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Eustáquio Palhares: o Brasil de setembro de 2022 (I) |

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eustaquio palhares

 

Nesses poucos dias que antecedem o primeiro turno das eleições deste ano o clima é de esperança para ambos os lados da polarização política instalada,  turbinada por uma forte expectativa. A eleição  é prometida como a real pesquisa da vontade da sociedade brasileira, até aqui relutante e mesmo confusa com a profusão de blefes, narrativas e fake news que embaralham o cenário político.

Pesquisas que não se confirmarem ou mesmo incorrerem em discrepâncias constrangedoras serão devidamente justificadas. Temores de trapaças de adversários para quem os fins justificam os meios ou de reações de inconformismo a resultados adversos latejam, potencializam tensões. Uma interpretação patológica da democracia já se sedimentou: democracia é quando o outro concorda comigo.

A exemplo do que ocorreu com a Covid, há dois anos, o Brasil chega a outra esquina de sua trajetória histórica. Inicialmente a conjuntura será moldada pela definição eleitoral. Essa definição tem dois cenários distintos. Aqui está se considerando o resultado final da eleição.

Se Lula ganha, de novo se coloca dois cenários:

– O aceno para o mercado internacional é o de um Governo de esquerda, estatizante e disposto a promover políticas sociais às custas do déficit público, o que sabemos ser insustentável a longo prazo por uma série de desdobramentos.

 deficit-superavit-1.jpgDéficit público produz necessidade de aumentar a remuneração da dívida pública, logo alta de juros.  Isso não deve impactar positivamente o câmbio. Em condições normais deveria, porque juros e câmbio exercitam uma gangorra.

Quando um sobe o outro desce, mas no Brasil essa é outra jabuticaba: aqui, os juros subindo não são garantia de estabilidade ou queda do câmbio – pela óbvia atração de dólares – porque se trata de um capital volátil, especulativo, não é um capital de investimentos, típico de longa maturação. E por efeito desse processo uma inflação de custos será inevitável.

– O capital de risco – considerado o animal mais arisco que existe – vai debandar pela fragilidade da política econômica. Os grandes investidores institucionais, fundos de pensão ou conglomerados, mesmo que operem só na perspectiva do rentismo imediato, ficarão inseguros com relação à orientação política e só taxas excepcionalmente atraentes devem atraí-los mesmo que por curto prazo.

Ressalve-se que fundos de pensão fazem investimentos de longo prazo para atender suas projeções atuariais. Taxa de juros altos intensifica a pressão inflacionária e inibe investimentos, tanto pelo custo do capital quanto porque a aplicação rentista fica muito mais atraente que o investimento produtivo.

Agravam essa perspectiva para o investidor de fora, a quem nos interessa atrair para completar a poupança interna insuficiente para a chamada Taxa Bruta de Formação de Capital Fixo, as ameaças explícitas de revisão de algumas medidas implementadas até aqui como a aceleração do processo de privatização, concessões e autorizações de ativos públicos estruturantes como portos, rodovias e ferrovias, decisivos para a redução do custo Brasil.

E promessa – ou ameaça – de revisão da Reforma da Previdência restabelecendo a bomba-relógio das contas públicas com a restauração de um modelo potencialmente deficitário; ou a revogação da reforma trabalhista, repondo  encargos que afetam o resultado da empresa com o encarecimento  da mão de obra desvinculado de ganhos de produtividade.

Um aspecto que não se pode descartar é o de que Lula esteja apenas sendo Lula e não há qualquer preconceito nessa adjetivação: blefador e, por todas as suspeitas, corrupto. Por esse viés estaria apenas cortejando a maioria silenciosa com a promessa de que a classe operária voltará ao paraíso do consumo – como o fez anteriormente levando-a depois ao inferno do endividamento e da inadimplência.

E por isso causando a retração da demanda que, inibindo o investimento,  apresentou a fatura da crise sem precedentes e 14 milhões de desempregados.

Eleito, deverá acender uma vela para Deus e outra para o Diabo, promovendo o assistencialismo sem lastro na economia e pagando os juros que fazem os banqueiros desejá-lo como perpétuo imperador do Brasil. Calcula-se que os juros pagos ao rentismo passaram de R$ 4 trilhões no seu Governo, superior à dotação orçamentária de qualquer ministério ou  mil por cento a mais do que despendeu com os programas sociais tipo bolsa família, bolsa escola, etc.

Ironicamente, por isso, Lula pode não ficar refém do Congresso como Bolsonaro atualmente se encontra, dobrando-se ao fisiologismo do Centrão, sob pena de não conseguir governar. Vai reeditar o Mensalão com outra moeda de troca: cargos públicos, a releitura fisiológica da oração de São Francisco, a do “É  dando que se recebe”. Na verdade, a perenização de uma incoerência política para a qual as elites pensantes do Brasil, acomodadas, ainda não atinaram: como um sistema presidencialista pode operar com uma Constituição Parlamentarista?

Lula não é movido por ideologia e aqui, novamente, não se trata de  uma adjetivação. Lula é movido por fisiologia. Não se inibirá de compor o que tiver que ser transigido para obter a governabilidade necessária. À falta de um mensalão vai negociar espaços na administração pública por adesões políticas, não por qualificação técnica, o que contribuirá para desarticular a máquina pública. Com isso a reduzirá a feudos de maior ou menor representatividade, mas estanques, sem sinergia, sem o efeito holístico que se espera de uma estrutura gerencial. Mesmo os patologicamente otimistas não conseguirão ver um quadro que traga algum alento.

Como pano de fundo desse quadro prevalece a conjuntura global e o papel estratégico que o Brasil assume no contexto da produção mundial de alimentos e energia. Aqui cabe o refrão sobre os que choram e os que vendem lenços.

A situação energética na Europa é crítica na Alemanha, França, Inglaterra, Itália, em geral, ao lado da crise de abastecimento de alimentos. No hemisfério Norte a questão da energia não é apenas estratégica como insumo de atividade econômica. É crítica porque envolve a demanda de aquecimento sem o qual o frio pode ser letal.

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Lena Mara – …o restaurado Saldanha da Gama | 17/9

Don Oleari - Editor Chefão

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Radialista, Jornalista, Publicitário.
Don Oleari Corporeitcham

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