A Era do Isolamento
Pensando, pensando, pensando
Reflexivo e poético.
Uma reflexão muito atual, é o que sugere nosso comentarista político, derivando para uma análise comportamental
“A Era do Isolamento: Estamos Perdendo a Capacidade de Nos Conectar?”
Bruna Beber
“Quanto tempo falta pra gente se ver hoje?
Quanto tempo falta pra gente se ver logo?
Quanto tempo falta pra gente se ver todo dia?
Quanto tempo falta pra gente se ver pra sempre?
Quanto tempo falta pra gente se ver dia sim, dia não?
Quanto tempo falta pra gente se ver às vezes?
Quanto tempo falta pra gente se ver cada vez menos?
Quanto tempo falta pra gente não querer se ver?
Quanto tempo falta pra gente não querer se ver nunca mais?
Quanto tempo falta pra gente se ver e fingir que não se viu?
Quanto tempo falta pra gente se ver e não se reconhecer?
Quanto tempo falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu?”
Veja no destaque perfil resumido da poeta e um tanto de coisas, Bruna Beber.
A Era do Isolamento
Bruna Beber abre o verso como quem nos arrasta para um abismo.
Um abismo de conexões rompidas, de encontros que se desfazem na modernidade.
O poema, mais do que palavras, é um soco no estômago. Ele dói, não apenas pela exposição, mas porque reconhecemos nele nossa própria ferida.
A humanidade, que antes se ancorava no coletivo, na grande família e na roda de conversa, agora se afoga no individualismo sufocante.
Amamos a solidão, glorificada no “tempo para mim”, trocando o calor humano pelo brilho frio da tela de um smartphone.
A inquietação de um videogame nos basta; a vida se resume a selfies na vitrine digital. Vivemos para nós mesmos, como se o outro fosse apenas um espelho distorcido que já nem reflete.
E o amor? O amor ao próximo, ao irmão, ao amigo na esquina? Onde foi o gesto simples de cumprimentar o vizinho, sorrir para um desconhecido no ônibus, dividir histórias com os colegas de escola?
Onde foi parar o contato humano? Estaria ele preso nos cliques apressados das redes sociais? No voyeurismo social, onde sabemos tudo, mas não sentimos nada?
Nos encaminhamos para o vazio. Um mundo sem laços de afeto, sem novas gerações. Um futuro sem jovens que animem as ruas, sem famílias para celebrar o Natal, sem histórias para contar.
Um mundo onde não há mais avós que falem com nostalgia sobre o tempo em que o cachorro se amarrava com linguiça ou que tudo custava “o preço de uma banana”.
Vivemos em uma era onde a comparação se tornou o novo afeto. Quem tem mais seguidores? Quem ganha mais likes? Quem exibe o maior troféu de vaidade? Estamos tão ocupados em conquistar que esquecemos de nos conectar.
E assim, distantes, seguimos numa corrida cega em direção ao isolamento total.
Ainda há tempo? Quanto tempo falta para lembrarmos que viver é mais do que apenas existir? Que a verdadeira alegria está no toque, no olhar, no sorriso compartilhado, algo que não pode ser transmitido por mensagem?
Talvez ainda haja chance. Talvez, como no poema, possamos reverter o ciclo. Antes que nos vejamos e não nos reconheçamos mais. Antes que não reste ninguém para ver.
Viva a vida, sim. Mas viva com os outros. Porque viver sozinho é apenas sobreviver.
Veja aqui perfil resumido da poeta e um tanto de coisas, Bruna Beber.
Poeta, tradutora e mestranda em Teoria e História Literária pela Unicamp.
Poemas publicados em antologias e sites na Alemanha, na Argentina, na Espanha, nos Estados Unidos, na Itália, no México e em Portugal.
Traduziu autores como Lewis Carroll, Sylvia Plath, Dr. Seuss, Neil Gaiman e Eileen Myles, entre outros.
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A Era do Isolamento
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