Esvaziamento de uma Esperança
Esvaziamento de uma Esperança, decepção com Lula e o PT
COLUNA PANO DE FUNDO |
POLÍTICA \ BASTIDORES
Edilson Lucas do Amaral
Em 2024, quase vinte anos após sua morte, as palavras de Leonel Brizola ainda ressoam com uma atualidade quase desconcertante.
Em seus últimos escritos, o líder gaúcho expressou uma profunda decepção com Luiz Inácio Lula da Silva, o operário que se tornara presidente.
Naquela época, Brizola já percebia o que muitos viam como uma acomodação de Lula frente aos mecanismos de poder que, historicamente, oprimem as classes populares.
O que Brizola talvez jamais imaginasse era que, duas décadas depois, Lula ainda estaria à frente do país, navegando pelas mesmas águas turvas de um sistema que ele, um dia, prometera transformar.
O texto de Brizola – veja aí num print – era um retrato claro da desilusão. Ele havia apoiado Lula em sua primeira candidatura vitoriosa, conduzindo uma transferência de votos no Rio de Janeiro jamais vista, oferecendo-lhe um apoio absoluto e inquestionável.
Naquele momento, Brizola acreditava na esperança que Lula representava: uma promessa de mudança radical, um sopro de renovação em uma estrutura econômica e política asfixiante.
Mas, como Brizola apontava, Lula “não teve valentia”. Em vez de confrontar o sistema, Lula se acomodou, aceitando os limites impostos pelos grupos dominantes, tanto nacionais quanto internacionais.
O que vemos hoje é, em grande medida, o produto dessa escolha. Lula e o PT, que emergiram das lutas populares e das margens da sociedade, tornaram-se parte do status quo, jogando o jogo de poder que um dia prometeram desafiar.
A alternância entre uma política econômica de “torneira aberta” e outra de “torneira fechada” marcou os governos petistas e consolidou um ciclo que, até hoje, parece difícil de romper. Para muitos, essa adaptação representou a sobrevivência política do partido; para outros, foi a traição de uma esperança.
É nesse contexto que emergem figuras como Jair Bolsonaro e o movimento conservador que ele capitaneou. Muitos analistas e cidadãos reconhecem, ainda que a contragosto, que a onda conservadora que varreu o Brasil nos últimos anos é, em parte, uma reação à decepção com o próprio PT.
Quando a promessa de transformação deu lugar ao pragmatismo, abriu-se espaço para uma divisão profunda na sociedade brasileira — uma divisão que não é apenas política, mas também cultural e moral, refletindo em comportamentos, ideologias e valores que polarizam o país até hoje.
Talvez a maior contribuição de Lula e do PT para a história política brasileira seja justamente esta: a criação de um ambiente de disputa ideológica intensa, que expôs as fraturas da sociedade.
Essa divisão, antes latente, tornou-se visível e pública, criando um cenário no qual a democracia brasileira pode, finalmente, se confrontar com suas próprias contradições e fragilidades. Entre esperanças desfeitas e novas alianças, o que permanece é a incerteza sobre o futuro e o questionamento sobre se essa divisão pode, enfim, levar à verdadeira transformação estrutural que o país tanto almeja.
Hoje, o Brasil se encontra em um ponto de inflexão, confrontado com suas próprias escolhas, divisões e expectativas. No entanto, resta saber se, no final, essa disputa política, econômica e ética nos conduzirá à tão sonhada mudança ou se permaneceremos presos em um ciclo onde as esperanças são periodicamente renovadas, apenas para serem novamente adiadas.
Esvaziamento de uma Esperança
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