A dona do motel
CRÕNICA |
Jonatan Schmidt
NEC = Nota do Editor Chefão, Don Oleari |
Uma estreia, um novo cronista, um talentoso cronista que descobri no feissibuqui. Leio sempre com atenção os textos de Jonatan Schmidt em páginas feissibuquianas.
Sempre me impressionam a leveza e a elegância dos seus textos. Outro que acompanho é o Rogério Schneider Künsch, praticando sempre seu refinado senso de humor.
Pedi ao elegante cronista um perfil pra dizer quem é quem o novo personagem. Ele foi muito econômico, mas dá pro comecim. Acompanhem aí (Don Oleari).
Quem é Quem
“Sou capixaba, mas não sou preso a uma terra. Sou meio cigano – além da terrinha, já morei nas Minas Gerais, no Amazonas e em São Paulo.
Advogado na área do Direito Empresarial, com atuação no desenho de sistemas de governança, na auditoria jurídica independente, na mediação e na arbitragem.
Tenho alguns prazeres: viver, viajar, ter amigos de verdade, beber um bom vinho, conversar, opinar, ler… Não dirijo automóveis.
E agora estou aprendendo a escrever, o que já está me gerando um novo prazer (Jonatan Schmidt).
A crônica de Jonatan Schmidt
A dona do motel na minha casa
Eu nunca aprendi a dirigir automóvel – e nem tampouco motocicleta. Na verdade, nem bike. Sempre usei o ônibus – e ali comecei um pós-doutorado em sociologia do tipo “a vida como ela é”.
Mas, na Velha Serpa, não havia ônibus. No começo, morando numa casa da própria empresa, ela disponibilizou um carro – uma pampa bem surrada, azul, com um motorista chamado Raimundo, mais um dentre tantos por ali, mas que era conhecido como Tatu.
Algum tempo depois, eu passei a prestar serviços para outras empresas e me mudei para uma casa no centro.
Conversando com amigos sobre as minhas novas necessidades, me indicaram a Carmenzita, uma uruguaia negra retinta, bem gorda e já bem vivida, dona de um fusca amarelo correios caindo aos pedaços e de um motel, que era na sua própria casa. Ela disse que poderia me atender como um misto de governanta e motorista nas suas horas vagas – era ela quem gerenciava o seu negociava. Um dos filhos trabalhava fora e o outro lavava os carros da freguesia.
Como motorista, ela era um perigo ambulante e ai de quem se metia à sua frente – o som estridente não era da buzina, mas dos xingamentos esquisitos que ela berrava. Mas, na função de governanta, ela até conseguia atender bem – embora o meu estoque de bebidas estranhamente tenha começado a ser consumido bem mais rápido.
Enxerida e mexeriqueira, ela me mantinha informado de tudo e de todos, até de mim mesmo. Enfim, eu havia retomado aquela minha pós!
Nalgum dia, ela me acordou aos berros:
— Houve uma briga no aningal da Jauary e um curumim matou o outro.
— E o que eu tenho a ver com isto?
— A família do que matou quer que o Doutor o defenda. Não faça isto. É muito perigoso.
A conversa com o moço foi algo surreal – no começo, ele não conseguia compreender que o outro tinha morrido. Depois, ele entrou numa crise de choro.
Consegui a soltura, mas o curumim apareceu morto dois dias depois, no mesmo aningal...(***)
Carmenzita tinha razão – eu havia me metido num vespeiro. Nunca mais quis saber da área criminal.
Continuei usando os serviços da dona do motel, mantendo-me sempre muito bem-informado acerca das traições e dos que estavam buscando parceiros ou mesmo novas experiências sexuais.
Ela continua na Velha Serpa e eu vim para Old Village, mas estou pensando em visitar os botos.
Será que a Carmenzita ainda mantém um motel? Se for o caso, já tenho onde ficar…(Jonatan Schmidt).
Foto de capa: a planta descrita abaixo pelo cronista.
(***) Aningal é uma área “molhada”, com vegetação típica. Parece com o brejo e o mangue, mas é de água doce e não uma fauna.
A dona do motel
Edição, Don Oleari – [email protected] –
https://www.facebook.com/oswaldo.oleariouoleare – https://twitter.com/donoleari
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