Serra
Vem aí dias piores.
O tempo adiado até nova ordem
surge no horizonte (Ingeborg Bachmann)
Torna-se cada vez mais visível o crescimento econômico –
empregos e renda- e populacional do município da Serra,
ultrapassando os dados da capital e das demais cidades da
metrópole.
Viadutos, túneis, obras públicas e negócios privados
ocupam ruas, avenidas, as muitas áreas disponíveis no
planalto de Carapina e atraem, cada vez mais, os
moradores jovens e as famílias dos municípios vizinhos em
busca de oportunidades e do maior acesso à casa própria.
Serra
Em uma metrópole dispersa e fragmentada, onde as
identidades locais/parciais não conseguem mais gerar ou
somar uma centralidade que articule a economia, a cultura
e os valores de uma cidade expandida, a cidade/município Serra
poderá pensar um projeto capaz de mobilizar a sua
população local e metropolitana para tornar-se o polo
principal do desenvolvimento regional?
Vitória, capital da capitania, do estado e centro dinâmico da
metrópole por décadas, conseguiu manter esta posição
dominante, através da invenção e implantação de projetos
inovadores que mantiveram o seu papel central e posição
privilegiada, política, econômica e social.
Assim foi em cada tempo, desde a velha república, com a
proposta da renovação urbana de Saturnino de Brito,
econômica de Jeronimo Monteiro e Florentino Avidos,
trazendo o porto e os negócios comerciais e portuários
para a cidade, retificando a rua do comércio, construindo
novos teatros, e a partir da década de 1950 implantando a
universidade estadual, depois UFES, o porto e usina de
Tubarão.
Todos os esforços públicos e privados foram feitos para
ampliar a sua centralidade, abrigar os edifícios da
administração pública e prover a moradia das classes
médias e burguesas.
Nas ultimas décadas, por motivos vários, novas pontes, o
preço da terra e imóveis, a dispersão populacional,
industrial e de serviços, foram reduzindo o papel
econômico e simbólico do centro de vitória, sendo
substituídos, seus usos, pelas novas localizações,
shoppings, ruas de comércio e entretenimento, espalhadas
nos vários munícipios.
A extensa praia de Jacaraípe, Serra/ES, ao norte da capital, Vitória.
O cais das artes, inconcluso, espelha a derradeira vontade
de dotar Vitória de um lugar da cultura e das artes, que
mantivesse a sua posição central, fortalecesse suas
relações com o país e o mundo, recolhesse, trocasse,
produzisse e veiculasse novos sentidos e significados que
imantasse o futuro da nossa quase metrópole.
Por outro lado, o crescimento populacional da Serra se faz
com habitantes de várias origens, sem vínculos locais,
atraídos pela vida segura em condomínios fechados ou
bairros isolados, pela oferta de empregos e um ambiente
favorável a pequenos negócios, embora a economia ainda
seja alavancada pelo complexo porto indústria da ponta de
Tubarão.
A conformação do território e o modo disperso da ocupação
residencial e comercial reduz o uso de bicicletas e viagens
a pé, e associados a um precário sistema de transporte
coletivo, estimulou ou exigiu deslocamentos por veículos
privados, impactando os sistemas viários local e
metropolitano.
Viadutos e túneis logo surgiram como
soluções imediatas, estimulando ainda mais o uso dos
carros e fortalecendo um modo urbano fragmentado com
fracos laços identitários de base territorial ou paisagístico.
Esta particular estrutura espacial, suportada apenas por
vínculos esporádicos e estruturada na banalização da vida
comum, vividas em redes sociais e condomínios fechados,
será fator impeditivo para que a cidade da Serra possa
liderar uma nova centralidade da metrópole?
Seus novos e futuros moradores conseguirão, juntos,
refazer ligações, retomar experiências, fortalecer múltiplas
identidades, e forjar, a partir das perdas em comum, uma
comunidade de interesses e valores que explorem futuros
igualitários?
Ou desfeitas as magias, as necessidades, os gostos e os
sentidos dos centros urbanos, a Serra e a metrópole se
contentarão com lugares provisórios, locais de temporários
eventos, submetidos às lógicas comerciais, interesses
privados e aos imediatos prazeres sensoriais?
Kleber Frizzera
Maio 2023
Kleber Frizzera
Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (1971) e mestrado em Arquitetura pela Ufes Universidade Federal do ES (1998). Foi secretário municipal de desenvolvimento da Prefeitura de Vitória/ES (2006/2012) e professor adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo ( 1978/2015) – https://www.ufes.br/. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente em projetos de arquitetura, arquitetura teoria e crítica, arquitetura áreas centrais, planejamento territorial e renovação urbana.
https://www.facebook.com/oswaldo.oleariouoleare
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