempre encerradas
Não tenho terra
Lá de onde eu venho
Do qual vós chamais
ou dizeis ser minha terra…
Eu era igual uma flecha
Querendo ir pra frente
Eu era cada vez mais puxada pra trás
Com mais força!
E de tanto me puxarem
Fui lançada veementemente
Para atingir o alvo
E vim aqui parar!
Sou Imigrante
Não tenho terra
Tudo é terra
Não importa se aqui ou lá!
Quem dera que não houvessem fronteiras!
Quem dera que não houvessem leis
Leis essas que nos prendem, Separam,
Hostilizam, injuriam e abalam!
Oh, se não houvessem fronteiras
Divisões geográficas
E que todos os homens fossem só homens!
Sem distinção de cores, raças, nacionalidades!
Que culpa tenho eu em ser Preto ou branco?
Cristão ou muçulmano? Hindu ou Budista?
Sou Imigrante
Edição, Don Oleari – [email protected] – https://twitter.com/donoleari
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