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Coluna AQUI RUBENS PONTES
MEUS POEMAS DE SÁBADO
Na sala do 8º andar em apartamento no edifício na Praia do Canto, em Vitória/ES, dois amigos conversavam e o menino de 7 anos, filho de um deles, sentado no chão, manuseava um computador de última geração.
– Curioso – comentou um dos adultos – encontraram num aterro do quintal de uma casa na cidade de Montanha, Norte do Espírito Santo, um dente de andessauro (*).
Dividido entre a mensagem do Google e a conversa ao lado, ainda assim interessado, o menino perguntou:
– Pai, o que é quintal?
(*) Andessauro, animal da família dos dinossauros, com 31 metros, pesando 60 toneladas .
Santa Teresa, dezembro de 1916
– Na ampla área externa da casa de seus pais, Giusepe Ruschi e Maria Roatt, imigrantes italianos de Montescudaio radicados em Santa Teresa, o menino de 6 anos cruzou o terreno sem fronteiras para entrar na mata e se alumbrar com o que ali descobria.
Sem celular, sem internet, o menino Augusto, oitavo de doze filhos de uma família de imigrantes italianos vinda para o Brasil em 1894, desde pequeno manifestou forte interesse pela natureza, realizando sua primeira exploração na mata fronteira aos 6 anos de idade, ali passando um dia inteiro admirando a flora e a fauna, imaginando, segundo confessou mais tarde, o desejo de viver num lugar como aquele, povoado de pássaros e de flores.
Aos 12 anos, passava semanas seguidas na floresta, se alimentando de frutas silvestres, suprimentos em conserva e pequenas caças, coletando e descrevendo animais e vegetais.
Sem o milagre das informações transmitidas pela internet – uma conquista da então inimaginável criatividade da inteligência humana – Augusto Ruschi recebeu instrução elementar no internato Capuchinho de Santa Teresa, mostrando especial interesse cuidando do jardim, distraindo-se brincando com insetos guardados em caixas de fósforo.
Terminou seus estudos primários no Colégio Ítalo-Brasileiro e aos 10 anos frequentou o Ginásio Espirito-santense.
Passou a ler com assiduidade livros de botânica, bioquímica,ornitologia, obras que obtinha no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e no Jardim Botânico, em troca de espécimes de animais e vegetais por ele coletados e enviados.
Aos 15 anos, publicou seu primeiro trabalho científico, relato sobre a descoberta de dois novos gêneros e cerca de 19 novas espécies de orquídeas, escrito em latim, “com uma metodologia inovadora”.
Estudou inglês, francês, latim e alemão, falando com fluência o italiano de suas origens.
Aos 17 anos passou a trabalhar regularmente para o Museu no Rio de Janeiro como coletor de espécimes. Aos 19, depois de haver se debruçado sobre orquídeas, voltou-se para o estudo dos beija-flores, tornando-se um pioneiro no estudo dessas aves que, apontou, eram responsáveis também pela polinização das orquídeas.
Aos 22 anos, foi professor titular de Botânica da Universidade do Brasil (atual URFJ). Não resistiu, porém, ao chamamento das florestas do Espírito Santo e voltou para sua terra de nascimento.
Dirigiu a Estação Biológica de Santa Lúcia, em Santa Teresa, até aposentar-se em 1983. Entrementes, formou-se em Direito e deu assessoria ao Ministério da Educação e ao Governo do Espírito Santo.
Afinal, para Augusto Ruschi, Internet não chegara, nunca foi assim instrumento auxiliar ao correr do tempo, nunca meio de solução para temas para ele apaixonadamente estudados..
Em 1960, a convite do pesquisador norte-americano Crawford Greenewalt, foi aos Estados Unidos para falar sobre seus trabalhos. Muito bem recebido, foi levado a conhecer as mais importantes instituições científicas do País.
Sua visão do futuro o levou a condenar, em 1965, em plena ditadura militar, os planos oficiais de ocupação da floresta amazônica e falou a favor dos povos indígenas.
