Vitória
As árvores começam a verdejar,
quase como se algo fosse dito… (Philip Larkin)
Os resultados preliminares do censo IBGE 2022 lançaram uma grande preocupação sobre o futuro da cidade e dos moradores de Vitória.
Enquanto o conjunto dos 5 municípios Vitória, Serra, Vila Velha, Cariacica e Viana, cresceu no período 2010/2022 em torno de 16 %, passando de 1.565. 422 para 1.818.918 habitantes, Vitória teve um acréscimo populacional de apenas 1,1%, menos de 4.000 habitantes, passando de 327.801 a 331.785 habitantes. Neste mesmo período, Serra cresceu 33,5 %, Vila Velha 19,1%, Cariacica 7,6%.
De 2010/ 2022, esta aglomeração urbana teve um aumento populacional acima da média do estado, que foi de 13%, crescendo a concentração em torno da metrópole, que abriga, atualmente, 46,1 % dos moradores do Espírito Santo.
Embora preliminares, estes dados permitem pensar e examinar algumas hipóteses para a situação particular de Vitória:
1.Encarecimento do valor dos imóveis – compra e aluguel – e pouca ou nenhuma oferta de habitação social para atender os setores populares/minha casa minha vida.
2.Crescimento e diversificação da oferta de empregos, serviços e comércio nos municípios vizinhos. Assim, segundo novo Caged, no período de Novembro 2020/Novembro 2022, o aumento do emprego formal foi de 14,4% em todo o estado, 10.8%, em Vitoria, 17,6 % em Vila Velha, 15 % em Serra e 13% em Cariacica.
O estoque de empregos nestes dois anos dos três maiores municípios tendeu a se aproximar: em novembro de 2022 Vitória contava c0m 150,1 mil empregos, Vila Velha 100,2 mil e Serra com 144,1 mil empregos, embora Vitória ainda ofereça, em percentagem e valores, os mais altos salários das região.
- Ampliação do número e do uso de veículos individuais – carros, uber, bicicletas e motos – estendendo a capacidade e alternativas de deslocamento intraurbano – casa, trabalho, ensino, entretenimento da população metropolitana e consequente das escolhas do local de moradia e trabalho.
4.Mudancas das composições, perfis e relações familiares, reduzindo a necessidade de habitar em locais próximos ao núcleo familiar expandido.
- A pequena iniciativa da prefeitura municipal em promover desenvolvimento econômico local- novos negócios, renda e empregos-, e os reduzidos investimentos de melhorias de condições de infraestrutura e acessosa os morros a cidade.
Consequências
1, Envelhecimento médio da população.
2.Concentração de habitantes de maior renda: empresários/ rentistas/ profissionais liberais e o aumento das desigualdades sociais e empobrecimento dos trabalhadores, vivendo de empregos provisórios e precários.
3, Perda de dinamismo econômico, resultado de um capital local avesso a riscos, que investe prioritariamente no rentismo, imóveis, ações e fundos, ou fora do estado e mesmo do país.
4.Aumento de número e percentagem de imóveis vazios ou deixados subutilizados, tanto corporativos como habitacionais, e a consequente redução do número demoradores/ domicílios.
- Esvaziamento econômico ea redução de população do centro histórico e muito provavelmente dos bairros populares tradicionais: Maruipe/Santo Antonio/Vila Rubim/Caratoira/Jucutuquara.
6.Mudanças profundas nas demandas dos serviços públicos- saúde, lazer e educação- pela rápida alteração da pirâmide populacional, menos crianças, mais velhos.
- O menor custo da moradia e a sensação crescente de insegurança faz, que os condomínios fechados (das mais variadas classes) nos municípios vizinhos, se tornem mais atrativos às jovens famílias.
A metrópole está se estendendo dispersa e fragmentada junto ao litoral, em multisegmentados centros, aumentando as distâncias e tempos das viagens entre os bairros e cidades vizinhas, desagregando o partilhamento, pertencimento e identidade de um possível lugar comum, a Grande Vitória.
KleberFrizzera –
Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (1971) e mestrado em Arquitetura pela Ufes Universidade Federal do ES (1998). Foi secretário municipal de desenvolvimento da Prefeitura de Vitória/ES (2006/2012) e professor adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo ( 1978/2015) – https://www.ufes.br/. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente em projetos de arquitetura, arquitetura teoria e crítica, arquitetura áreas centrais, planejamento territorial e renovação urbana.
09/1/2022
Patrimônio da Penha terá 6 dias do projeto “Vozes, Violas, Tambores & Violões”