Pare
COLUNA MÍDIA AO MOLHO |
Só quem viveu a era do grande rádio ao vivo pode imaginar as deliciosas histórias de Gangana sobre “falhas” em transmissões ao vivo pelo rádio.
Hamilton Gangana
Quando menino, eu ficava intrigado com as placas escritas em amarelo e preto e em xis, colocadas nas passagens de nível dos trens da Central do Brasil. Elas ficaram gravadas, para sempre, em minha memória e são relembradas em situações de alerta, no dia a dia.
Pare, Olhe, Cuidado, Perigo!
Recentemente, fiz comentários sobre as falhas e os erros frequentes, as mancadas que aconteciam quase sempre, durante as transmissões ao vivo, no rádio e na televisão, naqueles tempos sombrios do “fogão a lenha”.
Falhas e erros eram aceitos com certa naturalidade e até com paciência: “Fazer o que?
Muitas delas se transformaram em gozações no boca a boca, como hoje viralizam no mundo da internet e atingem milhões de internautas em questão de segundos. No passado, sem contar com os recursos da tecnologia, tudo era mais lento e ao vivo, correndo-se mais riscos – nem sempre podendo ser amenizados com o clássico pedido de desculpas por “nossa falha técnica”.
É bom lembrar também que algumas falhas, as menos graves, passavam despercebidas por ouvintes e telespectadores.
Conhecido locutor da rádio Guarani começava a atuar exatamente às 6 horas da noite, com a “Oração da Ave Maria”. Certo dia, ele embaralhou o texto de abertura, que narrava de cor e de pé, tentou consertar e se perdeu completamente.
O operador de áudio esticou mais o hino religioso de fundo e ouviu-se no ar:
“Puta merda… “C” a ave maria toda”.
O microfone continuava aberto e a sujeira foi transmitida a milhares de ouvintes fiéis e a outros fiéis ouvintes. O boca a boca circulou como uma descarga solta:
“Só pode ser coisa do diabo”!
A Guarani trouxe uma super atração para comemorar o aniversário de fundação: o astro italiano de fama internacional, Tito Schipa. Auditório repleto, o apresentador fez a leitura do bem cuidado texto de abertura, e anunciou a presença do cantor, pedindo aplausos, e anunciando a primeira canção, com bastante ênfase:
“Tito Schipa nos brindará com o clássico Catáááári, Catáááári!
Entram os acordes, seguidos de um vozeirão: Cataríííí Catarííííií…
Falha nossa! A rádio Mineira apresentava um programa líder de audiência na hora do almoço: Álbum de Melodias JMS” – 60 minutos de música erudita, com legendas curtas e precisas, lidas por um locutor diferenciado.
Certo dia, o apresentador não apareceu, sendo substituído, de improviso, por uma locutora, chamada às pressas para tapar o buraco.
Encerrada a primeira música, ela anunciou com total insegurança e voz trêmula: “No ar, Álbum de Melodias “JIMIS”.
O atento patrocinador era o industrial Joaquim Mariano da Silva, o JMS da marca.
O homem ligou esquentado, reclamando da falha lamentável, absurda, inacreditável…
Dadas as explicações possíveis, pedidos de desculpas e panos quentes, a temperatura baixou e o programa permaneceu no ar com a chancela do aquecedor JMS, o que mais aquece.
“Rim doente”? Era a pergunta, no ar.
“Tomo Urodonal e vivo contente”, a resposta que um ouvinte, sorteado, na hora, tinha que responder, na lata, sem tempo para pensar.
O número do aparelho era sorteado, aleatoriamente e não divulgado. Uma ouvinte sorteada, atendeu, reconheceu a voz do apresentador e retrucou, com ironia:
– ”Para com isso, Leyy, estou reconhecendo a sua voz”.
E continuou
“Você anda sumido daqui, Levy. Olha, estamos com umas menininhas novas lindas… e você desapareceu, não vem mais aqui”!
O Levy interrompeu a ouvinte no ar:
“Minha senhora, vou repetir: “Rim doente? Se acertar a resposta, ganhará um prêmio…
“Levy, deixa de frescura, vem logo pra cá, vem pra ver as carinhas novas”.
O número sorteado era de um famoso rendez vous.
