Dia nacional do livro
COLUNA AQUI RUBENS PONTES
MEUS POEMAS DE SÁBADO
Dom João VI, que tinha um velho acordo com a Inglaterra, deixou Napoleão Bonaparte “a ver navios” – figurativamente, claro, pois suas tropas só chegaram a Portugal à noite no dia da fuga – ao se mandar com a corte portuguesa para a velha Colônia.
Vinte e cinco caravelas de velas triangulares zarparam às pressas, ao cair da noite, do porto de Lisboa, tendo como destino o Brasil, a mais importante Colônia portuguesa.
O dia era 29 de novembro de 1807.
João VI, Príncipe Regente do Reino de Portugal desde quando sua mãe D. Maria fora diagnosticada como louca, fugiam às pressas de Portugal com toda a família real e milhares de civis privilegiados, durante o dia.
À noite, chegavam as tropas invasoras de Napoleão Bonaparte, comandadas pelo general Jean Andoche Junot, que dominaram o país.
Outra data importante de que se vale este levantamento foi a chegada da Corte Portuguesa ao Rio de Janeiro no dia 8 de março de 1808, depois de sua passagem pela Bahia.
Com ela, entre outros bens, Dom João VI trouxe 60 mil livros, acervo que iria compor a Biblioteca Real, oficialmente fundada no dia 29 de outubro de 1810.
O reconhecimento do Brasil independente seria chancelado com a indicação da data como Dia Nacional do Livro.
Em 1995, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO – proclamou “Dia Mundial do Livro”, simbolicamente celebrado no dia 23 de abril, lembrando a morte de de Shakespeare, Cervantes e de Garcilaso de las Vegas no mesmo dia.
Nenhum conflito com a iniciativa brasileira.
Na rota do futuro
A partir de então, no tempo, D. João VI, reinando como Imperador, determinou a abertura dos portos brasileiros às nações amigas (na foto, o decreto); a criação do Banco do Brasil; e a instalação das primeiras faculdades de Medicina, uma na Bahia e outra no Rio de Janeiro.
Duas outras decisões régias quebraram três séculos de imobilidade do Brasil colonial na área da cultura literária: a criação da Imprensa Régia (foto da gráfica), em 1808, e da Biblioteca Real, no ano de 1810.
O acervo foi instalado numa das salas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, na Rua Direita, atualmente a Rua Primeiro de Março.
Biblioteca real, a sétima do mundo
A Biblioteca Real, hoje conhecida como Biblioteca Nacional, foi inicialmente montada com livros, manuscritos, mapas, estampas, moedas e medalhas, trazidos por D. João VI e, por ordem imperial, instalados nas catacumbas de um hospital no Rio de Janeiro.
Dois séculos mais tarde seu acervo atingiu nove milhões de itens, reconhecida então pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO – como a sétima maior do mundo.
A impressão de obras literárias no Brasil teve início em 1808 com a fundação da Imprensa Régia por Dom João VI.
Em 1808, como desdobramento, foi impressa a “Gazeta do Rio de Janeiro”, o primeiro periódico publicado legalmente no Brasil, de integral apoio à Monarquia.
Don Oleari Portal de Notícias pede um parêntesis para lembrar que então já estava sendo impresso em Londres o “Correio Brazliense”, editado pelo jornalista Hipólito José da Costa.
Ele defendia ideias liberais para o Brasil, como a monarquia constitucional e a abolição da escravatura.
A censura no Brasil só foi abolida em 1821.
Primeiro livro impresso
Ao anotar a data do Dia Nacional do Livro, convém lembrar que a primeira obra impressa, foi foi “Marília de Dirceu”, em 1812, livro de sonetos de Tomás Antônio Gonzaga. Trechos do poema – composto por 80 liras (*) e 13 sonetos – são mostrados ao pé da Coluna AQUI RUBENS PONTES | Meus poemas de sábado.
(*) Nota de Don Oleari Portal de Notícias: Lira é um instrumento musical de cordas, designando uma poesia cantada.
O primeiro romance publicado foi “A Moreninha” de Joaquim Manoel de Macedo, em 1844.
No remoto passado
Importante instrumento de comunicação, a transmissão escrita remonta a tempos imemoriais. Em 1455, o Brasil ainda escondido sob as matas intocadas que o cobriam, a Bíblia era impressa pelo alemão Johannes Gutenberg. Foi o primeiro livro impresso na história do Mundo, texto mantido em papiro escrito antes do Ano 100.
Muito antes
Não fora impresso tipograficamente, mas se confirma a descoberta de trechos de um poema de loas a um Rei da Mesopotâmia, escrito em cerâmica e pedra.
Um período em que a narrativa literária era escrita em folhas de papiro, em argila e blocos de pedra e numerosas dessas peças chegaram até nós.
Os escritos, encontrados na região do Mar Morto, estão sendo decodificados.
A Coluna se fecha, antecipando as comemorações pela passagem do Dia do Livro, com a publicação de trechos do poema “Marília de Dirceu”, escrito a partir de 1792.
Dia Nacional do Livro – 29 de outubro.
Rubens Pontes, jornalista
Capim Branco, MG
Marilia de Dirceu
Tomás Antônio Gonzaga
As liras de Marília de Dirceu exploram o tema do amor entre dois pastores de ovelhas.
O poema é dividido em três partes, totalizando 80 liras e 13 sonetos.
A primeira parte foi publicada em 1792, a segunda em 1799 e a terceira em 1812.
Na primeira parte da obra, o foco maior é a exaltação da beleza de sua amada e da natureza.
Parte I, Lira I
“Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela.
Na segunda parte, o tom de solidão começa a aparecer, uma vez que o eu lírico vai para a prisão, envolvido no movimento da Inconfidência Mineira.
Parte II, Lira I
“Nesta cruel masmorra tenebrosa
Ainda vendo estou teus olhos belos,
A testa formosa,
Os dentes nevados,
Os negros cabelos.
Vejo, Marília, sim, e vejo ainda
A chusma dos Cupidos, que pendentes
Dessa boca linda,
Nos ares espalham
Suspiros ardentes”
E, por fim, na terceira parte, o tom de melancolia, pessimismo e solidão é notório.
Exilado na África, o seu eu lírico revela a saudade que sente de sua amada:
Parte III, Lira IX
“Chegou-se o dia mais triste
que o dia da morte feia;
caí do trono, Dircéia,
do trono dos braços teus,
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Ímpio Fado, que não pôde
os doces laços quebrar-me,
por vingança quer levar-me
distante dos olhos teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!”
Curiosidade:
A cidade de Marília, no interior de São Paulo, foi batizada com esse nome em homenagem à obra do poeta Tomás Antônio Gonzaga.
Dia nacional do livro
Edição, Don Oleari – [email protected] –