Foi um dos primeiros homens de coragem a denunciar o início da derrubada da floresta amazônica. A falar em favor dos indígenas, a prever a escassez de água no mundo, o aquecimento global, os efeitos danosos da agricultura em larga escala com fertilizantes e agrotóxicos.
Em 1971, com a denúncia de desmatamento, revelou o desalojamento de mais de 700 grupos de indígenas num projeto de reflorestamento com eucaliptos.
No Espírito Santo, na mesma época, proferiu libelo buscando impedir o projeto governamental de vender madeira da mata nativa para ocupação das áreas com monocultura de eucalipto com danosos efeitos para o solo.
Seu nome voltou a ganhar projeção e respeito internacionais como pioneiro defensor da causa ecológica, incentivando a criação de reservas naturais.
Com recursos próprios, criou a Reserva Biológica da Marinha e incentivou a montagem do Parque Nacional do Caparaó.
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Augusto Rushi, que tanto orgulho desperta em todos nós, recebeu a Ordem do Mérito Dom João VI no grau de Comendador e a Comenda Jerônimo Monteiro – a mais alta distinção do Governo do Espírito Santo – cinco troféus, dezesseis placas e vinte e três medalhas.
Teve sua efígie impressa em cédulas de 500 cruzados novos, que circulou entre abril de 1990 e 15 de setembro de 1994.
Cidadão Honorário de Vitória, foi tema do 13º Prêmio Nacional de Redação, iniciativa do Banco do Brasil em parceria com a Fundação Assis Chateaubriand.
Seu acervo privado foi declarado bem de interesse público e social pelo Conselho Nacional de Arquivos, referendado pelo Ministério da Justiça, através da lei federal 8.917, de 13 de julho de 1994. Foi a ele concedido o título de Patrono da Ecologia no Brasil.
Morte
Foi numa viagem ao Amapá, pesquisando beija-flor, uma de suas grandes paixões, que Augusto Rushi foi acidentalmente envenenado por sapos dendrobátideos.
Nunca se recuperou.
Em janeiro de 1986, reuniu-se com índios no Parque da Cidade, no Rio de Janeiro, para um ritual de purificação e cura dirigido pelo lendário cacique Raoni e o pagé Sapaim. A Pagelança durou três dias, com repercussão internacional.
As hemorragias cessaram, as tonturas e as dores desapareceram. Mas as melhoras duraram pouco. Seu estado de saúde voltou a piorar. Morreu no dia 3 de junho de l986.
No dia 5 foi sepultado no solo da Reserva Biológica de Santa Lúcia, coincidentemente “Dia Mundial do Meio Ambiente”. Deixou para a posteridade 400 artigos e 20 livros científicos e acima de tudo o magnífico exemplo de vida com sua visão de futuro.
A Coluna deste sábado rende homenagem a essa singular figura da História cultural do Espírito Santo com reconhecimento internacional, falecida no mês de junho do ano de 1986.
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Gustavo Ruschi se antecipou ao tempo, sem contar com os atuais instrumentos de pesquisa, e assombrou o mundo com suas descobertas.
Orquídeas e beija-flor foram assuntos de seus estudos e revelações. O Portal Don Oleari por esta Coluna, já abordou seus estudos sobre orquídeas (www.donoleari.com.br).
Uma próxima abordagem dos seus estudos será sobre o beija flor, entre eles a espécie “topetinho vermelho”, a menor ave do mundo, com 70 mm e pesando 1,2 g.
Rubens Pontes, jornalista
Capim Branco, MG
Coração
Castro Alves
O coração é o colibri dourado
Das veigas puras do jardim do céu.
Um – tem o mel da granadilha agreste,
Bebe os perfumes, que a bonina deu.
O outro – voa em mais virentes balças,
Pousa de um riso na rubente flor.
Vive do mel – a que se chama “crenças”,
Vive do aroma – que se diz “amor”
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Editado por Don Oleari – [email protected]
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