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Rodrigo Melo Rego | Certinhas do Oleari: “Há  mais de 50 anos, a indecência de Natália Correia libertou-nos” | Cosmópula | 22/3

Certinhas do Oleari

Certinhas do Oleari, Certinhas do Oleari

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A Bailarina
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rodrigo mello rego

Coluna

AS CERTINHAS

DO OLEARI

+ POESIA ERÓTICA

Foi na viagem de retorno de Portugal, onde passei 42 dias em tertúlias literários de meu interesse, forte chuva açoitando sem risco a aeronave em que eu retornava ao Brasil, que li o texto de Costa Santos analisando a obra revolucionária da poeta portuguesa Natália Correia.

A antologia foi editada em 1966 com o título “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, um conjunto de textos então considerados “imorais”. antologia-poesia-erotica-satirica_natalia-correia-e1679491395935.jpg

Nuno Costa Santos lembra no seu registro  a obra da poeta e o alvoroço por ela gerado.

Passam mais de 50 anos da publicação desse escândalo literário apreendido e que foi matéria de julgamento em Tribunal Plenário, acusada de ofender o “pudor geral”, a “decência”, a “moralidade pública” e os “bons costumes”.

O projeto de reunir textos “dos cancioneiros medievais à atualidade” considerados malditos pelas regulamentações legais e sociais vigente em Portugal foi, segundo a investigadora Isabel Cadete Novais, o aprofundamento de uma empreitada iniciada pelo jornalista Manuel Cardoso Marta, amigo de Natália Correia.

Terá sido o jornalista que a iniciara sob o título “O purgatório dos poetas” e após a sua morte o projeto fora recuperado, completado e publicado com outra designação, no ano de 1966, pelas edições Afrodite, de Ribeiro de Mello.

“Juntam-se assim dois nomes subversivos nesta provocação bem preparada: o da extravagante poeta açoriana e o do excêntrico portuense Fernando Ribeiro de Mello, o “Editor Contra”, para usar a expressão do título de um livro da autoria de Pedro Piedade Marques.

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Que cenário!

Nesse volume, editado em 2015 pela portuguesa Montag, descrevem-se, com citações do prefácio, as razões da pesquisa:

 “Esta antologia foi um trabalho de fundo da poetisa, visando ‘exumar do cemitério das obras malditas’ poesias que trouxessem à superfície (e à modorra dos anos finais de Salazar) as ‘recalcadas supurações do instinto’”.

O prefácio, “O Cativeiro de Afrodite”, começa por aludir ao fato de Carolina Michaëlis de Vasconcelos, quando se ocupou das cantigas satíricas dos nosso Cancioneiros medievais, ter declarado que não evitaria as obscenidades típicas do “género Burlesco” dos Cancioneiros, sempre que estivesse em causa apurar a verdade.

Panteão do hedonismo

E que autores figuravam nesse pouco recomendável álbum de família? De jograis de corte e do Abade de Jazente a poetas na altura ainda na casa dos 30, como E.M. de Melo e Castro e Herberto Helder, que escreveu em “Ciclo” os seguintes versos:

Escuto a fonte, meu misterioso desígnio

de cantar o amor.

Da tremenda alegria da carne

deve vir o espírito do canto, da vossa

deslumbrante alegria, ó intensas

criaturas solares (…)

De autores do “Cancioneiro Geral” de Garcia de Resende, até a António Botto, ou a Luiz Pacheco, cujo “Coro de Escárnio e Lamentação dos Cornudos em Volta de São Pedro tem um inequívoco “Finale, muito católico”:

Assim termina o lamento

pois recordar é sofrer.

Ama e fode.

É bom sustento!

Pois, eminente Editor Chefão do Portal Don Oleari, a aeronave se aproxima da pista de pouso do Galeão no momento em que encerro estas anotações que pretendo em encaminhar para sua douta apreciação e possível valorização com sua publicação.

Com o texto, um poema de Natália Correia.

Ao seu douto critério,

Atenciosamente, Mello Rêgo.

COSMOCÓPULA

Natália Correia

I

Membro a pino

dia é macho

submarino

é entre coxas

teu mergulho

vício de ostras

II

O corpo é praia

a boca é a

nascente

e é na vulva que

a areia é mais sedenta

poro a poro vou

sendo o curso de

água

da tua língua

demasiada e

lenta

dentes e unhas

rebentam como

pinhas

de carnívoras plantas

te é meu ventre

abro-te as coxas e

deixo-te crescer

duro e cheiroso como o

aloendro

 

Natália Correia

Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica – Ed. Afrodite, Lisboa, Dezembro de 1966.

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Don Oleari - Editor Chefão

Don Oleari - Editor Chefão

Radialista, Jornalista, Publicitário.
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