“Sai um filé acebolado, no capricho e uma brahma estupidamente gelada… Fecha a mesa 13! Aquela voz de garçom em plena ação, o burburinho estranho, típico de bar, ruídos próprios do ambiente, assustaram os ouvintes da rádio e com razão.
Aconteceu o seguinte. Faltavam alguns minutos para o encerramento dos trabalhos, que iam até à meia noite. A emissora associada cumpria o ritual de encerramento, colocando no ar a voz forte e suave do baiano Dorival Caymmi, cantando o acalanto criado por ele:
“Boi/boi/boi/ boi da a cara preta…pega esse menino que tem medo de careta”!
Morrendo de vontade de ingerir uma dose do precioso líquido, o inquieto locutor não se conteve e berrou para o operador de áudio:
“Vou correndo lá embaixo e volto a tempo de fazer o encerramento. Junta duas ou três músicas aí, eu volto para anunciar o “Boi, boi”.
Em poucos minutos, o locutor ligou da rua, avisando que faria o encerramento de onde estava, por telefone. Os estranhos ruídos de bar, os pedidos feitos por garçom e aquele burburinho noturno era do bar Polo Norte, localizado a poucos metros da emissora.
O atento diretor geral da emissora estava de antenas ligadas, ouviu tudo, e aplicou no original infrator um exemplar balão de 5 dias, por “justa causa”. Tempo mais que necessário para ele tomar umas e outras ao som de “boi da cara preta”.
O Boliche Ingleza Levy transformou-se no programa popular de maior audiência da TV Itacolomi na década de 1960. Compradores da rede de eletrodomésticos recebiam cupons para o sorteio que dava direito a jogar o boliche no programa transmitido, ao vivo, às segundas-feiras.
Do auditório da rádio Guarani foi para o da Secretaria de Saúde e de lá para o ginásio coberto do Minas Tênis. Chegou ao estádio Independência, no Horto.
No encerramento da série, de grande sucesso, em 1965, além dos prêmios tradicionais – geladeiras, televisores, máquinas de lavar, dormitórios, copas, grupos estofados, e uma infinidade de eletroportáteis – foram incluídos dois carros Volkswagen zerinho, causando um verdadeiro alvoroço.
Mais de 10 mil pessoas se aglomeraram nas arquibancadas do Indepa, ávidos por levar para casa um prêmio espetacular, o carro do ano.
Campo lotado, o público ansioso, começou a acenar, pedindo para descer e ocupar a pista vazia, ao redor do piso gramado, onde foi instalado o praticável para o palco, câmeras de tv e exposição dos prêmios, com destaque para dois reluzentes automóveis, vistos de portas abertas, sob fortes canhões de luz.
Com autoridade de dono da empresa patrocinadora do evento, um diretor fez sinal de mão, autorizando o público a descer, e o gesto impensado quase terminou em em uma dolorosa tragédia.
Uma avalanche de gente correu em direção das escadas provisórias, de madeira, preparadas para suportar apenas duas pessoas de cada vez.
O que se viu foi uma turba de pessoas tentando passar, ao mesmo tempo, amontoadas e se empurrando. As frágeis escadas desmoronaram, provocando escoriações e lesões em várias pessoas. As câmeras da Itacolomi mostraram o acidente.
O programa foi interrompido e, em sua volta ao ar, Dênio Moreira acalmou os telespectadores, com a situação controlada, forneceu os nomes das pessoas levadas ao HPS, por sorte, nenhuma com perigo de vida.
As câmeras identificaram os felizes ganhadores de dois carros zero, num programa que sacudiu a cidade, transmitiu muitas emoções e quase uma grande tragédia (Hamilton Gangana).
Hamilton Gangana é publicitário, Belzonte, Minas Gerais.
Exibido em: 01/04/2015
A Guarani FM, emissora do grupo Diários Associados, sai do ar no dia 1º de maio para dar lugar a rádio evangélica Feliz FM.
A notícia vazou nas redes sociais e teve repercussão entre os ouvintes, que lamentam a perda de uma rádio reconhecida pela programação musical e cultural diversa e de qualidade.
O Agenda repercute o impacto da perda da rádio para a cena mineira e também fala sobre os aspectos legais que permeiam as concessões de radiodifusão no Brasil. Exibido em: 01/04/2015.
Pare
Edição, Don Oleari – [email protected] | https://twitter.com/donoleari
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